O tempo médio dos brasileiros em frente à televisão aumentou uma hora e 20 minutos durante a pandemia do novo coronavírus. Além disso, dos 30% que faziam atividade física por mais de 150 minutos por semana, tempo recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o percentual caiu para 13%.

Imagem ilustrativa da imagem Inatividade física: o lado 'B' da pandemia
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Esses números são resultados do projeto “Convid - Pesquisa de Comportamento”, que ouviu 44.062 brasileiros entre os dias 24 de abril e 8 de maio. Do total de respondentes, 62% não estão fazendo atividade física. O estudo, que tem o objetivo de verificar como o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 afetou ou mudou a vida da população, foi conduzido pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Esse contexto no qual os brasileiros estão vivendo pelo menos nos últimos três meses podem acelerar uma realidade que há muito tempo vem sendo observado em uma curva crescente: o sedentarismo e, com ele, o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, AVC (acidente Vascular Cerebral), entre outros.

MAIS DA METADE

O endocrinologista Mario Kedhi Carra, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), explica que o paciente com excesso de peso e com diabetes são mais suscetíveis a ter outras complicações em saúde, como por exemplo a infecção pelo Sars-CoV-2. “Porque o tecido gorduroso em excesso é inflamatório. É como se ele já fosse doente”, diz.

No Brasil, 20% da população acima dos 18 anos são de obesos e cerca de 56% (também acima desta idade) estão com sobrepeso. “Ou seja, temos uma população adulta no Brasil onde mais da metade tem excesso de peso, o que não é bom em termos de saúde pública, pois é fator de risco para várias doenças”, enfatiza.

Dados da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), divulgada no ano passado, apontam que em 2018 foram registradas 12.438 internações por obesidade, gerando um gasto de R$ 64,3 milhões no SUS (Sistema Único de Saúde) e ocupando o 4° lugar entre as internações por causas endócrinas, nutricionais e metabólicas.

A World Obesity, comunidade global de organizações dedicadas a resolver os problemas da obesidade, alerta para o fato de que a pandemia do novo coronavírus pode contribuir para um aumento nas taxas de obesidade.

“E as comorbidades associadas ao sedentarismo potencializam os efeitos do coronavírus. Deixamos de prestar atenção nisso porque estamos com a atenção voltada para esta nova doença, mas o sedentarismo já é uma pandemia declarada pela OMS em 2012. É um problema de saúde pública mundial e a estimativa é de que cerca de 3,2 milhões de mortes no mundo estão associadas ao sedentarismo”, afirma Felipe Arruda Moura, docente no Departamento de Ciências do Esporte da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Além do impacto na mobilidade e prática de exercícios físicos, a entidade também destaca o consumo de alimentos processados e enlatados, além da interrupção de programas de perda de peso (geralmente entregues em grupos) e intervenções médicas, como cirurgias, que estão restritas no momento.

Patricia Maria Alves - Grupo Folha

FORTALECIMENTO DO SISTEMA

A pesquisadora Daisy Motta Santos, do Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional de UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), diz em entrevista à Rádio UFMG Educativa que, “estudos sugerem que a inatividade física está associada a mais de 30 doenças crônicas, que poderiam ser prevenidas por uma mudança no estilo de vida”.

Ela integra um estudo em andamento que busca avaliar a relação entre exercício físico e a manifestação da Covid-19 e lembrou que “a prática de atividade física é importante para fortalecer o sistema imune, melhorando a saúde e reduzindo riscos de várias doenças.”