Ao relatar os sintomas, através de uma plataforma de conversação, o paciente irá responder a um rápido questionário e terá acesso a um cartão de orientações. De acordo com o quadro de saúde, em situações leves e moderadas, o paciente passa por um acolhimento com um técnico de enfermagem. Quando necessário, é encaminhado para uma teleconsulta, onde será atendido em uma sala virtual.

Esse é um dos caminhos que a tecnologia aplicada aos serviços de saúde vem abrindo para atender um grande número de pessoas de forma ágil, com menor gasto de recursos e em várias linhas de cuidado. De acordo com o Instituto Laura, entidade sem fins lucrativos fundada em 2019 pelo analista de sistemas paranaense Jac Fressatto, o uso da inteligência artificial pode reduzir em 82% a procura por pronto atendimento físico.

Implantado em Guarapuava (Centro) em janeiro deste ano, em parceria com a Prefeitura Municipal, o robô Laura Care já realizou 21 mil atendimentos e, em média, coloca o paciente em contato com o médico, no ambiente virtual, dentro de uma hora. Com a novidade, a população de Guarapuava, formada por pouco mais de 183 mil habitantes, não precisa se deslocar até uma unidade de saúde em busca de orientações médicas, consultas (para síndromes gripais) e acompanhamento automatizado.

Para utilizar a ferramenta, basta acessar os canais de comunicação da Prefeitura via site, aplicativo Fala Saúde ou o WhatsApp. “É uma inteligência de conversão e conseguimos embarcá-la em várias plataformas”, explica o diretor do Instituto, Marco Sanfelice, ao destacar que casos leves e moderados correspondem a aproximadamente 80% da procura total nos prontos atendimentos em todo o Brasil.

“E esses atendimentos são, em grande parte, resolutivos em teleconsultas. Além do atendimento, o médico consegue devolver para o paciente tanto as receitas quanto laudos e atestados”, completa o diretor.

Outra facilidade é a possibilidade de os atendimentos ocorrem fora do horário de expediente. “Estamos falando de uma unidade virtual de atendimento, em que os profissionais de saúde podem estar em suas casas ou até em outras cidades. Na teleconsulta, o médico não precisa necessariamente estar situado em um ambiente hospitalar”, diz.

ESCASSEZ DE MÉDICOS

Em Guarapuava, os pacientes são atendidos no pronto atendimento virtual, por uma equipe formada por 15 servidores da Secretaria Municipal de Saúde e por profissionais de uma clínica de saúde conveniada com a Prefeitura, que disponibiliza médicos de todo o Brasil. Um investimento de R$ 45 mil mensais na tecnologia e de R$ 50 por consulta para a clínica, segundo o diretor do Departamento de Gerenciamento de Sistemas da pasta, Luiz Augusto Klosowski.

“Essa possibilidade surgiu para nós durante um hackthon, realizado no ano passado. O Jac Fressatto foi um dos palestrantes e começamos um diálogo a partir dali. Para o município é muito interessante contar com essa tecnologia porque hoje, em todo o País, existe uma escassez de médicos. Aqui em Guarapuava tivemos concursos para contratação de profissionais, mas não conseguimos suprir essa demanda e a inteligência artificial veio suprir justamente essa lacuna, especialmente no período da pandemia”, comenta Klosowski.

Imagem ilustrativa da imagem Robô funciona como pronto atendimento virtual em Guarapuava
| Foto: Divulgação/Prefeitura de Guarapuava

A coordenadora do programa Saúde Digital, da Secretaria de Saúde de Guarapuava, Moema Rodrigues França, explica que quando o município teve um pico de casos de Covid em 2020, “o sistema colapsou. E foi a partir dessa experiência que corremos atrás de pensar de que forma poderíamos trazer a inovação para que isso não acontecesse mais. Foi então que conhecemos o Laura. Do dia em que assinamos a parceria, foram 12 dias para que a tecnologia estivesse implementada e toda a cidade pudesse acessar”, afirma.

