Idosos no trânsito: risco de dirigir após uso de medicamentos
Alguns remédios comprometem a concentração, coordenação motora, os reflexos e a capacidade de dirigir; confira os mais comuns
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Alguns remédios comprometem a concentração, coordenação motora, os reflexos e a capacidade de dirigir; confira os mais comuns
Patrícia Pasquini - Folhapress
São Paulo - Idosos que fazem uso de antidepressivos, ansiolíticos, sedativos, antialérgicos, medicamentos que reduzem a glicose, analgésicos opioides e relaxantes musculares devem redobrar a atenção ao volante. Essas medicações comprometem a concentração, coordenação motora, os reflexos e a capacidade de dirigir, aumentando o risco de acidentes de trânsito.
O alerta é um dos capítulos da cartilha "Tenha uma Direção Segura! Manual da Pessoa Idosa Condutora", voltada à população com 60 anos ou mais e familiares, elaborada pela disciplina de geriatria e gerontologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego) e pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).
DOENÇAS CRÔNICAS
"O idoso começa a ter doenças crônicas, como o diabetes, cardiopatias, doenças neurológicas e, por isso, toma muitos medicamentos. O remédio para diabetes, por baixar muito o açúcar, pode fazer com que ele perca a consciência na direção. Os mais velhos também têm insônia e esse tipo de medicação interfere na direção veicular. As dores crônicas, às vezes, não passam com analgésicos comuns e há necessidade de utilizar os mais fortes", explica, diretor-científico da Abramet, Flavio Adura.
"Os sedativos, anticonvulsivantes, antidepressivos e os calmantes, em geral, são problemáticos para o idoso ao volante. Podem causar sonolência, desatenção, tontura, mal-estar, sudorese, palpitação e outros sintomas de hipoglicemia", orienta a médica Fânia Cristina dos Santos, doutora em geriatria e gerontologia da Unifesp e membro da Comissão de Dor da SBGG e do Comitê de Dor no Idoso da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor.
"Se ele sentir um dos sintomas mesmo tomando a medicação receitada pelo médico, precisa informar ao profissional e evitar a direção", afirma.
A especialista também chama a atenção para o perigo do uso indiscriminado de remédios vendidos sem a exigência de receita, como os antialérgicos e relaxantes musculares.
"Os idosos precisam conversar com o médico sobre as medicações que usa e as interferências na direção. Tenho muitos pacientes que não deveriam estar dirigindo, mas insistem. Para eles, dirigir é uma questão de empoderamento", diz a médica.
ÁLCOOL E SONO
A cartilha, lançada em maio, reúne aspectos que devem ser observados quando atrás do volante há um motorista com 60 anos ou mais.
Além do uso de medicações, o material aborda o consumo de álcool, cuidado com o sono e a alimentação, atenção à saúde, dicas para a manutenção dos veículos, para o trânsito do pedestre com idade e de direção segura.
Entre as recomendações estão: evitar dirigir à noite, em horários de pico e com tempo ruim; ficar perto de onde mora; evitar longas distâncias; dirigir sempre com um conhecido; descansar após uma hora e meia na direção; fazer exames oftalmológicos e de audição com maior frequência.
O status de força e vitalidade também é um ponto bastante valorizado pelos geriatras quando o assunto envolve pilotar um automóvel. Segundo Fânia Cristina dos Santos, atualmente, para liberar a carteira de habilitação aos idosos há a inclusão do medidor de força de pressão palmar nas avaliações.
DOR E DIREÇÃO SEGURA
"Como estão suas juntas e músculos?" é uma das questões abordadas no manual. "Apesar de sentados, nos movimentamos muito atrás do volante. Sentir dor ou dificuldade para mexer as juntas e partes do corpo atrapalha a direção. Essas dores podem ser alterações osteoarticulares ou neuromusculares, como osteoartrites, hérnias de disco e torcicolos", explica a geriatra.
A mobilidade é um dos requisitos para dirigir com segurança. "Você tem que manobrar, estacionar, movimentar o pescoço. Precisa ter a perna forte para pisar no freio. Isso está relacionado à alimentação, força e prática de atividade física. O momento de parar de dirigir não depende da idade, mas da funcionalidade da pessoa", ressalta Santos.
"A sociedade se mobiliza sobre rodas e a perda da habilidade de dirigir é dolorosa. Há trabalhos que mostram que a pessoa idosa, quando para de dirigir, entra em depressão, tem mais internações hospitalares e términos de relacionamentos. Fizemos essa cartilha para chamar a atenção do idoso e dos familiares para o momento de parar de dirigir", observa Adura.
Conforme a legislação de trânsito em vigor no país, a renovação da CNH deve ocorrer a cada dez anos, para condutores com idade inferior a 50; com periodicidade de cinco, para quem tem de 50 a 69 anos; e de três em três, para os motoristas com 70 anos ou mais.
ALGUNS MEDICAMENTOS PARA TER ATENÇÃO AO DIRIGIR
Antidepressivos: fluoxetina, amitriptilina, mirtazapina e trazodona
Ansiolíticos e sedativos: diazepam, lorazepam e clonazepam
Antialérgicos: dexclorfeniramina
Medicamentos que reduzem a glicose: glibenclamida, gliclazida e insulina
Analgésicos opioides: tramadol, metadona e morfina
Relaxantes musculares: ciclobenzaprina e orfenadrina
DICAS AOS MOTORISTAS
Dirija com atenção!
Use SEMPRE o cinto de segurança!
Evite dirigir à noite, ao amanhecer e ao anoitecer.
Faça caminhos conhecidos. Prefira ir para locais próximos de casa.
Evite dirigir em horários de pico ou com tempo ruim (chuva, neblina, ventania).
Evite dirigir longas distâncias. Se isso acontecer, pare para descansar após 1,5h de direção.
Prefira dirigir acompanhado de algum conhecido.
Pergunte ao seu copiloto como você está dirigindo.
Faça uma autoavaliação sobre como dirigiu e se está conduzindo de maneira segura.
Vá ao médico regularmente.
Esteja em dia com o oftalmologista.
Em caso de dificuldade para ouvir, marque consulta com o otorrinolaringologista.
FUI ORIENTADO A PARAR DE DIRIGIR, E AGORA?
Um dos melhores benefícios de dirigir é a locomoção. Mais importante que o trajeto e meio de transporte, é chegar ao destino desejado.
Aconselhamos a todos que pensem em formas alternativas de transporte. Se não pudesse dirigir, como iria para o local? Pode ser um bom momento para aprender a mexer em um aplicativo, conseguir contato de um taxista, pedir carona para um conhecido.
É de extrema importância que a pessoa idosa mantenha encontros sociais, momentos de lazer, afazeres domésticos, prática profissional e atividades espirituais que já realiza. Evitando que parar de dirigir restrinja o idoso a ficar em casa.
Quando pensamos em vida saudável, além da segurança, é fundamental priorizarmos uma vida ativa.
(Com Manual da Pessoa Idosa Condutora)