Traumas psicológicos trazem consequências emocionais e físicas. Quem passou por um trauma geralmente lembra da situação com certa frequência e o sofrimento vivido vem à tona fazendo com que a pessoa reviva o momento. Angústia profunda, sensação de estar preso, fobia, isolamento, raiva, agressividade, depressão, dificuldade nos relacionamentos interpessoais são algumas consequências de um trauma.
A questão é que a pessoa também pode apresentar sintomas físicos como enxaqueca, fibromialgia, síndrome do intestino irritável, amnésia psicogênica, tontura, sudorese, distúrbio do sono e outros. ''O trauma é um estresse crônico porque a pessoa que passa por uma situação assim fica reincidindo, lembrando da ocasião, e acaba ficando o tempo todo em estado de alerta, por isso desenvolve uma porção de sintomas que caracteriza o estresse pós-traumático'', conta a psicóloga Dorotéia Murcia Souza.
As terapias com psicólogos são eficazes na superação de traumas, mas a psicologia convencional costuma ser um tratamento de longo prazo. Uma das técnicas usadas nesta área é uma abordagem psicoterápica chamada EMDR, ou Movimento Ocular, Dessensibilização e Reprocessamento (sigla em inglês). A técnica consiste em acessar as memórias traumáticas do paciente, dessensibilizá-lo para a ocasião e reprocessar o entendimento dele referente àquelas memórias. Este tipo de tratamento dura em média 15 sessões.
Procedimento
Todo o processo é feito através do movimento dos olhos, como explica a psicóloga. ''Quando dormimos entramos no sono profundo, o sono REM. É nesta fase que o cérebro reprocessa as informações do dia e isso se faz através do movimento dos olhos. Durante a sessão de EMDR, fazemos estes movimentos para chegar até as memórias traumáticas e tratar o paciente''. Segundo ela, a técnica é usada também para tratar pessoas que apresentam síndrome do pânico, medos e fobias, distúrbio do sono e problemas referentes à autoestima.
O método transmuta o pensamento negativo peculiar das pessoas traumatizadas ou estressadas em positividade. A psicóloga explica que as situações traumáticas fazem com que as pessoas acreditem em coisas que não são positivas. Depois da dessensibilização do incidente é feita a instalação de uma nova crença no paciente referente àquele trauma.
De acordo com Dorotéia, o EMDR não é hipnose e o paciente fica consciente durante toda a sessão. ''Trabalhamos com a estimulação dos dois hemisférios cerebrais, o lado direito é responsável pelas emoções e o esquerdo pelo reprocessamento. No decorrer das sessões, dessensibilizamos a situação e a pessoa passa a conviver com a lembrança daquele momento mas sem as reações negativas associadas. Isso acontece porque a pessoa reprocessa o trauma'', explica. Ela acrescenta que a abordagem preserva o paciente, já que ele verbaliza muito pouco e não precisa contar exatamente a situação traumática. ''O que vale é o reprocessamento que é feito através do movimento dos olhos'', completa.
Para as pessoas que não podem mexer os olhos, por conta de algum problema de saúde, a técnica pode ser feita com sons ou estimulação tátil. ''O importante é conseguir acessar a região do cérebro responsável pela memória'', explica. O tratamento de EMDR é feito em fases e inclui um protocolo. Nas primeiras sessões, o paciente precisa responder vários questionários de acordo com suas memórias e sentimentos. Como o trabalho é feito com as lembranças do incidente, Dorotéia explica que há algumas contraindicações. ''Pessoas com epilepsia, psicose aguda, transtorno bipolar grave que não estejam medicadas e estáveis não podem ser tratadas com a técnica porque precisamos reeditar as emoções'', afirma.
O trabalho do cérebro continua mesmo após a finalização das sessões, por isso a psicóloga afirma que é comum aparecerem lembranças e detalhes do momento traumático durante os sonhos. Ela ressalta que o EMDR trabalha a tomada de consciência de que as experiências vividas estão no passado e não são mais perturbadoras. ''Quando a pessoa tem uma crença negativa sobre determinado momento ela fica limitada àquilo, já a crença positiva é libertadora'', conclui.