São Paulo - Comum em boa parte da produção de alimentos no Brasil, a utilização de agrotóxicos para evitar insetos, larvas, fungos e carrapatos deixa resíduos nos alimentos que consumimos. "A melhor forma de se proteger e evitar a ingestão de agrotóxicos é optar pelos alimentos orgânicos, porque estes não contém nenhum tipo de pesticida. Mas se isso não for possível, você pode optar pelas frutas, verduras e legumes de época [que recebem menos agrotóxicos na produção]", explica Juliana Nabarrete, nutricionista e membro do comitê de nutrição da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia).

Imagem ilustrativa da imagem Frutas e verduras de época têm menos resíduos de agrotóxicos
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Outra medida é higienizar os alimentos com água corrente, colocá-los de molho com hipoclorito de sódio e evitar consumi-los com casca. "Os alimentos que mais contém agrotóxicos, segundo estudos realizados pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] são: pimentão, morango, alface, pepino, abacaxi, cenoura, laranja, uva, mamão e tomate. Quando impossível realizar a aquisição de 100% das frutas, verduras e legumes de produção orgânica, invista pelo menos nesses alimentos que são contaminados e realize os procedimentos de higienização no restante", explica a nutricionista.

Segundo a especialista, "a exposição aos agrotóxicos, sejam eles fungicidas, inseticidas ou herbicidas, pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e da quantidade de produto absorvido pelo organismo."

REALIDADE SOCIOECONÔMICA

Herling Gregorio Aguillar Alonzo, professor e pesquisador do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, afirma que é importante olhar a realidade socioeconômica do país. "A opção é tentar reduzir os danos, porque o país não vai mudar o modelo produtivo", avalia. Segundo ele, uma das formas de minimizar a dificuldade em comprar orgânicos é verificar se existem pequenos produtores por perto, já que estes costumam utilizar menos pesticidas.

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DOENÇAS

Os efeitos da exposição aos agrotóxicos podem ser agudos como irritação na pele, ardência, desidratação, alergias; ou crônicos (que aparecem após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado). Neste caso, são doenças mais graves como câncer e infertilidade. "Os estudos internacionais que apresentam dados de níveis seguros de exposição são questionáveis, pois nenhum ambiente está 100% livre de agrotóxicos", analisa Juliana Nabarrete.

Segundo a nutricionista, "o uso desenfreado nos últimos anos, extremamente intensificado com a liberação no Brasil de produtos que são proibidos em outros países, criou uma contaminação desenfreada de solo, lençol freático, animais e alimentos. As grandes quantidades utilizadas das substâncias químicas já disseminadas tornaram toda a população suscetível".

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), os principais afetados são os agricultores e trabalhadores das indústrias de agrotóxicos, que sofrem diretamente os efeitos. Toda a população está suscetível a exposições, por meio de consumo de alimentos e água contaminados. Gestantes, crianças e adolescentes também são considerados um grupo de risco devido às alterações metabólicas, imunológicas ou hormonais.