Se hoje o mundo sabe que os venenos de animais peçonhentos são diferentes e, por consequência, necessitam de soros distintos é graças ao médico e sanitarista Vital Brazil Mineiro da Campanha, que faleceu há exatos 73 anos. Mas o legado do brasileiro continua vivo e um dos responsáveis por propaga-lo é seu neto, Erico Vital Brazil, que na sexta-feira (19) esteve em Londrina em reuniões com a diretoria do HU (Hospital Universitário) e integrantes do CIATox (Centrode Informação e Assistência Toxicológica) e na UEL (Universidade Estadual de Londrina).

A intenção é criar na região Norte do Paraná um serpentário - local onde cobras ou serpentes são criadas para experiências com seus venenos e para preparação de soros que combatem os seus efeitos - com viés pedagógico, aproveitando a estrutura e conhecimento do hospital, centro toxicológico e universidade, por meio de seus servidores. “Viemos para juntar pontos, amadurecer a ideia e ver com as pessoas que trabalham nestas instituições, até para entendermos a viabilidade”, destacou.

Um evento está programado para setembro – em local ainda a ser definido – para que mais um passo seja dado rumo à consolidação do projeto. “Temos a necessidade de multiplicar a informação. O Brasil tem quatro locais que produzem o soro antiofídico, um deles fica no Paraná, o Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba). O Brasil é referência e pioneiro nas Américas, com tratamento (contra picadas de animais peçonhentos) gratuito e de qualidade”, ressaltou.

RESTAURAÇÃO AMBIENTAL

Manter este pioneirismo passa pela preservação do habitat e do animais, que manejados corretamente podem salvar vidas. O ambientalista Daniel Steidle, de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) alertou que 98% das cobras no Estado são mortas. “É um número preocupante. Precisamos trazer para os agricultores um plano de formação sobre o que fazer quando encontra este animal, estabelecer um fluxo (para encaminhamento), que hoje está nebuloso. Temos que levar este assunto para as escolas, desmistificar a cobra e tirar o aspecto negativo”, elencou.

O serpentário também ajudaria a promover o trabalho de restauração ambiental. “É uma verdadeira aula de campo, que auxilia a ter uma leitura ampla. Temos em Londrina, por exemplo, um dos maiores laboratórios do Brasil, que é o Labre (Laboratório de Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas), da UEL, que já contribui neste sentido”, pontuou Steidle.

CIATox

O Paraná conta com quatro CIATox – Londrina, Curitiba, Maringá (Noroeste) e Cascavel (Oeste) -, sendo que o da região Norte é o segundo em quantidade de atendimentos. No ano passado foram 6.800 casos, aumento de 353% se comparado com 2014. O serviço orienta em situações de intoxicações com medicamentos, pesticidas, produtos de higiene e limpeza em geral e cosméticos e acidentes com animais peçonhentos.

“O centro de Londrina atende toda uma rede de urgência e emergência. A maior parte dos atendimentos, inclusive, é da macrorregião. Dos 399 municípios paranaenses, já recebemos ligação de 391 (buscando informações). A grande maioria dos atendimentos é por telefone, em especial de serviços de saúde, mas as pessoas também podem nos ligar para tirar dúvidas. É um acesso à informação qualificada”, explicou o professor Camilo Molino Guidoni, coordenador centro, que fica no HU.

CONTRIBUIÇÃO

Na avaliação da superintende do hospital, a possibilidade de parceria com Erico Vital Brazil faz com que a instituição fortaleça seu papel de “entrega” à população. “É construir com o serviço e a ciência um projeto pedagógico por meio de estratégias a serem discutidas, como neste evento (de setembro). O serpentário pode ser um projeto de extensão e fortalecimento, para que possamos contribuir com a formação sobre animais peçonhentos e tratamentos imunoterápicos”, afirmou Vivian Feijó.

'CONHECENDO A HISTÓRIA'

Vital Brasil também liderou no final do século XIX e começo do XX o combate a várias epidemias que o Brasil enfrentou, como a febre amarela, cólera, varíola e peste bubônica. Foi responsável pelo desenvolvimento e criação dos institutos Butantan, em São Paulo, e Vital Brasil, no Rio de Janeiro. O neto classificou a oportunidade de divulgar o trabalho científico do avô como “apaixonante”. “É continuar conhecendo a história que ele viveu e escreveu em benefício da humanidade”, definiu.

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