Um estudo realizado por uma das mais prestigiadas universidades do mundo - a Harvard School of Public Health (HSPH) - acendeu uma discussão entre profissionais da área de urologia. Isso porque a nova pesquisa publicada no Journal of Clinical Oncology aponta que a vasectomia (método de contracepção masculina) pode estar associada com o aumento do risco de câncer de próstata.
A publicação revela que foram analisados os dados de 49.405 voluntários com idades entre 40 e 75 anos, acompanhados entre 1986 e 2010. Durante esses 24 anos foram diagnosticados 6.023 casos de câncer de próstata, sendo 811 letais. Um em cada quatro participantes havia feito vasectomia. Os resultados, então, mostraram um aumento de 10% do risco de desenvolver câncer de próstata em homens que realizaram o procedimento.
"Ainda não podemos jurar que a vasectomia agrava a condição do câncer de próstata, mas esta nova situação abre uma porta para a importância de se aprofundar mais no tema. É preciso entender quais são as mudanças provocadas no meio interno quando o paciente é submetido à vasectomia, assim como a alteração química e o estímulo enviado para que eventualmente piore o prognóstico ou o paciente passe a correr um risco maior", avalia José Carlos de Almeida, coordenador geral do Departamento de Uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
O urologista Cid Janene El Kadre, de Londrina, ressalta ainda que existem diversos trabalhos atuais, apontando que não existe relação da vasectomia com a incidência de câncer de próstata. "O paciente que é vasectomizado não vai mudar o protocolo. Como o câncer de próstata é mais comum a partir dos 45 anos, todo homem nesta fase deve fazer os exames de prevenção", diz.
Para Almeida, por ser um estudo extenso e com um número muito grande de pacientes, não se pode desprezar totalmente as informações obtidas. Por isso, ele acredita que é preciso inserir esses dados nas consultas médicas para os pretendentes da vasectomia. "Na verdade, o trabalho não diz que a vasectomia origina o câncer, mas que piora o prognóstico dos pacientes em situação de tumores mais avançados", completa.
Porém, tão importante quanto discutir novos estudos relacionados à doença, os especialistas ressaltam a necessidade de maior atenção à saúde da população masculina. O câncer de próstata é hoje o segundo que mais acomete homens, atrás somente do câncer de pele não-melanoma. Para se ter uma ideia, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que neste ano possam surgir mais 68 mil novos casos.
O INCA ainda mostra que no Paraná a taxa estimada para a doença é de 96,76 casos para cada 100 mil homens. "O maior desafio é o governo se sensibilizar com a política do homem. É criar projetos verdadeiramente úteis para essa população, tanto para educar, orientar, facilitar a informação e oferecer acesso a um serviço especializado. O homem precisa e merece mais atenção", salienta Almeida.

Imagem ilustrativa da imagem Estudo relaciona vasectomia com câncer de próstata