A OMS (Organização Mundial da Saúde) trouxe, ainda em 2019, a preocupação de que o povo brasileiro é o mais ansioso do mundo. A necessidade de resolver muita coisa, em tempo quase sempre recorde, também é uma característica principalmente daqueles que têm a vida muito corrida e várias tarefas para cumprir.

Imagem ilustrativa da imagem Qual a necessidade de ter pressa para tudo?
| Foto: iStock

Uma mudança nas redes sociais trouxe à tona essa preocupação com a necessidade de o ser humano acelerar tudo. O WhatsApp, agora, tem a opção de executar os áudios de uma forma mais rápida, em até duas vezes. Esse é um dos aplicativos mais usados, inclusive, como ferramenta de trabalho e muita gente ficou feliz com essa possibilidade.

“O que a gente precisa pensar é que, apesar da vantagem, se não é mais uma forma de mostrar que tentamos acelerar tudo. Essa pressa é justificada?”, questiona a médica psiquiatra Regiane Kunz Bereza, de Cascavel (Oeste). Segundo ela, é preciso fazer uma análise sobre conflito existente entre o querer acelerar tudo e deixar de aproveitar os momentos. “Muitas vezes precisamos que as coisas durem o tempo que elas precisam durar. Qual a necessidade dessa pressa toda?”, reforça.

Afinal, essa pressa exagerada pode desencadear doenças como transtorno de ansiedade, por exemplo. Segundo a OMS, são 11,5 milhões de pessoas que sofrem com depressão no País e, até 2030, essa será a doença mais comum no Brasil. A síndrome de Burnout ou esgotamento profissional também vem crescendo. Em 2019, cerca de 20 mil brasileiros pediram afastamento médico por doenças mentais, relacionadas ao excesso de trabalho.

Com a possibilidade de aceleração dos áudios do aplicativo, não só o ritmo da voz, como o tom dela, é alterado. Ou seja, a pressa pode trazer, também, uma falha na comunicação. “Se a pessoa fala devagar, por exemplo, talvez essa seja a forma dela se comunicar. Ela dá uma tonalidade nesta fala, e essa característica se perde com a aceleração”, analisa a psiquiatra.

HIPERVIGILÂNCIA

Já a professora de Psicologia da Unopar Pitágoras Giuliana Temple. de Londrina, ressalta a sobrecarga mental. "Ao acelerar um áudio ou um vídeo, cria-se a sensação de ganho de tempo, mas o que será feito com esse tempo? Provavelmente, ler mais mensagens, ouvir mais áudios, trabalhar mais, gerando uma sobrecarga mental."


De acordo com a especialista, esse tipo de comportamento acaba deixando as pessoas em um estado de hipervigilância, o que pode ser um gatilho para uma crise de ansiedade. "A hipervigilância gera um sentimento desagradável, fazendo com que a pessoa fique em alerta a qualquer perigo oculto. Muitas vezes esses perigos não são reais e acabam prejudicando o estado emocional do ser humano, gerando raiva, frequência cardíaca acelerada, paranoia, inquietação e outras sensações que são características de crises de ansiedade", diz.

FALTA DE EMPATIA

A professora alerta para a falta de empatia das pessoas ao ouvirem o áudio de forma acelerada. "Quando aceleramos o áudio não percebemos algumas características na voz das pessoas, por exemplo, não conseguimos identificar tristeza, alegria ou qualquer outro estado emocional, perdendo essa percepção nas relações." (Com informações da Unopar Pitágoras e psiquiatra Regiane Kunz Bereza)

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