O projeto verão funciona?
Início do ano é um período propenso a mudanças, sobretudo na busca por uma vida mais saudável e por emagrecimento, mas é necessário cautela
PUBLICAÇÃO
domingo, 23 de janeiro de 2022
Início do ano é um período propenso a mudanças, sobretudo na busca por uma vida mais saudável e por emagrecimento, mas é necessário cautela
Isabella Alonso Panho - Especial para a FOLHA

O começo do ano, com seus ares de mudança, sempre motiva as pessoas a iniciar projetos novos, em todos os setores da vida. Um dos mais visados, sem dúvida, é o emagrecimento. O famoso “projeto verão”, buscado por tanta gente, envolve metas e novas posturas para perder gordura, queimar barriga, diminuir um ou dois manequins e usar aquela roupa encostada no armário. Contudo, muitas vezes, com a mesma intensidade que engajam, essas metas somem da vida das pessoas.

Fabio Reis, educador físico e proprietário da academia Fitness, na zona sul de Londrina, vê a quantidade de alunos subir entre 30% e 40% nos meses de janeiro e fevereiro. “As pessoas falam em buscar o balde que chutaram, perder os quilos ganhados nas festas...”, pontua o educador, que trabalha há 19 anos na área.
A mesma movimentação é percebida no consultório da nutricionista comportamental Débora Rodrigues. Nos primeiros meses do ano, a procura por atendimento é muito maior. Contudo, segundo ela, nem sempre isso vem acompanhado de verdadeiras melhoras na vida das pessoas: “existem várias estratégias que as pessoas usam que acabam as deixando mais doentes do que saudáveis”.
DESAPARECEM COM O BRONZEADO
Não é à toa que muitos dos alunos que buscam as academias atrás do “projeto verão” desaparecem junto com o bronzeado. “Dura uns dois ou três meses” aponta Reis, medindo o movimento de seu estabelecimento nessa época. Ele até acredita que é possível colher bons frutos dessas tentativas, desde que os alunos continuem engajados por mais tempo: “você até vê algum resultado em 2-3 meses, mas é um processo bem lento, tem que dar continuidade”.

POR OUTRO LADO...
“Às vezes as pessoas entram nesses projetos e acabam se frustrando, porque não conseguem atingir a meta que tinham”, alerta Leonardo Garcia, educador físico e personal trainer. Para ele, essa busca pelo corpo dentro do padrão por meio de ações pontuais pode até mesmo causar o efeito oposto: “Isso abala muito o psicológico da pessoa. Ela acaba ficando cansada e, quando dá o efeito rebote e ela volta para a vida antiga, às vezes acaba engordando até mais do que antes”, pondera.
Rodrigues também percebe questões semelhantes em seus pacientes: “A maioria das pessoas que faz dieta, principalmente com essas restrições drásticas, volta a engordar. Não é uma mudança de comportamento. Elas fazem uma restrição pontual, mas, se voltam ao hábito alimentar de antes, acabam recuperando todo o peso que perderam”.
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EXEMPLO POSITIVO
O professor de filosofia Antonio Nogueira, conhecido nas redes sociais como Professor Toninho, já esteve nos dois lados dessa situação e hoje possui uma rotina de exercícios e autocuidado voltada para a qualidade de vida. “A partir do momento que eu decidi ouvir a opinião dos especialistas (psicológico, educador físico e nutricionista), os três me orientaram na mesma direção: construir um hábito para me cuidar de forma prazerosa e contínua, de modo que faça sentido a longo prazo”, reflete.
Nogueira, que é aluno de Garcia, destaca o quanto o exercício físico constante está integrado ao bem-estar em todas as áreas da vida: “Eu levo esse mesmo discurso para os meus alunos do cursinho. A gente tem a impressão de que, quanto mais estudar, melhor irá na prova. De fato, tem que estudar muito, mas oriento a também se dedicar à atividade física. O corpo faz parte da sua aprovação, você vai levar ele no dia da prova e ele precisa estar bem-cuidado também”.

REDES SOCIAIS E PRESSÕES EXTERNAS
Para o professor de filosofia Antonio Nogueira, o “projeto verão” cativa tantas pessoas sobretudo pela “necessidade de aprovação e de reconhecimento. As redes sociais estão aí para provar isso”. Contudo, como aponta a nutricionista Débora Rodrigues, apesar da forte influência, a internet não é um espelho fiel: “o que a gente vê nas redes sociais é só um recorte da realidade, tem muita coisa por trás daquilo”.
“Por que eu quero mudar? O que está me incomodando? Será que eu realmente preciso mudar ou são pressões externas que têm levado a esse pensamento de que meu corpo não é legal, não é saudável?”, questiona o educador físico Leonardo Garcia. Uma forma de trabalhar esse tipo de expetativa de forma mais saudável, segundo ele, é “achar uma atividade física de que você goste. Tem muita gente que vai na academia e não gosta. Há vários outros tipos de atividades física, como grupos de funcional, crossfit, natação, corrida...”, exemplifica.
Rodrigues ressalta a necessidade do comprometimento contínuo: “Está tudo bem a pessoa querer emagrecer, ter um corpo bacana, mas a gente não vai fazer isso num passe de mágica. Isso precisa de constância, de rotina, de repetição, de rotina, de um planejamento adequado”. Após alguns anos de mudança de hábito, o Professor Toninho é contundente na sua própria avaliação “O resultado é menos radical, mas, comparando com o início do meu processo, eu estou infinitamente melhor”.
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