O Brasil é o quinto país do mundo com mais casos de diabetes, doença que atinge 10,5% da população adulta, cerca de 20 milhões de pessoas. A diabetes também é responsável por 30% a 40% das causas de morbidade no Brasil.

O Novembro Diabetes Azul é uma campanha mundial de conscientização sobre a doença e organizada pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) no país. Além da prevenção da doença e de suas complicações, o foco da iniciativa também é no tratamento multidisciplinar.

Segundo a IDF (Federação Internacional da Diabetes), a doença causou mais de um milhão de internações no SUS (Sistema Único de Saúde) entre 2011 e 2019. Os custos foram superiores a US$ 420 mil (R$ 2.434.908,00 na cotação do dólar atual, a R$ 5,79).

No Paraná, o diabetes ocupa a 3ª posição como causa de mortalidade prematura em pessoas de 30 a 69 anos em uma série histórica de 2018 a 2022. Em 2022, foram realizados mais de 1,5 milhão de atendimentos individuais. No ano seguinte, houve um aumento de 48%, que alcançou pouco mais de 2,2 milhões de atendimentos. Em 2024, a tendência de aumento continua, já que em 6 meses, já há o registro de 1,6 milhão de acompanhamentos, de acordo com levantamento do governo estadual.

EM LONDRINA

Em Londrina, segundo a coordenadora de Saúde do Idoso, na DAPS (Diretoria de Atenção Primária à Saúde), Suzane Gozzi, são 36.713 diabéticos identificados e cadastrados no sistema de atenção básica através do PEC (Prontuário Eletrônico do Cidadão). O número está acima da estimativa feita pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) que seria de 31.507.

Nos últimos seis meses, foram realizadas 29.947 consultas em Londrina entre mulheres e homens de 1 a 80 anos ou mais, havendo uma predominância entre pessoas de 65 a 69 anos, com 4.895 atendimentos.

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. | Foto: Igor Alecsander/getty images

Segundo Gozzi, as equipes de Saúde realizam ações diárias sobre a conscientização do diabetes. “Para o apoio dessas ações, contamos com nutricionistas, profissionais de educação física, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos e agentes comunitários de saúde. Além da equipe de saúde bucal, que também tem como atribuição o acompanhamento de pessoas com doenças crônicas não transmissíveis como o diabetes”, explica.

As ações são realizadas a partir de abordagens individuais. Quando são percebidas alterações nos exames de glicemia e hemoglobina glicada, são executadas orientações, com a equipe de enfermagem e médicos, sobre como seriam as mudanças de comportamento e hábitos de vida. As mudanças passam pelo cessar do tabagismo, pela prática da atividade física, ter uma alimentação saudável e, quando prescrito, tomar a medicação corretamente.

Também é possível encontrar nas unidades básicas de saúde abordagens coletivas para sensibilizar um grupo específico, já com diagnóstico de diabetes, ou, ainda, sensibilizar os participantes de outros grupos existentes para prevenção da doença.

PREVENÇÃO

Segundo a SBD, é possível prevenir o diabetes e suas complicações, o que pode reduzir significativamente tanto o risco de desenvolver diabetes quanto a mortalidade prematura devida ao tratamento inadequado da doença.

As principais estratégias indicadas pela organização para prevenir o diabetes tipo 2 e as complicações do diabetes tipo 1 e do tipo 2 são estilo de vida saudável; controle do peso e emagrecimento quando indicado; evitar o tabagismo e diminuir o consumo de álcool; monitorar regularmente a saúde e a glicemia (especialmente se há familiares com diabetes na família) e participar de programas de educação sobre diabete e suas complicações.

Imagem ilustrativa da imagem Diabetes atinge 10,5% da população brasileira

DIAGNÓSTICO NA INFÂNCIA

Isabela Crivelari Penteado tem 23 anos e foi diagnosticada com diabetes tipo 1 quando tinha 1 ano e seis meses. Diferente do tipo 2 - quando o organismo não consegue usar a insulina produzida pelo corpo, ou até mesmo não produz hormônio suficiente para controlar a taxa de açúcar no sangue -, o tipo 1 é uma doença autoimune. Nesse caso, o pâncreas não consegue produzir insulina devido à ação do próprio sistema, que atua contra as células de produção.

O diagnóstico veio quando ela ainda não falava, mas os pais contam que o sintoma mais perceptível foi a poliúria (aumento da quantidade de urina produzida no dia). “Além disso, minha primeira palavra foi ‘água’ – em vez de ‘mãe’ ou ‘pai’”, conta a estudante de Direito da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Assim que recebeu o diagnóstico, Isabela começou a adaptação alimentar. “Com o tempo, ao entender melhor a condição e ganhar autonomia, tudo se tornou mais fácil. No geral, não me sinto limitada. Levo como lema que posso comer de tudo, desde que em quantidades reguladas”, compartilha.

A jovem segue ainda algumas práticas, como aplicar insulina 15 minutos antes de cada refeição, sempre levar uma reserva de glicose e o glicosímetro, e fazer contagem de carboidratos em cada refeição.

Isabela Crivelari Penteado:  “Com o tempo, ao entender melhor a condição e ganhar autonomia, tudo se tornou mais fácil. No geral, não me sinto limitada"
Isabela Crivelari Penteado: “Com o tempo, ao entender melhor a condição e ganhar autonomia, tudo se tornou mais fácil. No geral, não me sinto limitada" | Foto: Arquivo Pessoal

Principalmente pelo alto custo dos insumos, como a insulina, que é essencial, a necessidade de recorrer aos órgãos públicos é frequente. “Minha experiência varia bastante, desde momentos positivos, quando há uma entrega regular dos insumos, até desafios, pela burocracia extrema. Por exemplo, o Ministério da Saúde precisa regularizar com urgência os estoques de insulina no SUS e a dispensação de insumos”, avalia a estudante.

O diabetes tornou-se algo tão significativo na vida da jovem que foi incluído até no TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), que teve como tema “PL 2.687/2022: Uma Análise da Busca pela Efetividade Jurisdicional na Proteção dos Portadores de Diabetes Mellitus Tipo 1”.

“Este projeto de lei proposto busca classificar os diabéticos tipo 1 como deficiência para todos os efeitos legais. Essa proposta emerge de uma crescente valorização de abordagens inclusivas para doenças autoimunes, que, embora invisíveis, afetam profundamente a vida das pessoas”, explica.

Durante a pesquisa, a estudante conta que observou que os desafios enfrentados pelos núcleos familiares e pelo próprio diabético ultrapassam as barreiras físicas e afetam também o ambiente de trabalho e o contexto socioeconômico. “Em minha análise, esses fatores justificam a consideração do diabetes como deficiência”, aponta.

A jovem reforça que a conscientização é essencial para promover a compreensão e o suporte ao tratamento. “Muitos ainda encaram sintomas de descontrole como “corpo mole” e a necessidade de idas frequentes ao médico como “desculpas”. No cotidiano, o desconhecimento é grande. Quando digo que estou em hipoglicemia e preciso comer, por exemplo, muita gente pergunta: “mas precisa ser sal ou açúcar?”.

Infelizmente, para o diabetes tipo 1 não há prevenção, mas a jovem ressalta que o melhor e mais importante é oferecer suporte para que o diabético possa ser o mais autossuficiente possível.

Supervisão - Celso Felizardo - editor