"É incrível como já mudou o pezinho dela", diz Jéssica Lopes, mãe da Helena, de 5 meses, sobre o tratamento pelo método de Ponseti
"É incrível como já mudou o pezinho dela", diz Jéssica Lopes, mãe da Helena, de 5 meses, sobre o tratamento pelo método de Ponseti | Foto: Marcos Zanutto




Se por um lado, o medo e a surpresa envolvem a notícia de que o filho (a) nascerá com pé torto, por outro, há um alívio ao saber da existência do tratamento pelo método Ponseti, que promove a correção funcional completa.


Esses são os dois lados compartilhados por pais que estão no momento, acompanhando o tratamento dos filhos ou que já passaram por essa experiência. Londrina tem uma das maiores taxas de sucesso no tratamento (98%), o que torna a cidade uma referência em correção.

No sábado de manhã (03), um grupo de pais se reuniu para trocar informações e marcar o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Pé Torto Congênito. Promovido pelo Hospital do Coração, unidade Bela Suíça, o encontro contou com uma partida de futsal entre as crianças que passaram pelo tratamento e foi uma oportunidade das famílias trocarem dúvidas e se conscientizarem que se bem feita e acompanhada, a correção é um sucesso.



"Estamos acostumados a ouvir que o tratamento é eficaz, mas vendo essas crianças correndo normalmente e jogando bola, é diferente", comenta Alisson Lopes, acompanhado da esposa Jéssica e da filha Helena, de 5 meses.


O casal recebeu a notícia de que Helena tinha o pé torto congênito em um exame de ultrassom, na 18ª semana de gestação. "Buscamos saber ao máximo sobre o tratamento e com quatro dias de vida, ela já estava usando gesso e um mês depois, fez a cirurgia", lembra a mãe.


Helena usa agora a órtese em tempo integral, mas nos próximos dias passará a usá-la apenas à noite. "É incrível como já mudou o pezinho dela", diz Jéssica, que aproveita para deixar um recado. "É sofrido viver essa situação, mas tem que ter força e fé. É um dia de cada vez. No final dá tudo certo", desabafa.


O ortopedista pediátrico Alessandro Melanda é uma referência no tratamento em Londrina e ressalta que o uso de órtese é uma etapa muito importante para a correção do pé torto. "Sem o uso (da órtese), a taxa de recidiva é de 40% e com ela, esse índice cai para 5%", comenta.


O método Ponseti engloba o uso de gesso (cerca de seis trocas semanalmente), uma pequena cirurgia no tendão calcâneo (em 95% dos casos) e o uso de órtese em tempo integral.
"Após três meses, a órtese passará a ser usada durante a noite até os três, quatro anos de idade", diz o especialista.

Para garantir a eficácia, o tratamento deve ser iniciado até 15 dias após o nascimento. Se por algum motivo isso se protelar, Melanda afirma que o trabalho de correção é dificultado, mas tem as mesmas chances de sucesso.


Ainda de acordo com ele, sem o tratamento, a criança terá dificuldades para andar, praticar exercícios e usar calçados, além de conviver com dor. Sabendo disso, a enfermeira Silvana Machado do Nascimento fez questão de estar presente no encontro com o filho Carlos Emanuel, 10.


Ele usou gesso e depois órtese até os cinco anos. "Essa realidade que muitos pais estão vivenciando agora, fez parte da vida dele e eu acho importante estarmos aqui, mostrando o sucesso e a importância do tratamento", aponta a mãe.


Carlos Emanuel diz não lembrar de usar a órtese, mas conta entusiasmado que não sente dor, que os pés agora estão "retos" e que suas brincadeiras preferidas são jogar bola e tênis.

Carlos Emanuel acompanhou a mãe Silvana, no evento do Hospital do Coração no Dia Mundial de Conscientização do Pé Torto Congênito
Carlos Emanuel acompanhou a mãe Silvana, no evento do Hospital do Coração no Dia Mundial de Conscientização do Pé Torto Congênito | Foto: Marcos Zanutto




No jogo de futsal, Gabriel Sugahara Costa, 10, também mostrou habilidade com a bola. Ele nasceu com pé torto congênito e a mãe Mirian Rosa Sugahara conta que até vivenciar essa situação, nunca tinha ouvido falar da doença.


"É por isso que a conscientização é importante. Temos que mostrar às famílias que a correção é possível e com altas taxas de sucesso", salienta o ortopedista.


Incidência


A incidência mundial de pé torto congênito é de 1 a 2 em cada 1000 nascidos vivos. De acordo com o ortopedista Alessandro Melanda, há uma incidência maior no sexo masculino e a causa é multifatorial.


Segundo ele, pode haver fator hereditário, assim como agentes externos, como a criança ter dificuldade de movimentação intrauterina, entre outros. "Isso ainda não está bem estabelecido", afirma.


Quanto ao diagnóstico, é totalmente clínico, o que significa que a visualização do pé torto intrauterina dependerá do nascimento da criança para confirmação.


O método de Ponseti se popularizou nos Estados Unidos e chegou no Brasil por volta de 2003. Atualmente, o tratamento é disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).