A cefaleia (dor de cabeça) está entre as condições de saúde mais incapacitantes do mundo e só no Brasil atinge cerca de 140 milhões de pessoas, de acordo com a SBCe (Sociedade Brasileira de Cefaleia). O que se sabe é que existem cerca de 150 tipos de dores de cabeça, que são basicamente divididos em dois grandes grupos: as primárias (quando a dor é a própria doença, como é o caso da enxaqueca) e as secundárias (causadas por algumas doenças estruturais no cérebro, como a presença de um tumor).

Imagem ilustrativa da imagem Mulheres sofrem mais com a enxaqueca
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Na enxaqueca, também chamada de migrânea, as mulheres são as que mais sofrem. Estudos mostram que essa dor de cabeça incapacitante atinge cerca de 20% das mulheres enquanto que nos homens a estimativa é de 5 a 10%. Ainda não se tem muitas causas definidas, mas há evidências de que fatores hormonais como a queda do estrogênio (hormônio feminino) podem ser um gatilho, já que muitas mulheres relacionam as dores de cabeça com o período menstrual.

Uma pesquisa realizada em ratos e publicada em 2018, revelou que “as fêmeas podem ser mais suscetíveis a enxaquecas e menos responsivas ao tratamento, devido à maneira como as flutuações no hormônio estrogênio afetam as células do cérebro”.

Essa constatação ocorreu após os pesquisadores compararem os níveis de prótons NHE1 em ratos machos e fêmeas. Nos animais machos, os níveis de expressão de NHE1 no cérebro eram quatro vezes mais altos. Nas fêmeas, os altos níveis de estrogênio correspondiam aos níveis mais baixos desses próteons nas células que formam os vasos sanguíneos no cérebro.

“Com base em nossas descobertas, achamos que as mulheres são mais suscetíveis à enxaqueca porque as flutuações dos hormônios sexuais de maior magnitude levam a alterações na expressão do NHE1, o que pode deixar o cérebro vulnerável à desregulação de íons e à ativação da dor”, explicou em um artigo, a autora do estudo, Emily Galloway, do departamento de Farmacologia da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

O objetivo do trabalho foi contribuir para o desenvolvimento de medicamentos mais direcionados para tratar a condição. Mas a variação hormonal, assim como a alteração na atividade cerebral são algumas possíveis explicações para as crises de enxaqueca.

PIORAM COM O CALOR

Outra relação possível é o clima. A neurologista Aline Vitali da Silva, docente no curso de medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) - campus Londrina, explica que as dores apresentam piora na frequência e intensidade durante o verão.

"Ainda não existe uma explicação muito clara sobre isso, mas uma das teorias cita a desidratação. Isso é bem visível nos atendimentos em consultório. No ano passado, quando tivemos um verão bastante quente, muitos pacientes relataram a piora da enxaqueca”, comentou.

Outro fator externo, de acordo com ela, é o estresse. Silva diz que nos relatos dos pacientes, o estresse é apontado como um ‘gatilho’ pela maioria das crises.

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DESDE A INFÂNCIA

A professora em Cambé (região metropolitana de Londrina), Carolina Aparecida Martini da Costa, 33, conta que a primeira dor de cabeça foi na infância, aos três anos de idade. “Desde muito pequena minha mãe me levava em médicos. Tudo que poderia fazer para investigar a causa da dor, a gente fez. Até que recebemos o diagnóstico de enxaqueca”, diz.

A neurologista Aline Vitali da Silva, de Londrina, explica que crianças também têm dor de cabeça, especialmente a chamada “enxaqueca abdominal” caracterizada por náuseas e vômitos. “Mas na infância não há diferença entre sexos. A partir da primeira menstruação é que as mulheres começam a ter mais episódios, mas ao entrar na menopausa, a incidência das crises se assemelha com as dos homens”, afirma.

Costa relata que tem feito um tratamento preventivo, tomando um medicamento pela manhã e outro à noite. Ela também procura adiar ao máximo tomar remédios fortes durante a crise, “mas tem dias que isso é impossível. Ainda mais quando as temperaturas sobem ou quando estou no período menstrual. A dor invade um lado da cabeça, partindo do nariz até a nuca. Muitas vezes, tenho sensibilidade nos dentes, olhos e ouvidos. É uma dor desesperadora e incapacitante. A sensação é de morte”, desabafou.

A professora cita ainda que além do sofrimento físico é comum enfrentar preconceito. “As pessoas agem como se eu estivesse usando a dor de cabeça como uma desculpa e isso me incomoda muito. É desumano não entenderem o tamanho do sofrimento de quem tem crises de enxaqueca”, completa.

NO SEXO MASCULINO

Quando se trata de um determinado tipo de dor de cabeça, a chamada “cefaleia em salvas”, os homens são os mais acometidos. Conforme o professor Octávio Pontes Neto, da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo), escreveu em seu artigo, 85% dos casos acontecem em homens com idade entre 20 e 40 anos.

Em geral, nas crises de cefaleia em salvas, que pode ser considerada a “prima” da enxaqueca, “as dores de cabeça se apresentam associadas aos sintomas autonômicos, do mesmo lado, como hiperemia conjuntival, quando o olho fica vermelho, lacrimejando, congestão nasal, rinorreia e a pupila fica pequena do lado da dor.”

O neurologista ainda descreve que os sintomas costumam durar de 15 minutos a três horas e podem surgir várias vezes por dia.

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