O alerta dos especialistas é que muitos pacientes que tiveram Covid-19 , especialmente aqueles que foram hospitalizados, apresentam algum tipo de acometimento cardíaco
O alerta dos especialistas é que muitos pacientes que tiveram Covid-19 , especialmente aqueles que foram hospitalizados, apresentam algum tipo de acometimento cardíaco | Foto: iStock

Todas as pessoas que se recuperaram da Covid-19 devem passar por uma avaliação cardiológica antes de voltar a praticar atividade física moderada a intensa. A recomendação foi recém-publicada pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) em parceria com a SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte).

O alerta dos especialistas é porque muitos pacientes, especialmente aqueles que foram hospitalizados (entre 20% a 30%), apresentam algum tipo de acometimento cardíaco. “As lesões que ocorrem no coração podem ser leves ou importantes. Nossa preocupação é que quando se faz algum processo inflamatório no músculo do coração, o que chamamos de miocardite, por exemplo, surgem cicatrizes que podem gerar arritmias”, explica Laércio Uemura, cardiologista do Centro do Coração em Londrina.

Mesmo que o indivíduo tenha apresentado uma forma leve da doença, inclusive os assintomáticos, a recomendação continua valendo, de acordo com o especialista. “Como é uma doença nova, a gente não tem bem definido ainda o quanto o retorno às atividades físicas pode impactar. Uma outra preocupação que temos é que dependendo da gravidade do acometimento da Covid-19, essas repercussões podem ser tardias. Tem pacientes com 40, 60 dias depois de curados que ainda apresentam manifestações”, afirma.

FADIGA

Um estudo da UEL (Universidade Estadual de Londrina) em parceria com a SMS (Secretaria Municipal de Saúde), aponta que 61,2% dos 446 pacientes consultados após um, dois, seis e 12 meses do diagnóstico de infecção pelo coronavírus, relataram algum tipo de sintoma persistente.

Dentre os principais estão: fadiga (24,4%); perda de olfato (21,3%); dor de cabeça (16,4%), dores no corpo (13,7%) e falta de ar (8,5%). A pesquisa integra o Projeto PAPCov e os resultados apresentados são parciais. O estudo está em andamento e a análise completa será concluída no segundo semestre de 2021, já que os pacientes precisam responder o questionário até 12 meses do diagnóstico da doença.

Um outro estudo realizado na Alemanha avaliou 100 pacientes que se curaram da Covid-19 por meio de exames de ressonância magnética. “Do total, 78% tinham algumas alterações em menor ou maior grau, mas o que chama atenção é que somente 33% de todos esses pacientes tinham ido ao hospital, ou seja, 67% não foram nem hospitalizados e 18% eram assintomáticos. Isso mostra que o número de comprometimento cardíaco é alto mesmo”, ressalta Uemura.

AVALIAÇÃO

Para avaliar se as pessoas que se recuperaram da doença têm alguma sequela cardiopulmonar, os cardiologistas recomendam um exame físico e um eletrocardiograma, além de considerarem o histórico clínico de cada paciente.

“Para os indivíduos que vão praticar um esporte de maior intensidade como, por exemplo, uma corrida, mesmo que não seja de alta performance, o ideal é que se faça pelo menos um teste ergométrico. E para os que foram hospitalizados é importante fazer um eletrocardiograma e eventualmente, gravação do ritmo cardíaco de 24h. Em alguns casos, uma ressonância magnética também será indicada porque atualmente é o melhor exame para ver o músculo do coração”, detalha.

Quem teve a doença, mas não apresentou sintomas a orientação é que o retorno à atividade física seja gradativo, após 14 dias de isolamento social e avaliação médica. “Essa instrução vale para todo quadro viral, como nos casos de gripe, pois em um processo infeccioso viral existe um risco maior do paciente desenvolver, ao praticar um exercício físico intenso, uma inflamação no coração que pode evoluir para arritmia e quadro de insuficiência cardíaca, por exemplo. Diferente do exercício quando o paciente não está com infecção. Ele melhora a imunidade por uma série de fatores”, completa o médico.

Praticante de crossfit relata cansaço e dor de cabeça

A mudança no condicionamento físico foi o alerta para a dentista Marisa Mitiko Tanaka, de 29 anos, buscar uma avaliação médica. Ela recebeu o diagnóstico confirmado para Covid-19 no dia 31 de dezembro e teve perda de olfato e paladar, dor de cabeça e mal-estar.

“Fiquei em isolamento durante dez dias e me recuperei bem. Como eu já praticava Crossfit há um ano, durante duas vezes por semana, resolvi voltar. Estava sentindo falta de fazer exercício físico”, conta.

No retorno às aulas, Tanaka começou a sentir dor de cabeça e muito cansaço na execução de exercícios que exigem maior esforço. “Fui ao médico, mas eu não sabia dessa recomendação. Agora, estou fazendo uma atividade mais leve para ter um retorno gradativo e até o resultado dos exames”, diz.

O cardiologista em Londrina, Laércio Uemura, conta que tem atendido muitos pacientes que tiveram Covid-19 e pede para que as pessoas fiquem atentas aos sintomas de fadiga, falta de ar, palpitação, dor no peito e sudorese repentina.

“Os pacientes que apresentam esses sintomas devem fazer uma avaliação completa. Dependendo dos resultados, entramos com medicação. O check-up se tornou ainda mais importante em meio à pandemia. Temos esse novo vírus que está hospitalizando e provocando a morte de muitas pessoas, mas as doenças cardiovasculares continuam registrando alta mortalidade”, pontua.