Cientistas têm concentrado esforços para decifrar e combater o novo coronavírus, sob o olhar atento da população. Afinal de contas, todos querem saber como barrar a disseminação do vírus e como sair de casa sem ter medo de contrair essa doença que já causou mais de 32 mil mortes só no Brasil. A resposta mais cogitada é a imunização através de vacinas, tanto para a ciência quanto para a população em geral. Será que a percepção das pessoas sobre a importância das vacinas está mudando diante da pandemia? São as vacinas a salvação?

Em busca de algumas respostas e para marcar o Dia Nacional da Imunização (9 de junho), a FOLHA conversou com especialistas. O momento é oportuno não apenas pela data, mas pelo fato de que as discussões em torno das vacinas voltaram à cena. A professora doutora Sue Ann Costa Clemens, pesquisadora da Universidade de Siena/Unifesp é enfática ao dizer que “se não for a vacina, eu não vejo outra solução”.

A pediatra e vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, responde que certamente neste momento, a percepção positiva das vacinas aumentou entre a população. “Prevenir uma doença infecciosa transmissível por vias respiratórias sem vacina, eu diria que é basicamente impossível. A gente não consegue. E é uma ansiedade natural de todos querer uma vacina contra o SARS-CoV-2, e por isso, a percepção sobre a importância de se vacinar tem mudado”, afirma.

RECADO

Entretanto, ela lembra que a adesão à vacinação é multifatorial e demonstra preocupação com duas situações atuais: o isolamento social e o imaginário popular de que estar dentro de casa é estar totalmente protegido dessa e outras doenças.

Para Ballalai, o fato de estarmos vivendo uma pandemia não significa que outras doenças infecciosas tenham parado. “As doenças continuam aí e a impressão de que em casa você fica mais protegido de outras doenças, que é verdadeira de certa maneira, faz com que a população não esteja buscando a vacinação. E não enxergar o risco de enfermidades imunopreveníveis nesse momento pode levar a uma maior queda na cobertura vacinal. O recado mais importante para esta data (Dia Nacional de Imunização) é de que a vacinação não pode parar”, ressalta.

COBERTURA BAIXA

Em 2019, a cobertura no Brasil para vacina contra a poliomielite, por exemplo, foi de cerca de 80%. “Essa cobertura baixa deixa o país vulnerável ao retorno da doença”, afirma. Outro caso real é a queda na vacinação contra o sarampo. O MS (Ministério da Saúde) e a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) estimam que quase 40 milhões de pessoas não tenham se vacinado contra o sarampo no Brasil. E por conta da pandemia, a Unicef estima que 117 millhões de crianças em todo o mundo ficarão sem a vacina do sarampo.

“As pessoas precisam entender que o distanciamento social é fundamental para conter o avanço dos casos da Covid-19, mas é preciso incluir na rotina a saída para tomar vacinas, tendo todos os cuidados. Quem tem crianças em casa não deve esperar voltar as aulas para botar as vacinas em dia. Tudo indica que o retorno das aulas se aproxima e está na hora de atualizar o calendário da criança”, ressalta.

FAMÍLIA

A advogada Fernanda Fialho Blessmann guarda até hoje a carteira de vacinação porque sua mãe sempre se preocupou em mantê-la em dia. Agora, ela tem o mesmo cuidado com a carteirinha dos filhos Luigi, 4, e Apollo, 1 ano e 9 meses. Com a pandemia, ela revela que a preocupação com a imunização aumentou.

As crianças Luigi, 4, e Apollo, 1 anos e 9 meses, com os pais: vacinação sempre em dia
As crianças Luigi, 4, e Apollo, 1 anos e 9 meses, com os pais: vacinação sempre em dia | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Fiquei mais preocupada e não via a hora de poder dar a vacina da gripe neles. Embora sempre cuidei das vacinas, acho que neste momento percebemos a verdadeira importância da imunização. E acho que tudo que temos enfrentando com o novo coronavírus será solucionado com uma vacina. Espero que fique algumas lições para a nossa sociedade. Por exemplo, desde o surto anterior (H1N1) eu adotei o uso do álcool em gel sempre”, afirma.

CARTILHA

Para reforçar a importância de manter a vacinação em dia e garantir toda a segurança para profissionais da saúde e a população em geral, será lançada no próximo dia 13, uma cartilha digital “Pandemia COVID-19: o que muda na rotina das imunizações”.

A iniciativa é da SBIm, SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) como parte da campanha “Vacinação em dia, mesmo na pandemia”, que tem como objetivo conscientizar sobre a importância de não deixar de se vacinar no período.

A cartilha contém diretrizes para prevenção à COVID-19 nas salas de vacinação e estratégias de comunicação com a população. As medidas devem ser adaptadas pelos gestores de acordo com a realidade local. O download pode ser feito em sbim.org.br e em selounicef.org.br

Médicos, enfermeiros, profissionais da saúde em geral e gestores da área poderão acompanhar o lançamento através de um webinar gratuito. As inscrições devem ser feitas no site imunizacaopratica.com.br.