São Paulo - Estamos na véspera do Carnaval, mas muitos que começam a ler este texto já desistiram de cumprir suas resoluções de Ano Novo. De acordo com um estudo do Statistic Brain Research Institute, 50% das pessoas que fazem planos para o ano mudam de ideia e abandonam as metas já em janeiro. Objetivos irreais e falta de planejamento são as principais causas desse resultado, dizem especialistas.

Imagem ilustrativa da imagem De olho nas metas de 2020
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"A meta criada precisa estar de acordo com os valores de vida, ser relevante e trazer impacto positivo para a pessoa. Imagine alguém que deseja crescer na empresa, mas que sabe que isso vai afetar a família, que é o mais importante para ela. Claro que ela vai arrumar uma maneira de sabotar o trabalho", afirma Douglas Maluf, idealizador do Método MD - Inteligência Emocional.

Para ele, é preciso ter "conexão racional e emocional" com os desejos.Este foi o caso da produtora de marketing de conteúdo Natalia Padalko, 32. Ela sabotava toda nova experiência profissional até perceber que não gostava do lugar em que trabalhava ou da proposta da empresa. "Como eu conseguiria um cargo de confiança em um lugar que vende defensivos agrícolas, se eu sou contra agrotóxicos?" Ao perceber que seus valores eram mais importantes que o emprego, Padalko se planejou para fazer cursos e pediu demissão. "É um processo longo de autoconhecimento. Mas hoje eu trabalho em casa e aceito apenas clientes que tenham valores parecidos com os meus."

PLANO DE AÇÃO

Quem vive dilema parecido deve saber que, resolvida essa questão principal, é preciso desenhar novas metas e fazer um planejamento. "As pessoas fazem planos pensando no resultado a que querem chegar, mas a primeira pergunta a se fazer é: 'o que eu vou precisar mudar na minha rotina para atingir essa meta?' Se quero ler tantos livros no ano, em que momento eu vou ter tempo de fazer isso?", pontua o psicólogo Ronaldo Coelho. "Se a ideia é comprar um carro, por exemplo, é preciso checar se é possível economizar, cortar gastos ou arcar com a parcela de um financiamento sem se perder no meio do caminho", acrescenta.

Por isso é importante adequar os objetivos à própria realidade. Para a analista de negociações imobiliárias Juliana Lima da Costa, 38, a questão financeira é o maior entrave para o cumprimento de novas metas. Ela diz que ficou dois anos desempregada, acumulando dívidas, e ainda engordou 23 kg. "Fiz seis anos de muay thai e ainda tento voltar aos exercícios", conta. Ela então resolveu pagar uma academia mais simples e está conseguindo fazer atividades físicas uma vez por semana – melhor do que não fazer nada, ela diz. "Não desisti, mas o ritmo está bem lento."

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PRAZOS IRREAIS

Costa entende que encaixar a meta à sua própria realidade é uma das regras para sair da inércia, e o coach Douglas Maluf concorda. "Não raro temos a tendência de estabelecer prazos irreais. Um exemplo é estipular um programa de quatro horas de estudos de um novo idioma por dia, quando esse tempo não existe. É muito mais eficiente estudar durante uma hora e ser constante", diz Maluf.

Quando algo não sai do lugar repetidas vezes, talvez seja o caso de tentar entender se existem questões mais profundas por trás do problema. "Emagrecer não tem a ver apenas com planejamento, tem a ver com aceitação, com sexualidade", lembra Coelho. "Quanto ao dinheiro, há pessoas de origem humilde que sentem culpa do sucesso financeiro, por isso boicotam seus planos de ganhos."

CÉREBRO É O MAIOR INIMIGO

Para Fernando Gomes, neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de São Paulo, o cérebro é o nosso maior inimigo. "O cérebro adora processos fáceis de serem resolvidos e não quer te tirar da zona de conforto", explica.

Por isso o ideal é pegar leve consigo mesmo, sem grandes cobranças. "Imagine como seria se você tivesse que aprender a mexer no seu computador todos os dias. Seu cérebro ficaria estressado. É preciso adquirir novos conhecimentos e novos hábitos aos poucos", acrescenta o médico. Outra dica é estar atento ao próprio progresso e às pequenas vitórias. "A pessoa precisa checar se está evoluindo como imaginava e, se for o caso, mudar ou adaptar a estratégia."

Gomes lembra ainda que casos mais difíceis, como parar de fumar, também podem ser feitos de maneira gradativa. "É uma dependência química. Demora, mas vai chegar o dia em que a pessoa ficará sem [cigarro]."

BEM-ESTAR

Zenaide Rodrigues: entusiasmada com a nova fase da vida
Zenaide Rodrigues: entusiasmada com a nova fase da vida | Foto: Camila Rosa

Aos 52 anos e com uma vida movimentada, Zenaide Alves Rodrigues jamais pensou que precisasse fazer metas. Porém, ao longo dos anos percebeu que seu peso aumentou e, por conta disso, ficou com medo de prejudicar a saúde e o bem-estar. Rodrigues participa de uma comunidade religiosa em Londrina e trabalha durante a semana como voluntária em um bazar beneficente. “Eu preciso ter saúde para poder fazer as coisas que são boas para o Senhor”. comenta.

Foi com a ajuda da família e amigos que ela se propôs a mudar de vida e, no fim de 2019 estipulou como meta a perda de peso. Muito animada neste início de 2020, Rodrigues confessou que não esperava perder peso tão rápido. Foram três quilos em apenas dois meses, o que a motivou a procurar uma academia. “Fui atrás de uma academia que oferece atividades que envolvem dança”, ressalta.

Entusiasmada com a nova fase e com os benefícios que conseguiu ao fazer atividades na academia, ela comenta que até mesmo se alimentar ficou mais fácil. Segundo Rodrigues, agora ela seleciona melhor os alimentos e segue uma dieta saudável.

RESULTADOS POSITIVOS

Já estudante e professora Thays Barroca, 28, deseja manter a saúde em dia. Com a rotina focada nos estudos e passando diversas horas na faculdade, ela se comprometeu a começar uma rotina que a auxiliasse no bem-estar diário. Ela começou a fazer atividades em uma academia e percebeu que isso ajudou também para reduzir o estresse. “A atividade física contribuiu para abandonar o sedentarismo e aliviar a pressão dos estudos”, comenta.

Para cumprir esta meta em 2020, no fim do ano passado ela reservou um dinheiro e se programou para começar uma academia de boa qualidade. Também contratou um personal trainer, que ajuda com exercícios adequados para seus objetivos. A estudante, que está terminando a dissertação, já consegue ver os resultados positivos, e aliar atividades à sua rotina diária. “Hoje me sinto bem melhor comigo mesma e percebo que consigo estudar mais”, diz. (Colaborou Camila Rosa/estagiária)