Por que algumas pessoas desenvolvem formas graves da Covid-19 (coronavírus) mesmo sem ser do grupo de risco? É esse ponto de interrogação que fez médicos imunologistas de todas as partes do mundo se juntarem para encontrar uma resposta.

Imagem ilustrativa da imagem Médicos do Paraná buscam respostas sobre o coronavírus
| Foto: Camila Hampf Mendes - Divulgação

O objetivo maior do projeto “Covid Human Genetic Effort” é desenvolver novas estratégicas para prevenção e tratamento da doença a partir do conhecimento e experiências de diferentes realidades. E um cenário que pode contribuir significativamente para esse estudo global é a região Sul do Brasil, formada pelo estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

“Estamos falando de um vírus novo, do qual ainda conhecemos pouco. Mas em virtude do clima mais frio da nossa região pode ser que tenhamos um número maior de infecções no inverno. E isto representaria um número maior de participantes para a pesquisa, que irá estudar desde pessoas que tiveram contato com o vírus, mas não desenvolveram a doença até aquelas que apresentaram sintomas, sejam leves ou graves”, explica a imunologista em Curitiba, Carolina Prando.

Ela integra o corpo médico do HPP (Hospital Pequeno Príncipe), na capital paranaense, que é uma das duas instituições brasileiras participantes. A segunda equipe é da USP (Universidade de São Paulo) que irá agregar dados dos demais estados.

ANÁLISE GENÉTICA

O trabalho em conjunto considera que cada vez mais surgem registros de óbitos de pessoas jovens e aparentemente saudáveis, contrariando fatores de risco já conhecidos como idade acima de 60 anos, hipertensão, diabetes, fumantes, portadores de outras doenças respiratórias, entre outros.

Com isso, o melhor caminho para encontrar respostas é, de acordo com os pesquisadores, o sequenciamento e análise dos genes dos pacientes que forem para as UTI (Unidades de Terapia Intensiva). No Paraná, o material será coletado de pacientes do Pequeno Príncipe e também de internados de outros hospitais da região Sul que quiserem participar, mediante aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa.

Prando, que conduz os estudos no HPP e é responsável por organizar a rede de colaboração nos três estados do Sul, detalha que “em um primeiro momento, o trabalho pode ajudar no diagnóstico de Erros Inatos da Imunidade já conhecidos, em pacientes com Covid-19 que evoluem de forma grave, porém, não têm fatores de risco conhecidos. Além disso, podemos identificar novos Erros Inatos da Imunidade em formas graves ou recorrentes da doença, bem como fatores genéticos que protegem a pessoa da infecção pelo novo coronavírus.”

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| Foto: Camila Hampf Mendes - Divulgação.

ERROS INATOS

Os Erros Inatos da Imunidade são doenças genéticas do sistema imune, também conhecidos como “imunodeficiências primárias”. Segundo a pesquisadora, a pessoa já nasce com variações no DNA que fazem com que o sistema imunológico não funcione adequadamente.

“Estas pessoas têm infecções de repetição que podem ou não ser graves e, apesar de já terem essas variações no DNA ao nascer, a doença pode se manifestar em diferentes fases da vida, do nascimento até a idade adulta. Hoje conhecemos cerca de 400 Erros Inatos da Imunidade diferentes, sendo alguns com forte predisposição a infecções virais”, explica. No Brasil, a estimativa é que existam cerca de 160 mil pessoas com erros inatos da imunidade. Porém, pouco mais de 2 mil estão diagnosticados.

EFEITO

Prando diz ainda que com a análise concluída, o efeito será imediato. “Nestes casos, esses pacientes poderão receber orientações e tratamentos específicos para o seu diagnóstico imunológico, além do tratamento que estiver recebendo para Covid-19”, observa.

REUNIÕES SEMANAIS

O comitê diretivo do grupo Covid-HGE se reúne semanalmente para atualização de andamento do estudo. Alguns países, onde os casos de Covid-19 começaram a aparecer antes do Brasil, já estão começando a obter os primeiros dados. “Esta colaboração internacional, a ajuda que cada grupo pode dar na interpretação dos dados, será essencial para que possamos chegar a conclusões de estudo com a rapidez que esta pandemia exige”, conclui.

O projeto “Covid Human Genetic Effort” é liderado pelos pesquisadores Jean-Laurent Casanova, da Universidade Rockefeller, e Helen Sue, do National Institute of Health, com quem Prando teve o primeiro contato em 2008 durante o pós-doutorado na área da imunologia. “Desde a faculdade de Medicina me interesso pelos Erros Inatos da Imunidade e direcionei toda minha formação para a clínica e pesquisa dessas doenças”, conta.

A rede de colaborações (instituições interessadas em participar) está sendo construída e poderá ser consultada em breve no site do projeto: www.covidhge.org. Inicialmente, participam do estudo alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e da área técnica do laboratório do hospital.

SERVIÇO - Para que a pesquisa aconteça com maior rapidez, o HPP conta com uma ajuda financeira e dispõe de um canal para doações. Mais informações acesse: pequenoprincipe.org.br.

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