Juliana Keli Burque foi diagnosticada há quatro anos e faz parte da Paliamigas: "Aprendi a dar valor nas pequenas coisas do dia a dia"
Juliana Keli Burque foi diagnosticada há quatro anos e faz parte da Paliamigas: "Aprendi a dar valor nas pequenas coisas do dia a dia" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Quando falamos de uma doença que traz um estigma muito grande, onde muitas pessoas não têm mais a rede de amigos e apoio de antes, encontrar um novo significado para a vida e contar com uma equipe multidisciplinar fazem toda a diferença para que elas aprendam a conviver com a doença”.

Juliana Keli Burque foi diagnosticada há quatro anos e faz parte da Paliamigas: "Aprendi a dar valor nas pequenas coisas do dia a dia"
Juliana Keli Burque foi diagnosticada há quatro anos e faz parte da Paliamigas: "Aprendi a dar valor nas pequenas coisas do dia a dia" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

O prazer da oncologista e paliativista do HCL (Hospital do Câncer de Londrina), Heloisa Maria Freire Marconato, ao falar sobre o Paliamigas é imenso. Ela é uma entre os profissionais que tiveram a ideia de criar o grupo de apoio que há dois anos vem acolhendo pacientes com câncer de mama com metástase.

Os encontros ficaram um pouco prejudicados diante da pandemia da Covid-19, mas o grupo que começou com 10 pessoas se encontrava, ao menos, uma vez a cada mês para compartilhar os medos, as angústias, as expectativas e esclarecer dúvidas.

Além das pacientes, os encontros contavam com a presença de assistente social, enfermeira, psicóloga e as médicas paliativistas Heloisa Marconato e Raquel Barcelos. “Abordamos assuntos difíceis e tentamos tratá-los com leveza. A gente percebe que a paciente quando se sente acolhida tolera muito melhor o tratamento oncológico. Os resultados melhoram e temos todas as formas de sofrimento amenizadas, pois a gente entende que não é um sofrimento só de ordem física, mas social, emocional, espiritual”, diz Marconato.

Ela explica que o cuidado paliativo não é o cuidado de final de vida, e sim quando se tem uma doença que não vai ter cura pela medicina. “Tem pacientes que vivem mais de 10 anos com doença metastática. Nosso trabalho é ajudar essas pessoas a terem qualidade vida”, pontua.

Em 2019, a EICPO (Equipe Interdisciplinar de Cuidados Paliativos Oncológicos) do HCL atendeu 2.178 pacientes no total. A média mensal de atendimentos foi de 115 pacientes em ambulatório médico, 55 pacientes em internação hospitalar e 11 pacientes em atendimento domiciliar.

ALTOS E BAIXOS

Juliana Keli Burque, 42, conta um pouco da experiência que tem vivido nos últimos quatro anos, após o diagnóstico de câncer de mama metastático. Em 2018, ela passou por uma mastectomia total e no ano passado descobriu uma doença autoimune.

“Hoje eu estou bem. Já tive muitos altos e baixos, mas sigo fazendo parte do tratamento, além de fisioterapia. Eu sempre fui mais fechada e depois do diagnóstico fiquei mais introspectiva ainda. Poder dividir minha história e saber que estamos unidas e dispostas a nos ajudarmos para seguirmos o caminho com tranquilidade e ânimo é muito bom”, destaca.

Burque encontra prazer nos pequenos afazeres de casa, no cuidado com as plantas, no crochê e na pintura de caixinhas. “Eu me considero uma pessoa mais feliz hoje do que antes porque eu aprendi a dar valor nas pequenas coisas do dia a dia, a valorizar qualquer gesto, a dar valor em tomar um banho, em fazer um artesanato sozinha”, comenta.

Ela completa que o cuidado paliativo não é divulgado e, por isso, muitas vezes é encarado pelas pessoas como uma sentença. “O paliativo para mim é uma maneira de você aprender a lidar com a doença de uma forma mais segura e tranquila porque eu sei que na hora que eu tiver uma piora, tenho pessoas que me darão conforto. Elas me ajudam a lidar todos os dias com o meu problema, na questão do medo, da ansiedade”, diz.

Imagem ilustrativa da imagem Paliamigas de Londrina: aprendendo juntas a lidar com o câncer de mama
| Foto: Folha Arte