Imagem ilustrativa da imagem Residentes da UEL criam vídeo para quem trabalha em casa
| Foto: Divulgação - UEL

Trabalhar em casa tem sido rotina para milhares de brasileiros desde a chegada do novo coronavírus no Brasil. No mês de junho, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou que a migração do trabalho presencial para o home office alcançaria cerca de 20 milhões de pessoas em 22,7% das ocupações nacionais.

A questão é que a maioria das empresas e pessoas não estava preparada para adotar um novo modelo de trabalho e essa mudança vem impactando a saúde física e emocional desses trabalhadores.

“A gente usa a cadeira da sala ou até mesmo o sofá para trabalhar e esses locais não são adequados para o tempo que ficamos em casa trabalhando. A angulação da cabeça, muitas vezes, é incorreta, os braços e cotovelos ficam sem apoio e os pés nem sempre estão adequadamente posicionados no chão. Além disso tem a questão da iluminação inapropriada e o fato de estarmos passando muito mais tempo trabalhando sentados”, observa a professora Sarah Meirelles Félix, do Departamento de Saúde de Coletiva da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Ela e a docente Daniela Wosiack da Silva, do Departamento de Fisioterapia, acompanham o trabalho das residentes Fernanda Freitas Gonçalves Leati e Tatiani Aparecida Silva Fidelis, que tiveram a iniciativa de criar um vídeo educativo (https://www.youtube.com/watch?v=yzrxcKkt_Aw&feature=youtu.be ), pensando justamente na saúde de quem está trabalhando em casa.

“A ideia surgiu inicialmente com a repercussão dos próprios professores que dão assistência para nós a distância sobre o surgimento de dores no corpo. Tentamos facilitar ao máximo os exercícios para que as pessoas consigam realizar sozinhas e temos visto que muitos profissionais da saúde também estão adotando”, comenta Leati.

O objetivo do material audiovisual é apontar medidas para preservar a saúde do trabalhador e prevenir LER (Lesões por Esforços Repetitivos). O vídeo traz exercícios de alongamento e lembretes para cuidar da saúde como fazer pausas de cinco minutos a cada 1h de trabalho ou de 15 min a cada 2h, beber água, se expor ao sol, entre outros.

PAUSAS

“Vale levantar, beber água, fazer exercícios para relaxar a musculatura, oxigenar o corpo e ativar a circulação. Quando a gente fica parado, a diminuição da vascularização resulta no acúmulo de líquido nos membros inferiores e pode ocasionar também um processo inflamatório, causando dor especialmente na coluna cervical, membros superiores e quadril”, acrescenta Félix.

Este é o terceiro vídeo desenvolvido pelas residentes voltado para as pessoas que estão trabalhando em casa. Os primeiros materiais traziam orientações sobre exercícios respiratórios e para a coluna. “Antes da pandemia, os profissionais saíam para trabalhar, paravam para um cafezinho, andavam pelo escritório, mas com a pandemia até o caminhar diminuiu bastante”, comenta Fidelis.

De acordo com a docente do Departamento de Saúde Coletiva, existem muitos materiais que trazem dicas de alongamento para os profissionais, porém, muitos não estão atualizando com o momento atual. “A pandemia disparou nas pessoas algumas mudanças de hábitos necessárias para que a gente não adoecesse de coisas novas, como dores em locais onde não sentíamos antes, por exemplo”, afirma Félix.

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| Foto: Divulgação - UEL

CRIANÇAS

Outro alerta que a professora faz é sobre a posição das crianças durante as atividades escolares. “Porque assim como nós, elas estão adaptadas nas cadeiras, na maioria feitas para adultos, onde não tem apoio para os pés, a coluna não está apoiada, a posição dos membros está incorreta. E, assim, começamos os vícios de postura e detalhe: com menos atividades física diária”, afirma.

DORES E PERDA DE SONO

Os sintomas físicos que se tornaram mais frequentes que o habitual são dores nas costas (58%), o pescoço (75%), fadiga ocular (55%), perda de sono (55%) e dores de cabeça (53%). Estes são resultados de um estudo realizado pela FGVSaúde (Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde) da Fundação Getúlio Vargas em parceria com o IES (Institute of Employment Studies) do Reino Unido e apoio da empresa Sharecare.

Foram ouvidas 533 pessoas entre os meses de junho e julho. A maioria dos participantes eram mulheres (67,9%) e tinham uma idade média de 40 anos. Os dados do levantamento também revelam que 47,7% dos respondentes relataram compartilhar o seu espaço de trabalho com outro adulto, 46% vivem com filhos dependentes menos de 18 anos e 21,2% cuidam de parente idoso.

“Essa mudança trouxe repercussões para a saúde física e emocional das pessoas que exigirão ações efetivas pelos gestores das organizações. Caso contrário, as taxas de adoecimento aumentarão, com redução da produtividade pessoal e organizacional”, avalia Alberto Ogata, pesquisador do FGVSaúde e um dos autores do estudo.

OUTRO ESTUDO

Já o estudo “ConVid - Pesquisa de Comportamento” aponta que 41% dos 45.161 indivíduos entrevistados entre abril e maio deste ano passaram a sentir dores na coluna. A pesquisa vem sendo conduzida pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com o objetivo de identificar como a pandemia tem afetado a vida dos brasileiros.