São Paulo - A medicina de precisão é uma tecnologia de tratamento de doenças com base em informações genéticas dos pacientes. Por meio desse método é possível prevenir e tratar patologias de forma mais efetiva, considerando a variabilidade genética e não apenas a doença em si, mas todas as mutações existentes nos genes dos indivíduos.

A compreensão da genômica é de suma importância para o desenvolvimento da medicina de precisão. Segundo o CEO do Grupo Oncoclínicas, Luis Natel, para o diagnóstico do paciente com câncer se deve pensar que as pessoas são diferentes e respondem de maneiras distintas aos tratamentos. "O Instituto adquiriu uma empresa de genômica ao longo de 2017. A medicina é um negócio ao longo prazo. Você pode resolver um problema do paciente aqui [agora] mas não resolver o problema lá na frente", considerou.

Natel exemplifica que há 40 anos os equipamentos de radioterapia, que resolviam os problemas de tumores à época, quando usados em crianças gerariam tumores quando elas atingissem a maturidade. "Isso porque antes os equipamentos tinham uma radioatividade ampla, não era focada, e ela era cancerígena. Então, resolvia-se um problema naquele momento, mas não resolvia o problema do paciente no todo. Quando se fala de medicina tem que se propor a olhar à frente e é isso que a gente propõe na área de genômica", ponderou.

"Basicamente, você sabe qual é a alteração que aquele indivíduo tem no genoma e utiliza um mecanismo específico de tratamento, que não necessariamente é uma droga, pode ser uma estratégia de imunoterapia ou outras estratégias de terapia celular que vão surgir no futuro", explicou o oncologista torácico Carlos Gil Ferreira, sobre o funcionamento da medicina de precisão. Para o pesquisador, a medicina de precisão "não é só uma agregação de tecnologia", é também uma forma de economia e eficiência. "Se eu tenho um medicamento de alto custo e consigo identificar um paciente que tem a determinada alteração genética, isso se torna mais custo efetivo para o sistema", observou.

O instituto pesquisa para gerar informações na chamada "economia da saúde", como explicou Ferreira. "São algoritmos de custo por desfecho do paciente, quanto ele viveu e a qualidade. A equação para a sustentabilidade da oncologia é chamada de valor. Esse é muito mais que o custo do tratamento, mas o impacto que o tratamento teve na vida daquele indivíduo como um todo", destacou.

Por meio dessa estratégia é possível diagnosticar o paciente da maneira correta e ter um melhor tratamento. O oncologista disse ainda que a ideia é "que a gente possa com o sistema de saúde suplementar tornar essas estratégias mais avançadas factíveis no Brasil do ponto de vista econômico". "Quando falamos de medicina de precisão, você identifica determinado gene alterado de um biomarcador, esse biomarcador tem que ser validado. Os estudos têm que mostrar que ele pode ser uma ferramenta diagnóstica, e isso gera informação de pesquisa."

A ideia é que milhares de pacientes tenham seu genoma analisado, gerando uma imensa base de dados que permita o aprendizado com estratégias de Inteligência Artificial, conforme acredita o pesquisador. "Assim, a gente pode gerar algoritmos que permitam um novo ciclo de pacientes e usar estratégias diferentes, gerar o máximo de informação que a gente tiver para poder tratar bem o paciente e poder influenciar de alguma forma o sistema de saúde", afirmou, sobre o projeto da empresa médica.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

O uso de IA (Inteligência Artificial) na medicina já está presente. Ela ajuda o desenvolvimento de novas drogas e auxilia no trabalho com gigantes bases de dados. "A IA pode criar algoritmos que mostram em qual população é melhor usar [certo medicamento]. Ela pode ser utilizada para identificar os biomarcadores, que são esses testes de diagnóstico para identificar predisposição, pode ser utilizada para tomografia de tórax", explicou o oncologista torácico Carlos Gil Ferreira

Na tomografia de tórax já é algo recorrente, conforme pontua o especialista. "Junta-se em uma base de dados milhares de laudos de tomografia de tórax e o computador passa a ser capaz de ler a imagem e gerar algoritmos de predição de risco para um nódulo pulmonar", esclareceu.

Conforme expôs o médico, pessoas que fumam têm nódulos pulmonares, entretanto, na grande parte das vezes, eles não são malignos. "Mas a gente tem dificuldade de identificar, então, ao usar essa Inteligência Artificial, esse machine learning (aprendizado da máquina) filtra os diagnósticos e o médico fica só na ponta, identificando", disse. O CEO do Grupo Oncoclínicas, Luis Natel, lembra que com esse avanço de tecnologia constante na área de saúde é "quase que humanamente impossível do médico estar por dentro de tudo".

"Tem uns que têm mais acesso à informação, outros menos, por mais que você faça educação médica continuada, você não consegue acompanhar. Então a Inteligência Artificial vem para criar também protocolos médicos que auxiliem o médico na tomada de decisão", garantiu Natel. O CEO exemplifica que atualmente na radioterapia há um sistema em que atribui à maquina o tratamento. "Quando o paciente vai fazer o tratamento ele passa por uma certa engenharia. Essa engenharia demora uns 40 minutos para ser feita por um radioterapeuta. Esse sujeito executa a engenharia e põe o equipamento para seguir o protocolo. Não há uma checagem."

Com a IA no equipamento, essa engenharia é realizada em dois minutos. Assim, a IA também auxilia na orientação dos médicos. "A vantagem é que além de diminuir o tempo para atender o paciente, você gera a possibilidade do radioterapeuta checar. Até para ver se a máquina fez alguma coisa que eventualmente ele não concorde e queira trocar. Então também dá uma segurança maior para o paciente que vai ser imputado a um tratamento de radioterapia", acrescenta Natel. (I.F.)