O luto ao perder um filho é sofrido, difícil e imensurável. A dor ainda pode anestesiar os pais. Na família dos empresários Valter e Jane Martins Orsi, de Londrina, a tristeza foi transformada em esperança e ação. Eles perderam o filho caçula, Mateus Martins Orsi, em outubro de 2020, vítima de câncer. Desde então, têm se dedicado à criação do “Instituto Mateus do Bem”, que visa difundir a importância do tratamento paliativo. O casal também tem uma filha juntos.

Valter e Jane Orsi: “Aprendemos com a vida ao cuidar do Mateus. Queremos que esse legado possa ser usufruído por outras pessoas”
Valter e Jane Orsi: “Aprendemos com a vida ao cuidar do Mateus. Queremos que esse legado possa ser usufruído por outras pessoas” | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A OMS (Organização Mundial da Saúde) destaca que os cuidados paliativos consistem na “assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento”. “É dar dignidade à pessoa, fazer o que ela precisa e não o que você quer”, ressaltou Valter Orsi.

Mateus foi diagnosticado com um tumor no cérebro em 2018, que resultou em metástase. Parte do tratamento foi no GRAAC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), em São Paulo, no entanto, diante da gravidade do caso, o jovem foi ficando cada vez mais debilitado. Foi neste período que a família teve um maior contato e esclarecimento sobre o tratamento paliativo. Mateus recebeu cuidados em casa durante cerca de quatro meses, até falecer, aos 18 anos.

“As dificuldades foram aumentando, ele foi perdendo todos os movimentos. Em casa tinha nossa companhia. Ele fazia administração, queria ser empresário, gostava de jogar futebol e era uma pessoa parceira, que aglutinava muitas pessoas ao redor dele”, relembrou o pai, emocionado.

Orsi citou que o instituto foi fundado com três pilares: dar publicidade ao tema; facilitar mudanças nos hospitais, equipando quartos específicos para estes pacientes; e disponibilizar equipamentos para utilização domiciliar. “Precisamos orientar a sociedade sobre isso. No hospital tem que ter um apartamento para tratamento paliativo, com luz adequada, conforto. Emprestando aparelhos, damos qualidade de vida para a pessoa”, elencou. Os atendidos pela entidade deverão ser direcionados pelos serviços de assistência social dos hospitais.

PROJETO

Após descobrir a doença, Mateus teve a ideia de fabricar grelhas de churrasco, usando materiais que sobravam da produção da indústria do pai. O dinheiro das vendas seria revertido ao Hospital do Câncer de Londrina. O projeto está sendo retomado, adaptado aos propósitos do instituto. A intenção é de que o instituto seja autossuficiente financeiramente por meio de doações e possibilite ainda e ressocialização de apenados das unidades da PEL (Penitenciária Estadual de Londrina).

Os presos serão capacitados para produzirem grelhas, reaproveitando retalhos de aço inox. “Quem doar um valor igual ou superior a R$ 250 ganhará um brinde, que é a grelha”, explicou. “Queremos que o instituto permaneça ao longo do tempo e tenha continuidade. O sonho é ter 100 embaixadores por todo o Brasil para serem facilitadores e conseguirem doadores”, acrescentou.

LEGADO

Outra frente para arrecadação de fundos é o aluguel de um campo de futebol no espaço onde ficará a sede, sendo mais uma forma de homenagear Mateus, que adorava futebol. O lugar está passando por reformas. O instituto já tem estatuto, diretoria formada por 12 pessoas, restando apenas pendências burocráticas para ser oficialmente formalizado junto às autoridades públicas.

Valter Orsi refletiu que discutir a morte ainda é um tabu, no entanto, afirmou ser necessário e sempre pensando no bem estar do paciente. “Aprendemos com a vida ao cuidar do Mateus. Queremos que esse legado possa ser usufruído por outras pessoas.”

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