SARA

Para humanizar, a cidade criou um avatar, a “Sara”, que explica o funcionamento da nova ferramenta. Nas três UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) existentes no município, cerca de seis mil atendimentos são realizados mensalmente.

Com o robô Laura, Klosowski acredita no desafogamento desses serviços, apesar de não citar números. “Estamos reestruturando o sistema para atendermos os pacientes crônicos, como diabéticos e hipertensos. As possibilidades para o futuro são enormes a esses pacientes porque foram os mais negligenciados no período da pandemia”, diz.

COMEÇO DE UMA GRANDE HISTÓRIA

Instituto Laura foi fundado em 2019 com o objetivo de democratizar o acesso à saúde através de ferramentas tecnológicas
Instituto Laura foi fundado em 2019 com o objetivo de democratizar o acesso à saúde através de ferramentas tecnológicas | Foto: Divulgação/Instituto Laura

A nova tecnologia aplicada ao robô Laura também está presente nas cidades de São Bernardo do Campo e Catanduva (SP). Com exceção de Guarapuava, os demais municípios contam com a tecnologia por meio de um convênio com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Mas o interesse pelo robô Laura tem avançado em todo o País. Segundo o diretor do Instituto, estados como Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e Mato Grosso já estão considerando o uso da tecnologia.

Para chegar até esses resultados, o robô Laura carrega uma grande história, já contada pela FOLHA. A criação do robô surgiu após Jac Fressatto perder a filha Laura em decorrência da sepse (disfunção de um ou mais órgãos decorrente da presença de uma infecção). O luto impulsionou o desejo do arquiteto de sistemas a criar o primeiro robô cognitivo gerenciador de riscos do mundo, que ajuda a salvar doze vidas por dia e está presente hoje em mais de 40 hospitais no Brasil.

A inteligência artificial lê as informações dos pacientes e emite alertas que são enviados a cada 3,8 segundos à equipe assistencial com objetivo de sinalizar o quadro de pacientes com riscos de deterioração clínica. “O propósito inicial, quando o Laura foi criado em 2014, era o de reduzir as mortes causadas por infecções generalizadas. Com o tempo, percebemos que esse era um modelo altamente replicável para muitos outros casos e que, através dele, seria possível oferecer uma solução para o nosso sistema público de saúde. Foi então que nasceu o Instituto Laura”, conta Fressatto.

1 BILHÃO DE PESSOAS

Desde 2019, o Instituto sediado em Curitiba vem trabalhando com pesquisas para o desenvolvimento de sistemas, com profissionais da área de tecnologia e de saúde. Atualmente, são mais de 3 milhões de pessoas atendidas pela entidade.

“O Instituto tem um propósito, que é o de levar saúde para quem precisa e, assim, atingir 1 bilhão de pessoas. Pode parecer ousado, mas é possível chegar a esse número. O Brasil tem hoje um sistema de saúde público que pode e deve atender 100% da população, mas enfrenta dificuldades. Todo mundo sabe o quanto municípios pequenos sofrem com falta de médicos, fora outros problemas. É aí que entra a tecnologia, possibilitando, por exemplo, reduzir de 60 a 82% o número de atendimentos em casos leves, se comparados com atendimentos presenciais em unidades de saúde”, explica Fressatto .

O Instituto Laura tem como objetivo democratizar o acesso à saúde através de ferramentas tecnológicas. “A história da Laura me trouxe força para encorajar e motivar uma verdadeira revolução na saúde pública. Por meio do Instituto, queremos levar essa transformação, proporcionada pela tecnologia. Não estamos falando de competir com a inteligência humana, estamos falando de uma inteligência que coexiste e amplia a capacidade do ser humano, do profissional", relata.

"Acreditamos que ela não só é possível, como também necessária. Eu prometi para a Laura que levaria o nome dela para todos os cantos por meio da equidade ao acesso à saúde e hoje esse propósito já não é só meu, mas de todos os envolvidos”, afirma Fressatto.

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