A professora Adriana Zani, que coordena as pesquisas com musicoterapia na UTI Neonatal do HU (Hospital Universitário) em Londrina, diz que ao mesmo tempo em que a música pode ser benéfica, ela pode fazer mal se não aplicada corretamente. “O bebê prematuro está em um momento de desenvolvimento do cérebro e se eu utilizar músicas que podem causar agitação pode ocorrer até mesmo um sangramento”, explica.

A fisioterapeuta Jéssika Mehret tem feito sessões de musicoterapia com Gislaine Matos: autoconhecimento
A fisioterapeuta Jéssika Mehret tem feito sessões de musicoterapia com Gislaine Matos: autoconhecimento | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

Por isso, para validar esse trabalho, as pesquisadoras contaram com o conhecimento de Gislaine Moreira Matos. Ela é formada em musicoterapia, além de psicologia e atua em Londrina. Matos detalha que a música é recebida pelo hipocampo, uma região no cérebro responsável pela memória e emoções. “É por isso que a música mexe muito com as pessoas. Só que a música não provoca somente essas sensações, ela abre um canal de comunicação com as pessoas e a ciência tem descoberto que ela modifica o cérebro, promovendo mudanças funcionais”, destaca.

Segundo ela, atualmente não há restrições para a aplicação da musicoterapia, mas evidências científicas têm revelado resultados bastante positivos em TEA (Transtorno do Espectro Autista), hipertensão, dor e lesões no cérebro (como por exemplo, pós-AVC), além dos quadros de depressão, estresse, síndrome do pânico etc.

A fisioterapeuta Jéssika Mehret tem feito sessões de musicoterapia com Matos. Ela, que tem contato com instrumentos musicais desde a infância, descreveu o método como autoconhecimento. Mehret tem experimentado os efeitos da mesa lira (ferramenta terapêutica inovadora que funciona como uma caixa de ressonância). “Música para mim é prazer. Triste ou feliz eu escuto música, mas nunca tinha visto como uma forma de autoconhecimento, de trazer questionamentos sobre si mesmo. Essa experiência tem me proporcionado emoções que nunca tive, como da vez que cheguei a me imaginar voando. A partir daquela sensação surgiu uma série de indagações”, conta.

PRÁTICA INTEGRATIVA

A musicoterapia é um dos 29 procedimentos de PICs (Práticas Integrativas e Complementares) ofertados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). No HU, ela ainda não está implantada de forma rotineira na UTI Neonatal. De acordo com a docente do Departamento de Enfermagem, Adriana Zani, a musicoterapia tem funcionado para fins de pesquisa e o próximo passo é buscar recursos para a compra de aparelhos de DVD e o mais importante, ter uma musicoterapeuta atuando dentro do hospital.

ALZHEIMER

A presença da música no dia a dia de pessoas que têm Alzheimer (doença neurodegenerativa que não tem cura) também vem sendo objeto de estudo, pois há evidências de que elapode ser uma aliada na qualidade de vida desses pacientes.

Uma pesquisa desenvolvida pelo musicoterapeuta Mauro Pereira Anastácio Júnior, mestre em gerontologia pela USP (Universidade de São Paulo), analisou a relação afetiva entre paciente e cônjuge e as músicas que fazem parte da vida do casal. O estudo envolveu quatro casais (um dos parceiros com a doença), que ao longo de 12 semanas cantaram e fizeram pesquisa sobre o repertório deles, as letras das músicas e da época em que as escutavam.

O pesquisador explica que as canções do casal trazem lembranças de situações vividas juntos, amenizam sintomas relacionados à doença e possibilitam mais qualidade de vida, especialmente quando o cuidador é o parceiro.

“A qualidade dos relacionamentos sociais e familiares tem impacto na perda da cognição. Melhorando essa relação, melhoramos a qualidade de vida do indivíduo. Eu observei que a musicoterapia ofereceu benefício para os casais e aliviou sintomas como agitação e ansiedade”, afirma.

A psiquiatra Rita Cecília Reis Ferreira, do programa Terceira Idade do IPQ (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, diz que os bons resultados estão relacionados com a memória musical, que é a última a ser perdida durante a doença. “A musicoterapia é um tratamento não medicamentoso, complementar. Ela tem o benefício de cuidar do bem-estar da pessoa, ajuda na agitação que o paciente pode ter por conta da doença. Ela ajuda o paciente a se comunicar”, explica.

Ainda de acordo com a médica, “quanto mais situações terapêuticas o paciente se inserir, melhor será a qualidade de vida. A musicoterapia precisa ter uma frequência e outras opções interessantes são massagem e fonoaudiologia”. (Com Folhapress)