A aposentada Sueli Takihara, 62, caminhava contente após participar de uma apresentação musical em Londrina. A felicidade é justificável, já que essa foi uma oportunidade para interagir com “gente mais experiente”, como ela mesma define, e participar de uma troca de vivências culturais.

“Londrina é um lugar gostoso de se morar, tem muitas atrações para a gente participar”, conta a aposentada, ressaltando que, na sua idade, é importante conversar, se distrair e, acima de tudo, curtir a vida. “Eu acho que é daí que vem a nossa saúde.”

Para Sueli Takihara, é importante conversar, se distrair e, acima de tudo, curtir a vida. “Eu acho que é daí que vem a nossa saúde”
Para Sueli Takihara, é importante conversar, se distrair e, acima de tudo, curtir a vida. “Eu acho que é daí que vem a nossa saúde” | Foto: Douglas Kuspiosz

Outra participante da apresentação musical, Francisca Sawada, 72, afirma que é importante viver bem, tendo acesso a atividades sociais e culturais. “Qualquer atividade já ajuda. O ser humano não pode ficar muito tempo só dentro de casa”, afirma.

E os caminhos para uma longevidade ativa - e feliz - foram abordados pela professora Angela Maria Pelizer de Arruda, da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), durante o Festival Sou Geros, que ocorreu neste mês. A palestra discutiu como envelhecer feliz a partir de bases científicas.

“A ideia é que entendamos o que é felicidade a partir da ciência. Não essa felicidade de momentos bons, mas uma felicidade que leva a vida toda por meio de reconhecimento e engajamento do próprio eu, de emoções positivas e de relacionamento com outras pessoas”, desta a professora, observando que isso pode ser tratado em duas frentes: a psicologia positiva, que é a ciência da felicidade, e a neurociência.

De acordo com Arruda, a partir dessas duas perspectivas é possível adotar práticas pessoais para, tendo uma noção de longevidade e de expectativa de vida, conseguir ativar neurotransmissores e alcançar a chamada “estrutura da felicidade”.

Francisca Sawada: "O ser humano não pode ficar muito tempo só dentro de casa”
Francisca Sawada: "O ser humano não pode ficar muito tempo só dentro de casa” | Foto: Douglas Kuspiosz

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PROPÓSITO DE VIDA

Alguns exemplos são as atividades físicas, que ativam o hormônio da endorfina, que causa o alívio de tensões musculares e o controle da dor; os relacionamentos sociais, que podem contribuir para a ativação da ocitocina e promover um sentimento de bem-estar; e práticas individuais de cada pessoa que podem ativam a serotonina e a dopamina.

“E práticas que estejam relacionadas, por exemplo, a algo que atinja um propósito de vida, que aí nós ativamos todos os neurotransmissores, porque me dá prazer, eu me relaciono com as pessoas e estou trabalhando em prol de alguma coisa”, explica Arruda. “Não é porque estamos em uma fase dos 50+ ou 60+, que eu não posso ser útil à sociedade. Há muito o que se produzir, independente da idade. E essa produção, além de fazer bem para a sociedade, faz bem para a própria pessoa.”

Sônia Aparecida Gonçalves Filatieri : “Se deixar, eu danço a semana inteira. E sou feliz por isso”
Sônia Aparecida Gonçalves Filatieri : “Se deixar, eu danço a semana inteira. E sou feliz por isso” | Foto: Douglas Kuspiosz

'APRENDI MUITO'

Uma pessoa que busca manter a vida ativa é a pensionista Sônia Aparecida Gonçalves Filatieri, 70. Alongamentos, ginástica e dança são algumas das atividades que ela realiza frequentemente, justamente com o objetivo de um envelhecimento mais saudável.

“Se deixar, eu danço a semana inteira. E sou feliz por isso”, dizendo que as atividade do festival contribuíram para sua vida. “Foi o que eu aprendi, de como você aceitar a idade e envelhecer com saúde. Eu aprendi muito.”

POLÍTICAS PÚBLICAS

Na avaliação da professora da PUC-PR, as políticas públicas voltadas à essa parcela da população ainda estão “engatinhando”, mas são visíveis os avanços em comparação com as últimas décadas. “Já estamos com um olhar e projetos públicos voltados às pessoas dos 60+, pessoas que têm uma perspectiva de trabalho, de utilidade, de vivência e de saúde, mesmo com mais tempo de vida”, acrescenta.

'PRIMEIRO PASSO'

Idealizadoras e organizadoras do evento, Naide Souza e Mity Shiroma elencam quatro pilares que nortearam a primeira edição do Sou Geros: saúde, bem estar e felicidade; moradia, mobilidade e cidade; empreendedorismo e carreiras; e inovação e tecnologia.

“É um primeiro passo para termos um novo olhar para o envelhecimento e quebrar todos os paradigmas do envelhecimento, porque as pessoas já têm um certo preconceito. Queremos mudar e transformar esse conceito para uma longevidade ativa”, afirma Shiroma.

Segundo Souza, a proposta foi falar do envelhecimento de uma forma leve, mostrando o lado positivo da longevidade.

“É um público que está crescendo, o Brasil é um país que está envelhecendo muito rápido e precisa ser mostrado que essas pessoas existem”, acrescenta. “Nosso propósito, enquanto sociedade civil, é realmente sermos agentes de transformação de cultura em longevidade e envelhecimento.”