O uso de máscaras como uma das formas de prevenção contra o coronavírus está se disseminando entre a população. O que antes era uma recomendação específica para pacientes, cuidadores e profissionais da saúde, passa a valer agora para toda a população, conforme anunciou o Ministério da Saúde.

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| Foto: Isaac Fontana/Framephoto/Folhapress

Tanto é que o governo federal realiza uma campanha digital para a mobilização da população para fabricar suas próprias máscaras de pano, sob o entendimento de que elas funcionam como barreiras na propagação do vírus Sars-CoV-2, pois um dos principais meios de transmissão da Covid-19 são as gotículas de saliva que se espalham na fala, no espirro ou na tosse.

“Máscaras de pano para uso comunitário funcionam muito bem e não são caras de fazer. Porque, agora, é lutar com as armas que a gente tem. Não adianta a gente lamentar que a China não está produzindo. Vamos ter que criar as nossas armas, e elas serão aquelas que nós tivermos”, afirmou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Mas o uso do acessório pode criar uma falsa sensação de segurança, pois outros cuidados essenciais podem deixar de serem cumpridos com rigor. É o caso do distanciamento social, a higienização das mãos com água e sabonete ou álcool gel 70% e evitar tocar os olhos, nariz e boca.

SUBNOTIFICAÇÃO

“Percebo que tem muitas pessoas se comportando como se tudo estivesse voltando à normalidade, mas os números da doença continuam aumentando e tem muita gente subnotificada. A máscara sozinha não adianta. Tem que respeitar a distância e higienizar as mãos. A mão é o maior veículo de transmissão e já temos casos de sintomas iniciais de conjuntivite”, alertou Flavia Meneghetti Pieri, docente do departamento de Enfermagem da UEL (Universidade Estadual de Londrina) na área de infectologia.

Ela reforça que as máscaras de pano servem apenas como uma barreira de proteção. “Ela não vai prevenir contra o vírus do corona ou da influenza. A ideia é que cidadãos comuns possam usá-la para uma eventual saída de casa ou profissionais que não sejam da área da saúde”, comentou.

ANVISA

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu um novo informativo sobre o uso de máscaras. O texto diz que “as máscaras que aguardam a realização de ensaios podem ser utilizadas por profissionais de apoio (ex.: recepcionistas e seguranças) nos serviços de saúde, desde que esses profissionais prestem assistência a mais de 1 (um) metro dos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus. Essas máscaras também podem ser usadas pelos profissionais dos transportes públicos, segurança e transeuntes, acrescidas das demais medidas de prevenção e controle.”

SEIS MÁSCARAS POR DIA

Para ter eficácia, Pieri comenta que cada pessoa deve ter uma média de seis máscaras para usar em um dia. “A máscara de tecido deve ser trocada ao ficar umedecida ou no máximo, de duas em duas horas”, reforça.

SBI

A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) publicou uma nota destacando que em serviços de saúde, as máscaras de pano não devem ser usadas sob qualquer circunstância. A entidade afirma ainda que “a máscara de pano pode diminuir a disseminação do vírus por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas que podem estar transmitindo o vírus sem saberem, porém não protege o indivíduo que a está utilizando, já que não possui capacidade de filtragem. O uso da máscara de tecido deve ser individual, não devendo ser compartilhado."

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| Foto: Folha Arte

AO REDOR DO MUNDO

Em um artigo publicado em 2013 no periódico científico Disaster Medicine and Public Health Preparedness, da Universidade de Cambridge, do Reino Unido, cientistas testaram máscaras caseiras feitas com alguns materiais. As que foram feitas de camisetas de algodão se mostraram mais adequadas, filtrando cerca de 50% das partículas infecciosas e promovendo um melhor ajuste no rosto, mas é importante lembrar que não foram testadas para o novo coronavírus.

O diretor geral do Centro para Controle e Prevenção de Doenças da China, George Gao, afirmou em entrevista recente à revista Science que, o maior erro dos Estados Unidos e Europa no combate ao coronavírus é que as pessoas não estão usando máscaras.

"O vírus é transmitido por gotículas e contato próximo. Gotículas desempenham um papel importante [no contágio]. Você deve usar uma máscara porque quando você fala tem gotículas saindo de sua boca. Muitas pessoas têm infecções assintomáticas. Se usam uma máscara no rosto, isso previne que as gotículas escapem e infectem outras pessoas", disse Gao.

Na quinta-feira (2), o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, pediu para que todos os moradores cubram os rostos ao saírem de casa ou se aproximarem de outras pessoas. A cidade é o epicentro do surto mortal de Covid-19 nos Estados Unidos. Em Nova York já são mais de 50 mil casos confirmados e mais de 1,5 mil mortes. "Trata-se de cobrir o rosto. Pode ser com um lenço. Pode ser com algo que você crie para você em casa. Pode ser com uma bandana", disse Blasio aos jornalistas.

Nos países asiáticos, a população em peso faz uso de máscaras. Na quarta-feira (1), o governo do Japão anunciou que cada residência receberá duas máscaras de pano reutilizáveis. Em Hong Kong, as pessoas percebem o uso como um sinal "de que o indivíduo está tentando proteger tanto a sociedade em geral como a si mesmo", disse Keiji Fukuda, diretor e professor clínico da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong.

Porém, Fukuda alerta para a tendência de pensar no uso da máscara "como um fator mágico". O especialista atribui os surtos mais controlados a medidas que incluem rastreamento de contatos, uma boa coordenação, distanciamento social e uma população cuidadosa e "disposta a colaborar com as autoridades de saúde".

Alguns governos no Ocidente demonstraram estar dispostos a estimular o uso de máscaras. Áustria e Eslovênia, entre outros, já ordenaram seu uso. "Acredito que os países estão analisando todas as medidas possíveis para frear a transmissão. Se as máscaras faciais podem reduzir a transmissão, mesmo que em uma proporção reduzida, pode valer a pena", alegou o cientista americano Anthony Fauci ao canal CNN.

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USO DE LUVAS

Sobre o uso de luvas cirúrgicas (látex) entre a população em geral, a docente de Enfermagem da UEL, Flavia Meneghetti Pieri, avalia que há um desconhecimento. “Ela pode perfurar, ter microperfuração e contaminar a mão do mesmo jeito. As pessoas estão usando por desconhecimento. O que adianta é lavar as mãos e evitar passá-las na face”, ressaltou.

Até para não haver um desabastecimento desnecessário de luvas, Pieri ressalta que seu uso deve ser hospitalar ou em situações onde uma pessoa em casa está com suspeita ou confirmação da doença.

“Os cuidados como na troca da roupa de cama ou no manuseio do próprio paciente podem ser feitos com luvas. Além disso, a gente indica manter tudo de utensílio descartável para essa pessoa que está ou possa estar com a doença”, orienta. (Com agências)