Infecções na boca podem causar até aborto
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domingo, 02 de junho de 2013
Michelle Aligleri<br>Reportagem Local
A possibilidade do nascimento prematuro do bebê é um dos fantasmas enfrentados pelas mulheres durante a gestação. O que muitas delas não sabem é que os cuidados com a saúde bucal estão diretamente relacionados à prevenção deste tipo de situação. "As infecções bucais têm uma influência na ocorrência de partos prematuros por conta da liberação de mediadores químicos que entram na corrente sanguínea e podem chegar até o feto", explica o cirurgião-dentista Davi Ceolin. Ele esclarece que a liberação destas substâncias pelo corpo é feita normalmente em processos inflamatórios e há estudos que comprovam a correlação delas com as contrações no útero e, consequentemente, ao parto prematuro e aborto.
A situação das grávidas é ainda mais delicada porque, durante a gestação, a saúde bucal delas se torna mais frágil. O dentista esclarece que nesta fase a tolerância da mulher à placa bacteriana é reduzida e pode evoluir para uma infecção. "Uma condição de higiene não perfeita pode não causar problemas no dia a dia, mas pode ser suficiente para trazer problemas no período da gestação", destaca.
Ceolin esclarece que o tratamento dentário não é indicado para todos os casos, mas ele enfatiza que é fundamental uma avaliação profissional cautelosa da situação. "Em alguns casos, a falta de tratamento acaba trazendo mais prejuízos para o bebê".
Temendo ter problemas, a estudante Yasmim Elias, de 20 anos, fez acompanhamento odontológico durante toda a gestação porque queria ter uma gravidez tranquila. "Eu já tinha conhecimento que é fundamental associar o pré-natal ao atendimento odontológico", explica.
O dentista alerta que é comum encontrar mulheres com perdas dentárias nas clínicas odontológicas justamente porque deixaram de fazer o acompanhamento durante a gestação.
O professor de odontopediatria e clínica integrada infantil da Unopar, Paulo Christino Neto, salienta que, apesar de comum, é equivocada a crença de que gestantes não devem ir ao dentista. "Além de prevenir o nascimento prematuro, os cuidados com a saúde bucal também evitam a perda de dentes nesta fase", orienta.
Neto orienta que hoje existem medicamentos e procedimentos que podem ser realizados no período gestacional sem contraindicações. Para ele, redobrar o cuidado com a saúde bucal é fundamental. "As alterações hormonais durante o período gestacional são muito complexas e deixam a gestante mais suscetível ao aparecimento de infecções e cáries".
Yasmim conta que sua busca por acompanhamento odontológico durante a gravidez não foi apoiada por todas as pessoas. "As mulheres de mais idade da minha família me disseram que eu não poderia mexer nos dentes enquanto estivesse grávida", lembra. Além de contrariar familiares nesta questão, a estudante buscou orientação nutricional e suplementação vitamínica, que auxiliaram na prevenção de problemas bucais.
Enjoos
Os enjoos constantes nesta época também merecem atenção especial. Christino Neto explica que junto com o vômito é liberado um ácido que corrói os dentes, por isso é muito importante que a higiene bucal seja feita sempre após estes episódios.
Apesar de não ter sentido enjoos, Yasmin conta que sentiu diferença na boca durante o período gestacional. "Eu percebi que a gengiva estava mais sensível e por isso dei uma atenção maior à higiene bucal", destaca. Segundo ela, as mudanças alimentares também foram positivas. "Evitei doces durante todos estes meses porque sei que a incidência de cáries em gestantes também é maior", comenta.
A melhor época para se fazer o tratamento odontológico é entre o terceiro e o sexto mês. "No primeiro trimestre, fazemos o atendimento com mais cautela e, no último trimestre, é mais difícil porque a mãe fica desconfortável por conta do peso da barriga", ressalta Christino Neto.