Pesquisadoras da UEL: três anos de estudos e testes  até o lançamento do dermocosmético
Pesquisadoras da UEL: três anos de estudos e testes até o lançamento do dermocosmético | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

A era do minimalismo chegou à cosmetologia. A grande inovação hoje é reunir uma série de funcionalidades em um só produto e se este for um resultado da união entre tecnologia e sustentabilidade, melhor ainda. Esse é um dos caminhos para invadir o poderoso mercado da beleza, em que o Brasil ocupa a 4ª posição entre os maiores consumidores do mundo, tendo movimentado quase US$ 30 bilhões em 2019. Os dados são da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), divulgados em setembro deste ano.

Pesquisadoras da UEL: três anos de estudos e testes  até o lançamento do dermocosmético
Pesquisadoras da UEL: três anos de estudos e testes até o lançamento do dermocosmético | Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

Mas chegar a uma fórmula com tantas propriedades e resultados que se “sentem na pele” não é tarefa fácil. Um grupo de pesquisadoras dos departamentos de Biotecnologia e Ciências Farmacêuticas da UEL (Universidade Estadual de Londrina) passou três anos estudando e realizando testes para desenvolver um produto que acaba de ser lançado no mercado: o Biolevan Sérum.

“O nosso sérum é enriquecido com ativos super hidratantes como a levana, que tem propriedade antioxidante, ou seja, ela vai inibir os radicais livres em 60% e com isso, evitar a oxidação lipídica da pele. De forma resumida, ele vai prevenir o envelhecimento”, afirma Audrey Lonni, docente no Departamento de Ciências Farmacêuticas.

Lonni tem experiência em desenvolvimento de dermocosméticos e explica que a pele absorve todos os agentes agressores, como o sol, a poluição, o ar-condicionado, a luz do celular e computador, entre outros. “A gente não vê esse ‘ataque’, mas toda a população está exposta diariamente a esses agentes que levam ao envelhecimento da pele. Cada célula vai se oxidando e os resultados com o tempo são o surgimento de manchas, rugas, flacidez, falta de brilho”, diz.

Foi partindo desse conhecimento que o grupo focou em um produto com potência hidratante, que agisse como um filme natural e invisível no rosto. “A escolha em desenvolver um sérum é porque ele caiu no gosto brasileiro por ser fluido, de rápida absorção, não obstrui os poros e não é oleoso, pois 90% dos brasileiros têm pele oleosa porque estamos em um país tropical”, completa.

ATIVO INOVADOR

Para fazer a diferença entre tantos produtos nas prateleiras, a participação da professora Maria Antonia Celligoi, do departamento de Bioquímica e Biotecnologia, foi fundamental. Isso porque ela estuda uma molécula específica há mais de três décadas: a levana, que é o principal ativo do sérum que elas desenvolveram.

“A levana é um exopolissacarídeo (molécula constituída de várias unidades menores) microbiano, que é um polímero de frutose. Ao ‘alimentar’ esse micro-organismo com nutrientes, entre eles, o açúcar, ele vai excretar esse exopolissacarídeo e nós coletamos, purificamos e compomos o produto”, detalha Celligoi.

O processo é fermentativo e realizado em um dos laboratórios da UEL. "Por ser um produto desenvolvido a partir de um micro-organismo com fonte renovável, que é a sacarose, ele se torna sustentável. Além disso, buscamos fazer uma embalagem em papel e em vidro porque são recicláveis. Vale lembrar ainda que não há nada de origem animal”, ressalta.

O longo tempo para chegar ao produto final se deu, principalmente, aos testes de estabilidade para saber se o sérum mantém as propriedades hidratante antioxidante por um longo período de tempo. E os resultados atenderam as expectativas do grupo.

“O efeito na textura da pele é imediato. Muitas pessoas que experimentaram citaram, inclusive, um efeito lifting. É o chamado efeito ‘Cinderela’. A gente decidiu se lançar no mercado porque não tem nenhum produto igual a ele. Existem muitos primes e hidratantes, mas não existe nenhum de base biotecnológica. Estamos dentro da academia, trabalhamos muito tempo com isso e temos expertise para desenvolver um produto diferente”, acrescenta Celligoi.

Vale ressaltar que o sérum não dispensa a rotina de cuidados com a pele, como limpeza, aplicação de loção tônica para equilibrar o PH da pele e uso de protetor solar.

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Biotec Ativos

De acordo com as professoras da UEL, o produto Biolevan Sérum só foi possível porque o projeto foi aprovado junto ao Programa Sinapse da Inovação da Fundação Araucária, há cerca de 10 meses. “Foi assim que surgiu a startup Biotec Ativos. Entre dois mil projetos inscritos, ficamos entre os 100 primeiros”, diz Audrey Lonni. O Programa Sinapse tem o objetivo de estimular ações consideradas inovadoras.

A Biotec Ativos está instalada na Aintec (Incubadora Tecnológica da Agência de Inovação) da UEL e é composto também pelas estudantes Gabrielly Terassi Bersaneti (pós-doutoranda em Biotecnologia) e Briani Bigotto (mestranda em Ciências Farmacêuticas).

O Biolevan Sérum está protegido e registrado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e é comercializado com exclusividade pela Pharmadelle Farmácia de Manipulação, em Londrina. Sua aplicação é indicada para homens e mulheres a partir dos 25 anos, duas vezes ao dia. O frasco com 30 ml é vendido a R$ 120 e rende cerca de 30 dias.

Uma reunião virtual com dermatologistas foi realizada no início de outubro para apresentar o produto ao mercado regional. A Biotec Ativos deverá lançar em breve outros dois produtos com o ativo levana: Biolevan Água Micelar e Biolevan Loção Tônica.