São Paulo - Uma pesquisa da Fiocruz, realizada entre abril e setembro de 2020, apontou que o consumo de alimentos não saudáveis, principalmente de doces e chocolates, entre adultos e adolescentes, aumentou durante a pandemia do coronavírus. "São alimentos ultraprocessados, de fácil preparo, convenientes e que agradam muito o paladar por terem adição de açúcar, sal, alto teor de gordura. Na pandemia, também notamos problemas de estado de ânimo, pessoas deprimidas, solitárias, o que causou um estímulo para comer doces", explica Célia Landmann Szwarcwald, coordenadora da ConVid, pesquisa da Fiocruz.

Imagem ilustrativa da imagem Pesquisa aponta aumento de consumo de açúcar durante a pandemia
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A primeira consequência do consumo excessivo de açúcar é o ganho de peso, que aumenta a circunferência abdominal e o risco de desenvolver outras doenças. "Diabetes, hipertensão, esteatose hepática, doenças cardiovasculares, tudo isso aumenta o risco de provocar a síndrome metabólica", diz Ricardo Rienzo, médico endocrinologista do Hospital Santa Catarina.

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A síndrome é um distúrbio no metabolismo, identificado pela associação entre alguns fatores de risco. Dentre eles, alta do triglicérides, pressão alta, aumento da gordura abdominal, níveis altos de colesterol ruim (LDL) e baixos do colesterol bom (HDL).

O médico reforça que o açúcar presente em refrigerantes, doces, guloseimas e chocolates cria um ciclo. Por possuir alto índice glicêmico, o açúcar eleva a produção de insulina e traz uma queda rápida da glicose, que é seguida de mais fome e vontade de comer doce. "O chocolate, principalmente, tem muita serotonina, que nada mais é do que o hormônio do prazer. Então, a pessoa associa o prazer a comer o chocolate."

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A ingestão exagerada não passa desapercebida pelo corpo humano. "Quando você tem a queda abrupta da glicose no sangue, o corpo pede mais e começa a dar sintomas de mal-estar, como dores de cabeça, insônia, oscilação de humor, indisposição", diz a nutricionista do Hospital San Gennaro, Viviane Gomes. Ela explica que o consumo de açúcar também influencia o paladar, fazendo com que a pessoa rejeite alimentos que não sejam tão doces, e pode trazer inflamações na pele e nas mucosas, como dermatites e aftas.

CONSUMO CONSCIENTE

Para um consumo consciente, é importante reduzir as porções de doces diárias, evitar alimentos ultraprocessados, dar preferência aos alimentos in natura e procurar cozinhar as próprias refeições, o que faz com que seja possível adicionar menos açúcar no preparo.

"Uma dica que dou para os meus pacientes que querem saber se estão comendo muito doce é um diário alimentar. Anotar todos os dias o quanto de açúcar está consumindo, se beliscou um doce, adoçou bebida... É um jeito de sabermos se o consumo está muito acima do normal ou não", conta Rienzo.

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SAÚDE BUCAL

Além do risco de desenvolver doenças crônicas, o açúcar em grandes quantidades afeta diretamente a saúde da boca, porta de entrada dos alimentos. "O fator principal do desenvolvimento da cárie é o consumo exagerado de açúcar", diz Sandra Kalil Bussadori, cirurgiã-dentista e conselheira no Conselho Regional de Odontologia.

A cárie é uma desmineralização, que faz com que o dente vá perdendo sua estrutura, o que causa dor e pode se agravar, se não houver tratamento adequado. "Para nossos dentes interfere muito também a consistência dos alimentos, por conta do açúcar aderir mais no dente ou não. Recheios de biscoitos e balas grudentas vão aderir de forma diferente no dente que uma maçã, por exemplo. Além de serem açúcares digeridos diferentemente pelas bactérias", diz Juliana Fanaro, cirurgiã-dentista da ONG Por Sorriso.

Além da redução do consumo, a escovação dos dentes tem papel essencial. "A escovação deve ser feita após cerca de dez minutos das refeições e o fio dental deve ser usado em todos os dentes, mesmo aqueles em que há um espaço menor entre um e outro", reforça Fanaro.

Especialistas recomendam que o açúcar não faça parte da alimentação de crianças menores de dois anos e alertam pais para a presença de açúcar em ultraprocessados. "Muitos produtos têm açúcar escondido, como iogurtes, bolachas, inclusive bolachas salgadas", diz Bussadori.

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