O primeiro caso publicado da Síndrome Poliglandular Autoimune tipo 1 (APS1) após uma pneumonia por Covid-19 foi diagnosticado em Curitiba, pelo Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe. A síndrome se manifestou em irmãos que estavam internados para tratamento no Hospital Pequeno Príncipe. Sem saber que faziam parte do grupo de risco para agravamento do vírus, os meninos – de 8 e 14 anos – deram entrada no hospital com sintomas graves.

Carolina Prando, pesquisadora que integra consórcio internacional
Carolina Prando, pesquisadora que integra consórcio internacional | Foto: Divulgação - Pequeno Príncipe

Durante o internamento, que durou mais de 30 dias, os meninos participaram da pesquisa do Consórcio Internacional COVID Human Genetic Effort, da qual a pesquisadora Carolina Prando, do Instituto, faz parte da diretoria internacional. O estudo investiga as causas genéticas associadas às variáveis de apresentação do coronavírus. Após a recuperação dos sintomas graves dos meninos, a equipe de pesquisa – liderada por Prando, que é imunologista pediátrica – observou outros sintomas que apontavam o diagnóstico de uma doença genética rara, conhecida como APS1, síndrome caracterizada por uma desregulação no sistema imune, que faz com que haja a produção de diferentes tipos de autoanticorpos.

FAMÍLIA BUSCAVA EXPLICAÇÃO

No caso dos irmãos, foi comprovado que eles produzem autoanticorpos que neutralizam os efeitos de interferons tipo 1, substâncias importantes no controle da infecção pelo SARS-CoV-2, o que explica por que eles desenvolveram quadros graves da Covid- 19. Depois do diagnóstico, constatou-se que os irmãos apresentavam sintomas da APS1 desde os primeiros anos de vida, mas que sempre foram tratados de forma isolada. A família buscava uma explicação para as diferentes manifestações clínicas, mas só teve a resposta após participar da pesquisa do Consórcio Internacional.

"Decidimos fazer parte da pesquisa para, além de tentar um diagnóstico que explicasse a gravidade do quadro deles, ajudar outras pessoas. Quando recebemos o diagnóstico da APS1, ficamos com uma soma de sentimentos, medo, insegurança, tristeza, apreensão, mas aliviados em ter uma explicação para todas as infecções deles, principalmente a COVID”, explica a mãe, Graciela Figura.

MANIFESTAÇÃO NA INFÂNCIA

A APS1 se manifesta na infância ou no início da adolescência e não tem um tratamento específico, porém é possível cuidar das manifestações clínicas – como hipotireoidismo, hipoparatireoidismo, doença de Adisson e infecções fúngicas nas unhas e mucosas – para proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes. “Com o passar do tempo, fomos aprendendo a conviver com o diagnóstico. Somos muito gratos pelas equipes, por todo o empenho e dedicação que têm para conosco”, ressalta Figura.

DIVULGAÇÃO DA HISTÓRIA

O caso foi publicado no Journal of Clinical Immunology, que se concentra em pesquisas que investigam imunologia por meio de pesquisa básica, translacional ou estudos clínicos, e teve a participação de alunos de mestrado e doutorado do Instituto. “Além de beneficiar a família, a divulgação desta história permitirá que mais pessoas com APS1 sejam diagnosticadas, quer seja pelo reconhecimento dos sintomas desta doença rara, quer seja pela investigação a partir de um quadro grave de Covid-19 associado a sintomas de APS1. E em se tratando de um quadro grave de Covid-19 com diagnóstico de APS1, tomar as medidas terapêuticas mais indicadas para o controle do quadro”, argumenta a imunologista Carolina Prando.

CONSÓRCIO INTERNACIONAL

O consórcio COVID Human Genetic Effort é liderado pelos pesquisadores Jean-Laurent Casanova, da The Rockefeller University, e Helen Su, do NIH. O projeto reúne imunologistas do mundo inteiro. Coletivamente, quatro estudos publicados pelo Human Genetic Effort, desde setembro de 2020, fornecem uma explicação molecular e imunológica para cerca de 20% dos casos críticos de Covid-19. Essa descoberta publicada nos artigos de 2020 foi homenageada pela revista Nature em seus dez maiores avanços científicos para o ano.

A participação do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe no consórcio é uma das contribuições na luta contra o novo coronavírus. Além dessa pesquisa, a instituição participa de outros estudos relacionados à Covid-19.

Já são 15 anos de atuação do Instituto, com foco na valorização da ciência. Atualmente, a equipe conta com 19 pesquisadores principais e mais de cem projetos em andamento, estruturados em sete linhas de pesquisa com o foco em doenças complexas que atingem crianças e adolescentes. (Com informações do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe)

*****

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1