Ao mesmo tempo em que a vacinação contra Covid-19 avança pelo País, estudos relacionados ao vírus Sars-CoV-2 passam a envolver mais públicos, como as gestantes e lactantes. A imunização desse grupo tem sido acompanhada por algumas polêmicas e gerado dúvidas a respeito da amamentação.

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| Foto: iStock

Para esclarecer pontos importantes sobre o tema, a FOLHA conversou com alguns especialistas sobre Covid-19, vacinação e aleitamento materno. O médico Armando Salvatierra, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno e de Puericultura da SPP (Sociedade Paranaense de Pediatria), esclarece que tanto a placenta quanto o leite materno oferecem anticorpos ao bebê. “Quando você vacina a mãe, está vacinando indiretamente o filho. Há trabalhos em andamento para descobrir se a imunização contra Covid passa pelo leite materno, com vários tipos de vacinas”, afirma.

ANTICORPOS

Um estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, realizado pelo Instituto da Criança e do Adolescente e divulgado em junho deste ano, indicou presença de anticorpos em leite de colaboradoras lactantes do hospital, que foram imunizadas com a Coronavac, do Instituto Butantan.

A publicação sobre o estudo diz que “a segunda dose fornece um incremento no nível de anticorpos das gestantes e, em algumas colaboradoras, níveis altos de anticorpos contra a Covid-19 mantiveram-se no leite mesmo depois de alguns meses de amamentação”.

A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomenda a vacinação contra a Covid-19 em lactantes, conforme preconiza a OMS (Organização Mundial de Saúde), e não aconselha a interrupção da amamentação após a vacinação.

A entidade afirma que o benefício da imunização da lactante é propiciar a proteção dessas mulheres contra a doença, diminuindo o risco de transmitir a infecção aos filhos, além do fato de que o leite materno contém anticorpos (IgA secretória contra o Sars-CoV-2) que protegem o bebê amamentado.

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'ESPEREI MUITO POR ESSA VACINA'

Para Maria Helena Lino Gross, 25, a vacinação trouxe uma sensação maior de segurança para ela e o filho Esdras. “Esperei muito por essa vacina. Assim que liberou o cadastro eu fui vacinar porque eu acredito que é uma forma de eu passar todos os meus anticorpos para ele crescer mais saudável. O Esdras está mamando super bem, ganhando cerca de 40 gramas por dia”, conta Gross, que tomou a primeira dose da vacina no 18º dia de vida do filho.

Ela garante que seguirá com amamentação exclusiva até os seis meses e ressalta que sempre acreditou na vacina. “Se os profissionais da saúde estão recomendando por ela evitar a gravidade da doença, eu não tenho porquê desacreditar”, completa.

TRANSMISSÃO DO VÍRUS

O pediatra Salvatierra aproveita para esclarecer uma dúvida muito comum entre as gestantes, puérperas e lactantes. “Todas as mães nos têm perguntado se o coronavírus vai passar pelo leite materno. Cientistas do mundo inteiro estão se debruçando em estudos e até o momento não há nenhuma confirmação científica de que o vírus é transmitido pelo leite materno”, afirma.

Ele explica que o recém-nascido tem poucos receptores para que o vírus possa penetrar nas células. “Esses receptores vão aparecendo à medido do tempo. É por isso que no começo da doença os mais afetados foram os mais idosos, mas vale lembrar que a Covid-19 é uma doença misteriosa que nos obriga estudá-la cada dia mais”, pontua.

CALMA DE LONDRINA

As equipes do Calma (Comitê Municipal de Aleitamento Materno) da Secretaria de Saúde Londrina também estão trabalhando na sensibilização das mulheres sobre a importância da vacinação e da amamentação. A enfermeira Priscila Alexandra Colmiran, coordenadora do Calma, comenta que a maior preocupação das mulheres tem sido a respeito da segurança da vacina e possíveis efeitos colaterais, além do medo de amamentar caso ela ou algum familiar contrair a Covid.

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| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Temos trabalhado muito para esclarecer que em tempos de Covid-19 ela não precisa parar de amamentar desde que as medidas de prevenção sejam cumpridas rigorosamente. Ainda temos recusa da vacina por algumas mulheres por medo, mas é fundamental manter o aleitamento materno porque o leite é uma fonte de proteção para essa criança”, afirma.

Colmiran acrescenta ainda que as gestantes estão recebendo vacinas adequadas, ou seja, que não contém vetor viral. Neste caso, temos disponível no Brasil os imunizantes Coronavac e Pfizer/BioNTech. “É uma doença nova e preocupante que gera uma insegurança e necessidade de busca por informações de qualidade. Uma coisa muito importante também é que a vacinação pode ser feita em qualquer idade gestacional em mulheres acima de 18 anos, mediante avaliação médica individual para verificar se há algum risco, se há uma doença associada”, diz.

AGENDAMENTO

Em Londrina, as gestantes e puérperas com mais de 18 anos, com ou sem comorbidades, devem se vacinar no CCI da Zona Norte, que fica na rua Luiz Brugin, 570, de segunda a domingo, mediante a apresentação de uma carta médica que autoriza a vacinação. Para receber a dose contra Covid-19 é necessário agendar um dia e horário no portal da Prefeitura de Londrina. Os agendamentos só serão possíveis após a validação do cadastro.

“É de extrema importância sensibilizar as mulheres para fazerem a vacinação porque temos visto um aumento bastante significativo dos óbitos maternos em relação aos anos anteriores. Temos percebido a gravidade dos casos de Covid em mulheres não vacinadas, principalmente nas gestantes de segundo e terceiro trimestre, que é a fase final. O quadro de infecção pode impactar na prematuridade e consequentemente no óbito fetal e da mulher”, alerta.

Em Londrina, a taxa de mortalidade materna cresceu nos últimos três anos, principalmente no período de pandemia. Os dados foram divulgados em maio pela Prefeitura Municipal. Desde 1986, o biênio 2019-2020 foi o período com maior taxa de morte materna no município, totalizando 15 óbitos. Entre 2020 e maio de 2021 foram registrados 12 óbitos, sendo sete no ano passado e cinco neste ano. Em 2019, foram apenas três mortes.

VACINA CONTRA GRIPE

Colmiran aproveita para reforçar a campanha de vacinação contra Influenza. “Toda gestante de qualquer idade tem direito à essa vacina, independe da idade gestacional. O que elas devem ficar atentas é que entre uma vacina e outra (Influenza e Covid) é preciso ter um intervalo de 14 dias”, diz. O agendamento é feito nas UBSs por telefone ou através do site da Prefeitura.

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| Foto: Folha Arte

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