"A gente vê uma resposta mais rápida da equipe. Antes, era de seis a oito horas, hoje é de duas a quatro horas", avalia o médico da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa de Londrin
"A gente vê uma resposta mais rápida da equipe. Antes, era de seis a oito horas, hoje é de duas a quatro horas", avalia o médico da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa de Londrin | Foto: Saulo Ohara



No Paraná, um outro robô atuante na área da saúde tem ajudado a salvar vidas. Desde julho de 2016, a robô Laura auxilia equipes de médicos e enfermeiros de quatro hospitais no Estado e um em Minas Gerais no gerenciamento de risco para sepse, popularmente conhecida como infecção generalizada. O criador da robô Laura, o analista de sistemas Jacson Fressatto, estima que em quase três anos de atividade, a tecnologia desenvolvida por ele e seus parceiros evitou a morte por sepse de um paciente por dia.

O primeiro hospital a implantar a tecnologia foi o Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, um dos maiores centros de saúde do Estado. Também na capital, o Hospital Erasto Gaertner, especializado em oncologia, além de contar com a colaboração da robô, alocou em suas dependências a equipe responsável pelo desenvolvimento e aprimoramento da tecnologia. A robô também atua no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu (Oeste), na Santa Casa de Londrina e no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga (MG).

"Todo movimento é estratégico na área médica e hospitalar. Os hospitais que entraram no projeto têm perfis diferentes para validar a experiência em ambientes e circunstâncias distintas", explicou Fressatto. Segundo ele, a escolha das unidades de saúde foi estratégica. O objetivo era levar a tecnologia a hospitais que possibilitassem o refinamento dos algorítimos da robô. "Abrimos uma nova frente tecnológica, não ficamos concentrados em evoluir em uma única família de algorítimos. Criamos um novo parque e a tecnologia que usamos hoje trabalha com um conceito de resultados baseados na memória de inteligência artificial."

Embora Fressatto avalie que o grande avanço foi tecnológico, alterações na estrutura societária e uma seleção mais rigorosa das instituições parceiras foi fundamental para o avanço e aprimoramento do projeto. "Nos afastamos de alguns parceiros que não tinham o mesmo propósito. Convidamos para sair aqueles que não tinham como prioridade salvar vidas." Em menos de três anos de atividade, a robô atendeu mais de 1,2 milhão de pacientes.

A robô Laura entra no sistema de dados do hospital, acessa as informações, as organiza, classifica e identifica quais pacientes têm maior chance de desenvolver sepse. A robô então emite alertas que surgem em monitores e são separados por cores que variam do azul (casos menos críticos) ao vermelho (alto risco de sepse). Com o auxílio da robô, não só o processamento e leitura de dados ficaram mais ágeis como também a indicação dos pacientes que devem ter atendimento prioritário.

Em 2019, a robô começa a atuar em novos hospitais. A partir de março, o Hospital A. C. Camargo, um grande centro oncológico, localizado na cidade de São Paulo, irá receber a tecnologia. Na Santa Casa de Porto Alegre (RS) e no Hospital 9 de Julho, também na capital paulista, as negociações para o recebimento da plataforma estão em fase final.

Por enquanto, a tecnologia da robô Laura é fornecida às instituições de saúde em troca de apoio para financiar o projeto, mas a meta de Fressatto é chegar na gratuidade. "A partir de março vamos divulgar a modalidade comercial da robô, mas quero que seja a preço de custo. Estou levantando os recursos para que a gente possa dar de graça a tecnologia para todos os hospitais, inclusive os não filantrópicos, por isso isolamos a tecnologia para sepse."

LONDRINA
A Santa Casa de Londrina já mantinha um protocolo para controle da sepse baseado em sinais e sintomas clínicos e mesmo com o robô, o protocolo foi mantido. Em seis meses de atuação da Laura, o hospital observou uma boa redução nos óbitos por sepse. Inicialmente, a robô foi implantada na unidade 3 de internação, onde nos quatro meses anteriores ao uso da tecnologia haviam sido registradas oito mortes. Quatro meses depois do início da utilização do sistema, o número de mortes caiu para cinco, uma redução de 37%. Na comparação com o mesmo período de 2017, no entanto, a queda foi maior, de 50%. "A gente vê uma resposta mais rápida da equipe. Antes, era de seis a oito horas, hoje é de duas a quatro horas", avaliou o médico da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) da Santa Casa, Walton Tedesco.

Com exceção da UTI e pronto-socorro, o monitoramento é feito em todas as unidades de internação do hospital, somando cerca de 120 leitos. Segundo Tedesco, o sistema informatizado resulta em menos erros, melhora a comunicação entre médico e equipe de enfermagem e a resposta dos profissionais responsáveis é mais rápida. "A sepse é o que mais mata no Brasil, com um índice de mortalidade de 55%. A cada hora que eu atraso o antibiótico, a mortalidade aumenta em 7%", destacou Tedesco. "Com a robô, eu consigo tratar o paciente antes que o quadro complique."