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Saúde 5m de leitura

Hábitos sem eficácia contra Covid persistem mesmo sem evidências

Medição de temperatura, tapetes sanitizantes, cardápio por QR Code ficam como legado de medidas ineficientes

ATUALIZAÇÃO
26 de novembro de 2021

Isabela Palhares – Folhapress
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São Paulo - A pandemia ainda não acabou, mas alguns hábitos adquiridos durante a crise sanitária já poderiam ter tido fim. Mesmo comprovadas cientificamente como ineficazes para impedir a transmissão do coronavírus, algumas medidas continuam sendo usadas em estabelecimentos comerciais e órgãos públicos. 

 

 Medição de temperatura, tapete sanitizante, substituição de cardápios físicos por QR Code se tornaram um legado de práticas que persistiram a 18 meses de pandemia e evidências científicas que mostraram sua ineficiência contra a Covid. 

 "A ciência já comprovou que a medição de temperatura é completamente inócua para controlar a Covid. Além de não ser efetiva diante da forma como a doença se manifesta, a prática é completamente sem sentido da maneira como é feita, com equipamentos sem calibragem ou medição no pulso", diz o infectologista Carlos Fortaleza, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). 

 Ele explica que a medida é ineficaz, já que menos da metade das pessoas infectadas com Covid têm febre. Além de que o aumento da temperatura corporal costuma aparecer depois de outros sintomas da doença. 

 "É uma medida inútil e custosa para os estabelecimentos. Por ser custosa, muitos lugares acabam usando equipamentos de baixa qualidade, que não têm calibragem confiável para verificar se a pessoa está mesmo com febre", destaca a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). 

 Para os especialistas, outras medidas de menor custo são mais eficientes, como o preenchimento de questionários sobre sintomas em locais de frequência diária, como escritórios e escolas. Por esse instrumento, os frequentadores podem relatar outros sintomas mais comuns da doença, como cansaço, perda de olfato, dor de cabeça ou de garganta.  

A aplicação dos questionários, no entanto, precisa ser monitorada para que as pessoas sintomáticas sejam encaminhadas para testagem ou isolamento.  

Outras práticas já reconhecidamente ineficazes contra a Covid são o uso de tapetes sanitizantes ou a retirada dos sapatos na entrada de casa. Para os especialistas, a medida pode ser importante do ponto de vista higiênico, mas não para evitar o vírus. O mesmo em relação a lavar as roupas com produtos especiais ou assim que chegar em casa ou ainda usar roupas com tecido vendido como "antiviral". 

 "A transmissão do coronavírus é pelas gotículas que liberamos pelas vias respiratórias, ou seja, é pelo ar. A transmissão por superfícies, seja roupa ou sapato, é desprezível. O importante é higienizar as mãos para evitar o contato delas com a boca, nariz e olhos, que é por onde pode ocorrer o contágio", diz Fortaleza. 

 Exatamente pelas evidências de que a chance de transmissão por superfícies é muito baixa, os especialistas também ressaltam que outras práticas defendidas no início da pandemia são pouco eficazes, como a higienização de embalagens e compras ou evitar tocar maçanetas e botões de elevador.  

"No começo da pandemia, quando ainda tínhamos poucas informações sobre o comportamento do vírus, essas recomendações foram feitas. Hoje, sabemos que a contaminação por superfícies é desprezível", diz Stucchi.  

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