Imagem ilustrativa da imagem Endometriose: mitos e verdades da doença da ‘mulher moderna’
| Foto: iStock

Você sabe o que é endometriose? Todas as mulheres com a doença têm cólicas fortes? Há uma medicação específica para o tratamento? Ela afeta a fertilidade? Considerada a doença da "mulher moderna" por estar associada às mudanças psicossocioculturais nas últimas décadas, a endometriose, entretanto, ainda carrega muitos tabus e mitos.

A endometriose é uma doença inflamatória, que pode surgir logo após as primeiras menstruações, caracterizada pela presença de endométrio (camada de células que revestem internamente a cavidade uterina e que é renovada por meio da descamação a cada menstruação) fora do útero.

“Todos os meses, logo após o término da menstruação, essas células começam a crescer e a se multiplicar em resposta ao hormônio estrogênio produzido pelos ovários. Perto da ovulação, o endométrio fica espessado para permitir que o embrião se fixe nele caso haja chance de gravidez. Caso a gravidez não aconteça, o endométrio descama e sangra na menstruação, renovando-se para o próximo ciclo menstrual”, explica o ginecologista em Londrina, Francisco Lopes. Ele acaba de lançar um eBook com informações sobre a endometriose.

De acordo com ele, mesmo com as campanhas de conscientização sobre a doença ao redor do mundo, durante o mês de março, o diagnóstico ainda é um processo difícil e longo, podendo levar até 10 anos.

A pesquisa “Como a endometriose afeta a vida da mulher brasileira” realizada em 2018 pelo cirurgião ginecológico Edvaldo Cavalcante em parceria com o Gapendi (Grupo de Apoio Endometriose e Infertilidade) mostra que 38% das três mil respondentes demoraram de 5 a 8 anos para receber o diagnóstico, e 57% precisaram se consultar com mais de três médicos.

Em relação à qualidade de vida, 73% admitem já terem se ausentado do trabalho por causa da endometriose, sendo que 51% responderam de 1 a 3 vezes por mês. Entre as comorbidades, 55% já foram diagnosticadas com infertilidade, 50% com ansiedade, 49% com estresse, 37% com Síndrome do Intestino Irritável e 34% com depressão.

CAMPANHAS

No Brasil, o Dia Nacional da Luta contra a Endometriose é comemorado em 13 de março. Estima-se que cerca de seis milhões de brasileiras são portadoras da doença. “As campanhas são importantes porque na paciente com endometriose a gente não vê a lesão, mas ela sente dor”, diz o ginecologista, se referindo às ações do Março Amarelo.

Devido à pandemia de Covid-19, a programação ao redor do mundo está acontecendo em formato on-line. Em Londrina, a AML (Associação Médica de Londrina) promove ao longo deste mês, um circuito de lives para discutir a Endometriose.

A tradicional EndoMarcha, que acontece em diversos países, será um evento virtual, no dia 27 de março, com o objetivo de divulgar da doença, dando visibilidade às portadoras.

PANDEMIA

O ginecologista em Londrina afirma que na pandemia, houve uma piora da queixa de dor entre as pacientes. “Ficando em casa com toda essa situação que está acontecendo, elas começam a ficar mais ansiosas e ter mais estresse. Começam a comer mais, ingerir mais bebida alcoólica e tudo isso piora o quadro", ressalta.

HCL

Nos últimos anos, o HCL (Hospital do Câncer de Londrina) vinha realizando um mutirão no mês de março como uma das atividades no mês de conscientização da Endometriose, mas com a pandemia do coronavírus que levou à suspensão das cirurgias eletivas, uma demanda reprimida em câncer ginecológico aumentou na instituição e o mutirão foi suspenso desde o ano passado.

“Tem o fato também de que o mutirão era realizado com doações de insumos. A cirurgia laparoscópica (minimamente invasiva) tem um custo muito caro, porque demanda materiais custosos. Todas as vezes que fizemos a campanha, ganhamos esses materiais dos laboratórios”, comenta. Ainda de acordo com Lopes, o SUS (Sistema Único de Saúde) não abrange a cirurgia de endometriose, que preferencialmente deve ser laparoscópica ou robótica para um melhor resultado.

