A espera nunca foi tão especial para Valdemir Pereira, 51. Em poucas semanas ele será submetido à cirurgia de ECP (Estimulação Cerebral Profunda) em busca de uma melhora no dia a dia dos sintomas da DP (Doença de Parkinson). “Vai mudar tudo para mim. Estou tranquilo, só esperando esse dia chegar”, disse, exibindo um sorriso de esperança. Pereira convive com a doença há 10 anos e será o primeiro paciente em Londrina a ser beneficiado com o tratamento neurocirúrgico pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Valdemir Pereira, sobre a cirurgia:  É como se eu voltasse dez anos na minha vida"
Valdemir Pereira, sobre a cirurgia: É como se eu voltasse dez anos na minha vida" | Foto: Gina Mardones - Grupo Folha

A data da cirurgia ainda não está definida, mas o neurocirurgião Marcos Antônio Dias garante que ela acontecerá no mês de dezembro. Ele, que foi pioneiro da técnica em Londrina, explica que o procedimento já é realizado na rede privada ao custo médio de R$ 100 mil. E acredita que a cirurgia de Pereira vai abrir as portas para outros pacientes na rede pública de saúde.

A ECP traz resultados na parte motora, mas tendo uma melhor qualidade de vida o paciente resgata a autoestima e a vida social. Isso, segundo o neurocirurgião, acaba estimulando o cognitivo, podendo impactar, por exemplo, na memória.

Pereira foi avaliado criteriosamente para ter a indicação cirúrgica. “Os elegíveis são aqueles que têm mais de cinco anos da doença, período em que o paciente geralmente tem alterações motoras de caminhada. Cerca de 40% dos pacientes parkinsonianos têm a possibilidade de fazer esta cirurgia”, destacou.

Além disso, o cirurgião diz que Pereira tem bom controle da doença com o uso de medicamentos diários e a manutenção da rotina, com atividades físicas. “Faço musculação, corrida e tento manter todos os afazeres. É claro que a doença me limitou muito. Eu era professor de Artes, mas a coordenação motora já não é mais a mesma”, contou, desviando o olhar para as paredes da academia de ginástica, onde é proprietário, ao lado da mulher Marlene.

FRASES OTIMISTAS

A decoração colorida, cheia de vida e com frases otimistas revela a esperança que Pereira nunca deixou de nutrir. “Acho que alimento essa expectativa desde quando descobri a doença. O médico disse que eu posso ter uma melhora de até 85% dos sintomas. Ou seja, não vou sentir tanta rigidez muscular, lentidão nos movimentos e falta de equilíbrio. É como se eu voltasse dez anos na minha vida. As pessoas vão parar de me olhar com indiferença, pois elas ficam incomodadas com o tremor e muitas até acham que é contagioso”, desabafa.

Para Marlene, companheira há 25 anos de Pereira, o acesso à cirurgia é um direito do marido em viver dias melhores. “Ele vai dormir direito, comer melhor e não vai mais sentir vergonha, sofrer preconceito. Esses já são muitos passos para que ele seja bem mais feliz”.

ENTENDA A CIRURGIA

"Cerca de 40% dos pacientes parkinsonianos têm a possibilidade de fazer esta cirurgia”, afirma o neurocirurgião Marcos Antônio Dias
"Cerca de 40% dos pacientes parkinsonianos têm a possibilidade de fazer esta cirurgia”, afirma o neurocirurgião Marcos Antônio Dias | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

Na cirurgia de ECP (Estimulação Cerebral Profunda), o neurocirurgião implanta um eletrodo no cérebro do paciente acordado. O implante é feito através de um pequeno orifício no crânio. A área a ser estimulada é estudada a fundo pelos cirurgiões, que, ao atingir o local correto, fazem uma estimulação externo temporária para saber se o paciente responde ao estímulo.

Esse é o motivo pelo qual é importante ele estar acordado. O eletrodo é conectado a um minicomputador (espécie de bateria) que é implantado na região do peito, como se fosse um marcapasso cardíaco.

Com base nas informações da cirurgia, o neurologista irá programar esse minicomputador via bluetooth. “Essa capacidade de individualizar o tratamento é uma grande característica dessa técnica, pois o aparelho é programado de acordo com as necessidades de cada paciente. E esse simulador cerebral profundo irá mimetizar o melhor efeito do remédio, sem variação “, explica o neurocirurgião Marcos Antônio Dias.

TRATAMENTO OURO

Todas as pessoas que têm DP devem fazer uso de medicamentos. É o tratamento “ouro”, padrão. Entre as medicações, o principal é a Levodopa. Vale lembrar que o paciente que é submetido à cirurgia continua parkinsoniano e, portanto, segue tomando os remédios. Mas a cirurgia vem ajudar em casos em que o efeito do medicamento começa a apresentar flutuação ou curta duração, situação que pode ocorrer em determinadas fases da doença. “Com isso, a previsibilidade (sobre o efeito do remédio) começa a ficar confusa”, explica o neurocirurgião Marcos Antônio Dias.

ACESSO

A cirurgia em Valdemir Pereira pode abrir as portas do HU (Hospital Universitário) de Londrina para que outros pacientes parkinsonianos possam se beneficiar com o tratamento. De acordo com o neurocirurgião, cerca de 500 pacientes com Parkinson são atendidos no hospital. O HU é referência em serviços de saúde em todo o Norte do Paraná.

Imagem ilustrativa da imagem HU fará a primeira cirurgia para Parkinson pelo SUS em Londrina
| Foto: Folha Arte