Rodrigo Pagani passou três meses sem ver a mulher e os filhos. Ele em Chicago, Illinois, trabalhando como urologista; e a família em Miami, Flórida, em um lockdown decorrente da pandemia da Covid-19. Conseguiram, finalmente, se reunir no aniversário do filho mais velho, em maio. Mas o fim de momentos como este parece despontar para um futuro próximo, agora que Pagani está vacinado. Ele é um dos primeiros cidadãos a receber a segunda dose da BNT162, vacina em parceria da Pfizer e BioNTec, por enquanto reservada apenas aos profissionais da saúde no estado.

Imagem ilustrativa da imagem Médico londrinense vacinado nos EUA relata sintomas de segunda dose da Pfizer
| Foto: iStock

Ele relata que a sensação após cada dose é distinta. Sintomas leves de febre, cansaço e dores no local da aplicação não duram mais que um dia e podem ser resolvidos com um analgésico comum.

As vacinas aplicadas no país, da parceira de Pfizer e BioNTec e da Moderna, possuem a mesma tecnologia de funcionamento, baseada no material genético do vírus, seu RNA. Por se tratar de um método novo de imunização, os pacientes que a recebem devem ser assistidos durante 15 minutos após a aplicação com acompanhamento médico, a fim de verificar se há reação alérgica.

Nos Estados Unidos desde 2016, o médico reside distante da família há dois anos, pois seus filhos “não se adaptaram tanto ao frio de Chicago e é melhor para eles crescerem porque lá eles tem mais liberdade” – conta ele. Mas sempre havia a possibilidade de se encontrarem aos finais de semana. Com as restrições de mobilidade dentro do país, passaram de fevereiro a maio de 2020 sem se ver. Hoje, já estão juntos novamente, e esperam ansiosos pela vez dos outros integrantes da casa de estarem imunizados. Como cada estado tem autonomia para criar seu próprio plano de imunização, é difícil prever quando isso acontecerá. A vacinação a população geral, iniciada pelos mais velhos, já começou na Flórida, mas a expectativa é de que a família Pagani esteja vacinada no mês de abril de 2021.

Imagem ilustrativa da imagem Médico londrinense vacinado nos EUA relata sintomas de segunda dose da Pfizer
| Foto: Arquivo pessoal

Mesmo com a possibilidade de frequentar as escolas, a família optou por manter os dois filhos em ensino remoto, diminuindo sua exposição ao vírus. Por lá, a adesão ao ensino presencial ou à distância é facultativo, dada a necessidade de alguns pais de deixarem os filhos sob o cuidado de alguém enquanto trabalham fora de casa. A vacina também não é obrigatória, mas o médico tem observado grande aceitação entre a população para tomá-la. Aqueles que deixam de procurá-la argumentam que, por já terem sido infectados pelo vírus, “estão se permitindo a não tomar vacina nesse momento para que pessoas que nunca tiveram Covid-19 possam tomar a vacina antes deles” – relata o doutor, apesar da possibilidade de reinfecção. Porém, a prática não se mostrou viável, aos olhos de Pagani, uma vez que foram registradas sobras doses em alguns estados.

O médico se alivia com o fato de estar imunizado, mas se sente insatisfeito quando compara sua situação com a de seus parentes no Brasil, ao definir seus sentimentos como “um misto de um sentimento de alegria, de privilégio, ao mesmo tempo a tristeza de saber que nosso país está tão longe de acontecer o que aconteceu comigo”. Há cerca de dois anos que Rodrigo Pagani não vêm a sua terra natal. De lá, ele vê a situação e “sabe o quanto que o Brasil está relutando e apanhando dos nossos próprios governantes em relação a esta questão. É realmente deprimente ver a briga que acontece, a falta de ciência que existe, o desgoverno e falta de preparação do Ministério da Saúde” – em suas palavras.

Ainda que potencialmente imunizado, doutor enxerga que a volta a realidade pré-pandêmica ainda é um horizonte um pouco mais distante. Ele afirma que o cenário ideal é quando ao menos 70% da população está vacinada. Até lá, ele e a família mantém e recomendam hábitos com os quais já estão acostumados: o distanciamento social, o uso de máscaras e álcool em gel e valorização da ciência.

*supervisão de Lucília Okamura (editora)