MITOS E VERDADES

1. Todas as mulheres com endometriose têm fortes cólicas

Mito. Existem pacientes com um quadro de dor menor. A tolerância para dor depende de pessoa para pessoa

2. A infertilidade pode estar associada à doença

Verdade. Sabemos que 40% das pacientes em tratamento de fertilização têm um quadro de endometriose, mas não necessariamente a doença causa infertilidade.

3. A mulher com endometriose profunda pode sentir dores na relação sexual

Verdade. Uma das áreas mais frequentes da endometriose é na região pélvica. A mulher com endometriose profunda nesta região pode sentir dores durante a relação sexual, principalmente na parte profunda da vagina, pelo contato do pênis na região acometida.

4. A endometriose tem uma medicação específica

Mito. O tratamento depende do acompanhamento médico e não é feito com anticoncepcional. O uso da pílula é para evitar que a mulher menstrue e consequentemente tenha um agravamento do quadro.

5. A mulher com endometriose precisa ser acompanhada somente pelo ginecologista

Mito. A paciente com endometriose tem que ter acompanhamento nutricional porque a alimentação inadequada como o consumo de gordura animal, chocolates e bebidas alcoólicas, por exemplo, podem pior o quadro. Também é importante ter um acompanhamento psicológico porque a doença afeta a vida pessoal e profissional da mulher. O acompanhamento deve ser multiprofissional.

6. O estresse pode influenciar o crescimento das lesões

Verdade. Em pacientes com endometriose o estresse crônico afeta negativamente a imunidade, que é um dos fatores que podem influenciar o aparecimento e crescimento de lesões de endometriose. Além disso, o estresse também modula como o nosso cérebro percebe o nosso corpo, ou seja, mulheres com endometriose e que são mais estressadas tendem a sentir mais dor especialmente nos piores períodos de estresse. Atividades como meditação, relaxamento e atividades esportivas podem auxiliar nesse controle.

7. Toda paciente com endometriose precisa operar

Mito. A indicação cirúrgica é para as pacientes jovens, que ainda não engravidaram, sentem dor e apresentam lesões em órgãos nobres. Quem não tem indicação são as mulheres acima de 35 anos, que fazem uso de anticoncepcional, têm pouca cólica e tiveram várias gestações.

8. A chance de ter endometriose aumenta quando há casos na família

Verdade. Em casos diagnosticados na mãe ou irmã, por exemplo, a chance de ter endometriose é de 70%.

9. As lesões da endometriose profunda podem ser cauterizadas

Mito. A cauterização não resolve porque a endometriose profunda é uma infiltração acima de 0,5 cm na região. O procedimento de cauterização vai atingir apenas 0,2 cm de profundidade e não vai resolver. Se o cirurgião não fizer a retirada completa das lesões, elas irão crescer.

10. Ainda não se sabe porque as lesões ressurgem em algumas mulheres

Verdade. Mesmo fazendo a cirurgia de endometriose com retirada total das lesões, a paciente não está curada. Não se sabe ainda, com uma precisão grande, o porquê da doença reaparece em algumas mulheres e outras não.

Fonte: Francisco Lopes, ginecologista

EVENTOS ON-LINE

7/03 – Live da AML “Endometriose Intestinal”, com o cirurgião do aparelho digestivo Antonio Cesar Marson e o ginecologista Francisco Carlos de Oliveira Lopes, às 20h

24/03 - Live da AML “Endometriose e Qualidade de Vida: compreendendo a realidade da paciente”, com o psicólogo Francisco Heitor da Rosa e o ginecologista Rhoger Felipe Mendes Czekalski, às 20h

27/03 - Evento virtual “EndoMarcha” que busca, nesta edição, o reconhecimento da endometriose como doença social e de saúde pública e a garantia dos direitos das pacientes, a partir das 10h

31/03 - Live da AML “Endometriose nas Vias Urinárias”, com o urologista Emerson Pereira Gregorio e o ginecologista Francisco Carlos de Oliveira Lopes, às 20h

O link para participação das lives da AML é https://bit.ly/mes-da-endometriose. Para a inscrição no evento “EndoConectad@s” acesse https://clube.aendometrioseeeu.com.br/evento-endoconectadas, e para o Endomarcha https://aendometrioseeeu.com.br/

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