Um ato simples de higiene é a melhor prevenção contra o câncer de pênis. Mas os números têm demonstrado que esse hábito não faz parte do dia a dia de muitos homens. Por conta do tumor, cerca de 1.600 mil amputações (total ou parcial) ocorrem todos os anos no Brasil.

Imagem ilustrativa da imagem Falta de higiene do pênis pode causar câncer
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O alerta é do comitê científico do LAL (Instituto Lado a Lado pela Vida), de São Paulo. A entidade, que criou a campanha Novembro Azul para falar com o público masculino sobre câncer de próstata, lança agora a ação “Lave o Dito Cujo” como um alerta para a importância de os homens lavarem diariamente o órgão genital.

O urologista em Londrina, Vinicius Panico, membro do comitê científico do LAL, explica que a não higiene do pênis aumenta a produção e o acúmulo da secreção chamada esmegma (secreção branca resultante da descamação celular). “Ela faz uma agressão ácida na mucosa do pênis que propicia, além de infecções, as regenerações celulares que podem levar ao desenvolvimento do câncer”.

ESTIMATIVA

A estimativa no Brasil é de que o câncer de pênis representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem. Dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) apontam que para cada ano do triênio 2020-2022 são previstos mais de 625 mil novos casos, sendo quase a metade (309.230) em homens.

No HCL (Hospital do Câncer de Londrina) foram registrados oito novos casos de câncer de pênis em 2019 e a média anual nos últimos cinco anos tem sido de sete casos.

LESÕES

Os primeiros sinais da doença são o surgimento de lesões planas, avermelhadas e que vão crescendo até tomar proporções semelhantes a um nódulo. “As lesões podem ter um crescimento para fora ou para dentro e invadir outras estruturas comprometendo todo o pênis”, explica o urologista Vinicius Panico.

Para confirmar o diagnóstico é preciso fazer uma biópsia. O médico irá coletar uma amostra da lesão e encaminhará para análise microscópica. Panico, que é especialista em Uro-oncologia e assistente no Hospital do Câncer de Londrina, comenta que nessas situações é bastante comum o homem se “esconder” não só do urologista, mas de toda a família.

“Muitas vezes, quando eles chegam no consultório já estão em estágio bem avançado da doença. Por isso é importante dizer que quanto antes o diagnóstico menor será o nível de intervenção e maiores serão as chances de cura”, pontua.

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| Foto: Folha Arte

TRATAMENTO

Sobre o tratamento, ele explica que pode ser feita desde uma ressecção da lesão até a amputação total do pênis. “Vai depender do grau de comprometimento do tumor.” Sobre uma possível disfunção sexual, Panico responde que isso pode acontecer se o tumor, por exemplo, atingir o corpo cavernoso, responsável pela ereção.

“O momento ideal para os homens procurarem o urologista é na puberdade, assim como o ginecologista é procurado pelas mulheres, pois o médico poderá identificar se há ou não fatores de risco e poderá orientar sobre a vacinação do HPV e os cuidados para iniciar a vida sexual de forma saudável”, ressalta.

FATORES DE RISCO

O HPV (Papilomavírus Humano) e a fimose (pele abundante que cobre a cabeça do pênis) também são considerados fatores de risco. No caso da fimose, o urologista diz que a higiene pode ficar comprometida pela dificuldade de acessar a glande (cabeça do pênis), o que oportuniza as infecções.

Já o HPV é um vírus que infecta a pele ou mucosas (oral, genital ou anal) em homens e mulheres, provocando verrugas na região genital e no ânus, além do câncer. Ele é uma das IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e os primeiros sinais surgem de dois a oito meses, mas também podem demorar anos.

VACINA GRATUITA

O que médicos e o próprio MS (Ministério da Saúde) têm buscado ao longo dos últimos anos é conscientizar a população sobre a prevenção do HPV através da vacina, que é distribuída gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Devem se vacinar com duas doses, meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, além de pessoas que vivem com HIV e pessoas transplantas na faixa etária de 9 a 26 anos. Mas apesar dos esforços, a cobertura vacinal ainda é baixa.

“Recentemente, estive em um Fórum em Brasília sobre a saúde do homem e os dados da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) revelam que menos de 40% dos homens têm a imunização completa do HPV, ou seja, tomaram as duas doses na fase adequada”, afirma.

CAMPANHA

Desde 2008, o Instituto Lado a Lado pela Vida, de São Paulo, se dedica a levar informações sobre a saúde integral do homem. Através de campanhas, a entidade visa conscientizar o público sobre hábitos de vida com foco na prevenção de doenças.

Uma delas é o Novembro Azul que se disseminou por todo o País para alertar sobre o câncer de próstata. Agora, a entidade acaba de lançar um calendário virtual nas redes sociais que traz a cada dia o lembrete sobre a higiene peniana associado a um “apelido” que o órgão ganha por todos os cantos do País. O perfil “Lave o Dito Cujo” já alcançou mais de 22 mil seguidores.

“É uma campanha bem-humorada para falar de um assunto muito sério. A ideia é fazer uma alerta para uma atitude simples, pois não lavar o pênis leva a ter o câncer”, conta Fernanda de Carvalho, diretora de comunicação do Instituto.