Stela, no colo da mãe Bruna Gonçalves: família é de Guarapuava e a menina passou por cirurgia em Londrina
Stela, no colo da mãe Bruna Gonçalves: família é de Guarapuava e a menina passou por cirurgia em Londrina | Foto: Gina Mardones - Grupo Folha

A cardiopatia congênita é uma das doenças mais comuns em bebês e acomete um em cada cem nascidos vivos. O problema na estrutura do coração é a terceira causa de mortalidade infantil neonatal e está relacionado a cerca de 10% dos óbitos infantis e a 20% a 40% das mortes decorrentes de malformações. Dados da SBCCV (Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular) apontam que, no Brasil, quase 30 mil crianças nascem com a anormalidade todos os anos, mas 65% delas não têm acesso ao tratamento médico adequado.

O Paraná se destaca na rede de atenção à cardiopatia congênita e, em Londrina, o Hospital Infantil Sagrada Família é referência no Estado em atendimento cardíaco em recém-nascidos. A unidade de saúde é a única referenciada em Londrina e na Região Norte para assistência a pacientes que chegam pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Em 2018, 130 cirurgias cardíacas foram feitas no hospital.

“A gente faz cirurgias cardíacas desde 1999. São 20 anos de experiência no tratamento de cardiopatias congênitas”, destacou o cirurgião cardíaco pediátrico Luiz Takeshi. Em duas décadas, foram realizados no hospital mais de dois mil procedimentos cirúrgicos. Para a maioria das cardiopatias congênitas, diz o médico, há indicação de cirurgia. Com tratamento e diagnóstico corretos, mais de 90% dos casos poderiam ser salvos, mas 65% das crianças não têm acesso nem ao diagnóstico nem ao tratamento.

Há dois anos, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional de Assistência à Criança com Cardiopatia Congênita com o objetivo de reduzir a taxa de mortalidade infantil no País para que fique abaixo dos dois dígitos. No Paraná, estado com a terceira melhor taxa, são 10,9 mortes para cada mil nascidos vivos. O governo federal entende que o investimento no tratamento da cardiopatia congênita é fundamental para a redução das mortes de bebês até um ano de idade.

O plano viabilizou que os grandes centros do Brasil realizassem cirurgias cardíacas. Mas ainda há muito a avançar. “O ideal é diagnosticar a cardiopatia no pré-natal, com o ecocardiograma fetal realizado na 28ª semana de gestação, mas não é o que se observa. A maioria das crianças que chegam para a gente é diagnosticada após o nascimento e em condições muito graves”, destacou Takeshi. No Hospital Infantil, 32% das cirurgias são realizadas em pacientes neonatais, até um mês de vida. Cem por cento dos procedimentos são de urgência.

“A realização de cirurgias cardíacas requer uma estrutura muito complexa. Um centro cirúrgico adequado, UTI com especialistas em cardiopediatria, uma equipe multiprofissional com enfermeiros, fisioterapeutas. Existem regras para se conseguir o credenciamento pelo SUS”, explicou Takeshi. “Todos os casos de cardiopatia têm como ser resolvidos aqui mesmo, no Hospital Infantil. Nosso perfil é para tratamento de casos de alta complexidade. Praticamente todos os dias chegam novos pacientes.”

FORA DE LONDRINA

Entre os procedimentos cirúrgicos realizados na instituição, 65% são em crianças de fora de Londrina. Além do atendimento aos pacientes, o Hospital Infantil também dá assistência às famílias que muitas vezes não têm onde ficar. Em parceria com a Associação de Assistência a Crianças Cardiopatas Pequenos Corações, entidade fundada em São Paulo e que durante dez anos trabalhou orientando e apoiando pacientes e familiares, a Irmandade Santa Casa de Londrina, mantenedora do Hospital Infantil, construiu dentro da unidade de saúde dois quartos de apoio para hospedar as mães das crianças em tratamento.

Desde janeiro de 2017, quando a estrutura foi inaugurada, mais de 200 mães foram acolhidas. As suítes são equipadas com televisão e frigobar e além do acolhimento, a instituição também serve refeições. Não há prazo de permanência e as mães podem ficar até seus filhos receberem alta médica.

'É UM ALÍVIO'

Os casos mais graves de cardiopatia têm indicação para cirurgia logo após o nascimento, mas a maioria dos casos demanda tratamento cirúrgico antes de a criança completar o primeiro ano de vida. Foi assim com Stela, de cinco meses. Uma semana antes dela nascer, o exame de ecocardiografia indicou uma anomalia no coração do bebê. O médico, então, recomendou que a mãe, Bruna Gonçalves, realizasse um ecocardiograma fetal, mas antes que o exame pudesse ser feito, a menina nasceu em uma cesariana de emergência. “No primeiro exame apareceu um líquido em volta do coração dela”, contou a mãe.

A família vive em Guarapuava (Centro), mas a primeira vaga que surgiu foi para o Hospital Infantil, em Londrina. Quatro dias após o nascimento de Stela, os pais e o bebê vieram de avião para o Norte do Estado. A menina veio entubada. “Ela ficou 17 dias na UTI e mais dois dias no quarto. Fomos embora e, uma vez por mês, voltávamos para fazer o acompanhamento.”

No final de agosto, Stela passou por uma cirurgia e teve uma ótima recuperação. No dia 30, a família voltou para casa. “Essa espera da cirurgia, de quando ela nasceu até hoje, é muito angustiante, foi muito difícil. Quando passa, é um alívio”, diz a mãe. Agora, Stela passará por acompanhamentos periódicos a cada 15 dias com a equipe médica do hospital e em um ou dois anos deverá ser submetida a um novo procedimento cirúrgico.