Há algumas semanas, a equipe da FOLHA esteve na UTI Neonatal, uma das alas mais importantes do HU (Hospital Universitário) da UEL (Universidade Estadual de Londrina). A intenção era conhecer de perto um projeto que vem fazendo muita diferença na vida de pais e bebês que nasceram antes do esperado, os prematuros.

Fones de ouvidos foram colocados dentro das incubadoras:  melhora da frequência respiratória e diminuição da escala de dor
Fones de ouvidos foram colocados dentro das incubadoras: melhora da frequência respiratória e diminuição da escala de dor | Foto: Roberto Custódio

O pouco tempo na UTI foi suficiente para entendermos a dimensão de todo o trabalho empenhado para atender pequenas vidas. Também dá para sentir a angústia e ansiedade dos pais que acompanham cada intervenção das equipes e cada apito que ecoa dos aparelhos conectados aos pezinhos, mãozinhas e abdomens.

Esse exercício de poder observar e vivenciar por poucos minutos parte do que as famílias passam quando seus bebês estão internados, foi importante para compreender o quanto a musicoterapia pode ser uma ferramenta poderosa.

Desde março de 2017, profissionais do HU vêm abrindo espaços para a música no ambiente hospitalar, pensando nos benefícios à saúde. “Por que não utilizar a música para melhorar a humanização dentro da Unidade de Terapia Intensiva? Foi o primeiro pensamento”, lembra a chefe da divisão Materno-Infantil, Valéria Costa Evangelista da Silva.

Desde então, esse instrumento passou a ser foco de pesquisas de graduação e pós-graduação na área de Enfermagem do CCS (Centro de Ciências da Saúde) e os resultados só confirmam o que já se podia esperar: a música é uma grande aliada para a saúde.

MELHORA NA RESPIRAÇÃO

Uma das pesquisadoras, a enfermeira Amanda Barcelos buscou avaliar as alterações fisiológicas que a música promove nos bebês prematuros. Para isso, ela acompanhou 30 bebês antes, durante e após a exposição a uma seleção de músicas orquestradas, validadas pela musicoterapeuta em Londrina e colaboradora no projeto, Gislaine Moreira Matos.

“Nas crianças da UTI neonatal, tivemos que fazer uma avaliação de timbre, tonalidade e batimentos por minuto porque a música faz um entrosamento com nosso batimento cardíaco, com a nossa respiração. Ela provoca uma sincronização”, explica Matos.

Fones de ouvidos foram colocados dentro das incubadoras sem encostar na região auricular dos bebês. “Tivemos como resultado a melhora da frequência respiratória em 9%, uma redução da frequência cardíaca em 5% e melhora da saturação do oxigênio em 2%. Além disso, tivemos uma diminuição da escala de dor e da temperatura corpórea”, aponta Barcelos.

A coordenadora dos trabalhos e docente no Departamento de Enfermagem, Adriana Zani, ressalta que essa mudança nos padrões é determinante para que os bebês possam sair da ventilação mecânica e ter menos tempo de internação.

PRODUÇÃO DE LEITE MATERNO

As mães de bebês prematuros também foram foco de uma pesquisa conduzida pela enfermeira Letícia Costa. Ela avaliou 30 mães que foram estimuladas com músicas populares durante a coleta do leite. O objetivo era verificar a produção de leite, assim como os níveis de estresse e ansiedade, dois elementos que impactam bastante esse processo.

“Quando as mães fizeram a coleta escutando música, conseguimos um aumento do volume médio de 25,6% (cerca de 4 ml) e conseguimos reduzir os níveis de estresse e ansiedade em 58%”, diz, adiantando que os números da produção de leite são extremamente impactantes para as mães e bebês. “Os bebês recebem cerca de 2 ml a cada duas horas e o fato dela se sentir bem e ver que está produzindo leite é muito estimulante”.

Zani diz que há muitos outros trabalhos envolvendo a musicoterapia e a UTI Neonatal do HU. “Esses bebês, pelo diagnóstico, são muito manipulados e a gente queria fazer algo que fosse o contrário, ou seja, manipulá-los menos e trazer alguma melhora. E esse cuidado não é apenas com o bebê, mas como toda uma rede de apoio, pois a família toda está passando por um processo complicado”, comenta.

'É MARAVILHOSO'

Quando a reportagem da FOLHA esteve na UTI Neonatal do HU de Londrina, a estudante de jornalismo Beatriz Donato Alves, 22, acompanhava, ao lado da incubadora, qualquer movimento do filho Francisco, que nasceu com 24 semanas no dia 12 de fevereiro.

Beatriz Donato Alves: "Posso dizer que eu sinto ele (Francisco)  respirar com mais tranquilidade"
Beatriz Donato Alves: "Posso dizer que eu sinto ele (Francisco) respirar com mais tranquilidade" | Foto: Roberto Custódio

Francisco nasceu com 537 gramas e Alves desabafou que “cada dia na UTI é uma luta”. No entanto, ela estava animada porque há poucos dias havia experimentado a musicoterapia. Enquanto o Francisco era colocado no método “Canguru” (contato pele-a-pele entre mãe e bebê), ambos eram estimulados com músicas pelo fone de ouvido. “Eu nunca tinha ouvido falar (de musicoterapia) e agora posso dizer que eu sinto ele respirar com mais tranquilidade. Eu sinto ele realmente relaxado e isso é maravilhoso porque se ele está bem, eu fico bem”, comenta.

O casal Tamires Machado e Maykon Soares também conheceu os benefícios da musicoterapia. O filho Jean nasceu de 33 semanas, no dia 28 de fevereiro. “Estou achando tudo ótimo porque ele está ficando mais calmo e tenho certeza que a saúde dele melhora com isso. Eu gosto muito de música e acabo ficando menos ansioso também”, conta o pai.

O casal Tamires Machado e Maykon Soares com o filho  Jean: "Tenho certeza que a saúde dele melhora eu acabo ficando menos ansioso também”, conta o pai
O casal Tamires Machado e Maykon Soares com o filho Jean: "Tenho certeza que a saúde dele melhora eu acabo ficando menos ansioso também”, conta o pai | Foto: Roberto Custódio