Sem exceção, a pandemia de coronavírus impôs uma mudança geral de comportamento, obrigando à implementação de diversas medidas restritivas para evitar a disseminação da doença. Em um mundo moldado a esta nova realidade, a prática de exercícios físicos também exige uma série de cuidados adicionais para garantia do bem-estar e preservação da saúde, principalmente quanto à máscara, item que se tornou indispensável. No Paraná, a utilização do acessório é obrigatória, sob risco de multa.

“O uso de máscara precisa ser constante. Não se deve tirar para o exercício físico. O que tem que fazer é ficar alerta, porque com o exercício vai aumentar a frequência respiratória. Isso faz com que a máscara umedeça com mais facilidade. Se perceber que ela está úmida, tem que ser trocada”, indicou Aline Stipp, doutora em microbiologia e docente do curso de medicina da PUC (Pontifícia Universidade Católica) campus Londrina.

As academias em Londrina estão autorizadas a funcionar, entretanto, a utilização de áreas públicas de lazer, como lago Igapó e Zerão – tradicionais pontos de atividades – está proibida. Mesmo assim, estes espaços ainda continuam sendo frequentados por algumas pessoas. Recentemente, a prefeitura anunciou que avalia a flexibilização, entretanto, não deu prazo para uma decisão final. Enquanto isso não acontece, quem prefere manter o hábito de treinos fora de casa tem utilizado as ruas ou até estradas rurais.

Mesmo ao ar livre, ter cuidado é fundamental, respeitando todas as regras de segurança contra a Covid-19. “Os exercícios físicos em lugares abertos devem ser com o distanciamento orientado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de um metro e meio a dois metros. Fazer as atividades em grupo não é recomendado”, advertiu a docente. “Se for um grupo pequeno e manter o distanciamento mínimo, por exemplo, na academia, ainda pode ser. É como se treinasse ‘cada um no seu quadrado”, ponderou.

Imagem ilustrativa da imagem Por que usar máscara durante exercícios é essencial?
| Foto: Folha Arte

INTENSIDADE

A máscara funciona como uma barreira física entre o sistema respiratório e o ar que está sendo inspirado e expirado. Isso faz com que a pessoa precise forçar a musculatura respiratória, cansando mais com a mesma carga que faria sem o item. Qualquer sinal de desconforto, como tontura e cansaço desproporcional, necessita de atenção. “O objetivo neste momento é buscar o bem-estar físico e emocional e não, obrigatoriamente, o emagrecimento ou melhora do desempenho atlético”, apontou o pneumologista da rede de hospitais São Camilo, de São Paulo, José Rodrigues Pereira.

O educador físico Julio César Molina Correa sugere a opção por uma máscara confortável, que não dificulte tanto a passagem do ar, mas que não deixe de proteger. “Escolher uma máscara que seja cômoda ao formato do rosto. Isso evita de ficar a manipulado todo momento. É importante diminuir a intensidade se houver dificuldade em respirar, já que o oxigênio é essencial para manutenção de intensidade. Os intervalos (entre os exercícios) devem ser pensados para apoiar neste sentido”, apontou o professor do curso de educação física da Unopar Niterói em Londrina.

Outra dica é se exercitar em casa, servindo-se do próprio corpo, no chamado funcional, ou com objetos simples do cotidiano. Para idosos, que são grupo de risco, este caminho é o mais aconselhado. “É melhor fazer em casa do que não fazer nada. Pode utilizar as funcionalidades do corpo, levantando e agachando, fazendo a flexão de braço em uma parede. Para os idosos, sentar e levantar da poltrona 20 vezes é uma intensidade legal para esta idade”, elencou.

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RETOMADA

Já quem acabou interrompendo as atividades em razão da pandemia e pensa em voltar, tem que ser aos poucos. “Antes de tudo é ter em mente que se está há alguns meses sem treinar, o condicionado não está igual. Por isso, a pessoa tem que utilizar cargas e intensidades mais leves no início”, afirmou Correa. “Quanto à máscara, que se evite retirar e trazer para o queixo, como costumeiramente tendem a fazer. Quando for trocar, que seja corretamente, pela haste na cabeça ou orelhas”, lembrou.

RISCO

Com o isolamento social sendo a palavra da vez, a principal atitude ainda é se manter em casa o maior período possível e, quando for preciso sair, que seja de máscara. “Quanto mais as pessoas irem para o ar livre, pode ser um risco. A história de ‘se passar um carro na rua e a pessoa estiver contaminada’ não procede. A chance é muito pequena. O que deve ser feito é evitar aglomeração, utilizar máscara e fazer a higienização das mãos”, frisou Aline Stipp, que é farmacêutica e bioquímica.

‘ADAPTÁVEL’

Para a auxiliar administrativa Cássia Mara de Oliveira, praticar exercícios físicos ultrapassou a barreira da saúde e hoje é parte fundamental da vida. Há cerca de cinco anos passou a correr e desde então não parou mais. No início, a motivação era a perda de peso. Hoje já integra a rotina. As atividades acontecem, pelo menos, cinco dias da semana, intercaladas entre corridas e funcional na academia.

Cássia Mara de Oliveira: "É um novo normal que já implementei"
Cássia Mara de Oliveira: "É um novo normal que já implementei" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Num período repleto de restrições para prevenção à Covid-19, este dia a dia ativo teve que passar por adaptações para não parar. “Quando fechou praticamente tudo em Londrina, me exercitava somente em casa. Aos poucos, com reaberturas de setores e com todos convivendo com essa nova realidade, passei a correr sozinha na rua, traçando rotas em lugares com pouco movimento. A academia foi adequada para que a pessoa faça aula num espaço só seu, para que não tenha troca com outras em equipamentos”, contou.

Integrante do Core, grupo de corrida de Londrina, também encontrou uma maneira de utilizar proteção confortável e seguir com a corrida. “Já usava bandana ou lenço de corrida por conta das queimadas entre julho e agosto. Traz mais facilidade para a transpiração, respirar. Até me acostumar saía, esquecia e tinha que voltar para buscar. Se encontro colegas na rua não tem o cumprimento de antes.”

Oliveira acredita que enquanto não houver uma vacina que combata o coronavírus, todas essas alterações deverão continuar sendo encaradas com naturalidade. “O ser humano é muito adaptável. Fazer todas as atividades físicas não é o mesmo de antes, porém, é um ‘novo normal’ que já implementei. Dá para conviver com isso”, elencou.

CORRIDAS VIRTUAIS

As últimas semanas ainda têm sido de preparação. Ela tem se programado para participar de provas de corridas virtuais. Nesta proposta, a pessoa faz o trajeto individualmente e calcula a quilometragem e tempo, enviando os dados via aplicativo. “Atividade física é um vício positivo. Quando fico sem, sinto que está faltando algo. Traz inúmeros benefícios, muita saúde, só libera hormônios bons, dá sensação de alegria. Se estou triste, aquilo passa sem perceber. É uma autoterapia, além da mudança estética”, recomendou. (Com Folhapress)