O Dia Nacional de Doação de Órgãos, celebrado em 27 de setembro, foi instituído pela Lei 11.584 de 2007 para conscientizar a sociedade sobre o tema e fazer com que as pessoas conversem com familiares e amigos a respeito. A taxa de recusa no Paraná, ou seja, quando paciente é viável em termos clínicos e a família decide não doar, é de 21%. Índice bem abaixo da média nacional, que chega a 40%. Porém, a fila de pacientes à espera de um transplante segue alta. Atualmente, em todo o País são 47 mil pessoas, sendo 2.459 no Paraná.

Entre eles está o londrinense Matheus Henrique Leite de Oliveira, 17. O estudante do ensino médio pretende cursar e atuar em psicologia hospitalar porque desde fevereiro de 2020 os temas em saúde têm feito parte de seu cotidiano. “Foi tudo tão rápido e, às vezes, parece que a ficha ainda não caiu. Estou tentando digerir. Eu nem sabia o que era hemodiálise”, diz o jovem, que após vários episódios de febre passou por consultas médicas e exames até receber o diagnóstico de doença renal crônica.

"Minha mãe está fazendo um último exame e, por enquanto, a esperança está com ela”, conta Matheus de Oliveira, que tem doença renal crônica e está na fila de transplante
"Minha mãe está fazendo um último exame e, por enquanto, a esperança está com ela”, conta Matheus de Oliveira, que tem doença renal crônica e está na fila de transplante | Foto: Roberto Custódio

Diferente de outros órgãos, parte do fígado e o rim podem ser doados em vida. Sendo assim, os pais de Oliveira (Daniela Leite e Casimiro Pinto de Oliveira Neto) começaram a fazer exames para avaliar a compatibilidade. “Meus irmãos são menores de idade e não podem ser doadores. Alguns exames do meu pai tiveram alterações e a doação dele foi descartada. Minha mãe está fazendo um último exame e, por enquanto, a esperança está com ela”, conta.

Em três dias da semana, Oliveira fica quatro horas conectado a uma máquina de hemodiálise. “O que escuto de outros pacientes é que a espera na fila é longa. Muitas pessoas não têm noção da doação de órgãos ou têm medo, o que é normal. Só que se elas soubessem o quanto isso vai mudar totalmente a vida de outra pessoa, talvez começassem a pensar diferente. Se eu recebesse um rim hoje, minha vida mudaria radicalmente. A hemodiálise limita a minha alimentação, viagens de longas distâncias. Faça chuva ou sol, eu tenho que estar na máquina. Não posso faltar”, desabafa.

DÚVIDAS E PANDEMIA

O enfermeiro João Coutinho, da CIHDOTT (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) da Santa Casa de Londrina, explica que nem todas doações acabam tendo efetividade de transplante por questões clínicas como, por exemplo, sorologia positiva para HIV, certos tipos de neoplasias, disfunção renal, dengue e Covid-19. “A Covid é descarte absoluto”, afirma.

A enfermeira do serviço de transplantes da Santa Casa, Thais Xavier Marinho Ferreira, também comenta que a pandemia alterou bastante os transplantes. “Tanto pela questão da não possibilidade de doação quanto nos pacientes transplantados, pois eles devem fazer uso de medicação imunossupressora, o que exige um cuidado extremo com a saúde”, diz.

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ESTATÍSTICAS

Estatísticas do SET/PR (Sistema Estadual de Transplantes) mostram que em 2021, até o mês de julho, a OPO (Organização de Procura de Órgãos) de Londrina registrou 164 notificações e 35 doações efetivas. Também neste ano, a macrorregional de Londrina realizou 78 transplantes, mas somente de córnea.

Ferreira explica que quando há a indicação de transplante, o paciente passa por uma consulta de enfermagem e recebe informações importantes sobre uso de medicação e esclarece dúvidas sobre como funciona a fila no Sistema Nacional de Transplante. Além disso, os pacientes e familiares passam a ser atendidos por uma equipe multiprofissional com serviços de psicologia, nutrição e assistência social.

“Eles têm muitas dúvidas sobre a fila. É importante saberem que a fila é única no País e que quando é ofertado um órgão, é feito um registro no sistema e uma avaliação de compatibilidade. Em seguida, o órgão é ofertado primeiro no Estado onde houve a doação, depois na região sul e por último, em todo o País”, diz.

A Santa Casa realiza transplantes cardíacos desde 1994 e até hoje foram 67 procedimentos dessa natureza. Em relação aos transplantes renais são 370 desde 1985, abrangendo todo o norte do Estado.

CENTRO TRANSPLANTADOR

A Santa Casa de Londrina é um centro transplantador de rim e de coração em toda macrorregional Norte do Paraná. Todos os anos a instituição realiza a campanha Setembro Verde, que foi criada para incentivar e conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos e tecidos.

Imagem ilustrativa da imagem Setembro Verde: é tempo de falar (ainda mais) sobre doação de órgãos
| Foto: Divulgação

“Temos um compromisso com a sociedade, buscando conscientizar o maior número possível de pessoas. Queremos levar informação para nossos dois mil colaboradores com a campanha interna, atingindo indiretamente seus familiares, mas também informar o público através das redes sociais”, conta o enfermeiro João Coutinho, da Comissão de Doação de Órgãos.

Ao longo do mês, um grande painel em formato de livro está circulando pela Santa Casa, Hospital infantil e Mater Dei, para que os colaboradores reflitam sobre o assunto, respondendo à pergunta: “O que é a doação de órgãos para você?”. Já nas redes sociais, médicos e pacientes da Santa Casa estão compartilhando depoimentos como forma de sensibilizar o público sobre a importância da doação.

SAIBA MAIS

Quem pode doar?

Qualquer pessoa, após a confirmação da morte mediante autorização da família.

Doador falecido: São pacientes que foram diagnosticados em ME (morte encefálica), o que ocorre normalmente em decorrência de traumas/doenças neurológicas graves. Há casos em que o falecimento decorre de PCR (parada cardiorrespiratória). Assim após a confirmação da morte e havendo autorização familiar é realizada a doação.

Doador vivo: Qualquer pessoa saudável pode ser doadora em vida de um dos seus rins ou parte do fígado para um familiar próximo (até 4ª grau consanguíneo), porém quando a doação de um rim ou parte do fígado for para uma pessoa não aparentada é necessário autorização judicial.

Quais órgão podem ser doados??

Coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e também tecidos, como: córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões. Ou seja, um doador pode ajudar muitas pessoas.

APÓS A DOAÇÃO

Como fica o corpo?

Os órgãos doados são removidos cirurgicamente e antes de ser entregue a família o corpo é reconstituído condignamente e sem deformidades, podendo ser velado normalmente

ÓRGÃOS DOADOS

Quem recebe?

Os órgãos doados são destinados a pacientes que necessitam de transplante e estão aguardando em uma lista única de espera. Esta lista é fiscalizada pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde e Centrais Estaduais de Transplantes. A seleção de um paciente que aguarda por um transplante, ocorre com base na gravidade de sua doença, tempo de espera em lista, tipo sanguíneo, compatibilidade anatômica com o órgão doado e outras informações médicas importantes. Todo o processo de seleção dos potenciais receptores é seguro, justo e transparente.

Fonte: Sistema Estadual de Transplantes do Paraná

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