Em busca de melhora na saúde física e emocional a estudantes e servidores da UEL (Universidade Estadual de Londrina), o Sebec (Serviço de Bem-Estar à Comunidade) oferece práticas de meditação de forma gratuita. Carla Pagnossim, psicóloga no setor, explica que a demanda é alta e que está recebendo pessoas que estão sentindo o efeito da pandemia na intensificação de seus sofrimentos e ansiedades.

"Os participantes relatam que a meditação tem auxiliado muito a lidar com essa ansiedade nesse momento”, afirma a professora Erika Dmitruk
"Os participantes relatam que a meditação tem auxiliado muito a lidar com essa ansiedade nesse momento”, afirma a professora Erika Dmitruk | Foto: Roberto Custódio

“Recebemos demandas de pessoas que relatam que antes da pandemia estavam conseguindo enfrentar seus desafios cotidianos, mas que com a pandemia, houve desequilíbrio emocional”, menciona. A psicóloga cita três motivos principais: ficar preso em casa (na solidão ou conflitos com outros moradores); ansiedade e medo de adoecer, perder pessoas da família ou do convívio; e aumento de dificuldades financeiras.

Por conta disso, a psicóloga acreditou ser necessário dar continuidade ao projeto por meio de transmissões on-line. As professoras responsáveis pelas aulas são Erika Dmitruk e Mônica Panis Kaseker, que se voluntariaram a orientar as práticas todas as quintas-feiras, às 17 horas.

“A gente tem alguns participantes em fase de doutorado, mestrado, em que os prazos continuaram. Eles relatam que a meditação tem auxiliado muito a lidar com essa ansiedade nesse momento”, menciona Dmitruk. Ela descobriu a meditação há 20 anos, mas se tornou praticante assídua há dez.

A professora relata os benefícios que a meditação pode trazer no dia a dia e explica que uma das práticas que mais realiza é a de atenção plena, focada na respiração, e conta que é natural sentir dificuldade no início, como ocorreu com ela. “Comecei respirando, me observado e, por ansiedade, eu achava que não estava meditando, havia dificuldade de lidar com o volume de pensamento, mas isso já era o próprio exercício”, explica.

Ela compara a prática com uma atividade física na academia, quando os primeiros dias o corpo sente mais o impacto e as pessoas não querem mais voltar. “A gente tem que pensar que a gente tem que treinar a nossa mente, as primeiras vezes o nosso pensamento não vai dar um tempo, porque a gente vive em uma sociedade que exige resposta o tempo todo, a gente usa essa ferramenta 24 horas por dia, aqueles 10 minutos que você tirou para meditar não vai ser diferente no primeiro momento”, explica.

A professora indica insistir na prática por pelo menos 30 dias. “Porque é um processo de treino e o fluxo vai aumentando até um dia você conseguir fazer uma série de cinco”, brinca com a comparação. E pede para fazer com menos cobrança. “Não desista de você, seja amoroso, paciente, não tem nada de errado com a sua mente, ela está fazendo exatamente o que pede pra ela fazer a vida toda, então precisa treinar de forma amorosa”, sugere.

SERVIÇO

O projeto “Meditação no Campus” é realizado todas as quintas-feiras, às 17 horas, pela plataforma Zoom e está aberto para todos os interessados de forma gratuita. Para participar, basta acessar o link.

DESCOMPRESSÃO E CAPACITAÇÃO

No Setembro Amarelo (campanha de prevenção ao suicídio) de 2019, a professora de teologia Irmã Raquel de Cavalcante Cabral sugeriu, em uma reunião entre professores e diretores, a meditação como parte do programa de capacitação de profissionais para estarem mais atentos às manifestações de suicídio e síndrome do pânico na PUC. “Eu propus algo que eu tinha experiência do meu passado que eram essas oficinas de meditação”, menciona.

Todas as segundas-feiras, uma sala ficava aberta para quem quisesse participar dos encontros que duravam 45 minutos. “O objetivo era desacelerar o indivíduo de suas tensões por meio da concentração, sejam imaginárias ou concretas, por meio da meditação contemplativa. Não abordamos doutrina, nem bíblia, nem religião, nos remetemos a aspectos universais da vida, como luz da vida, pulsação da vida em você em cada célula, treino de respiração, exercícios imaginários que as levam a ter contato com o que nos prendem, como água, árvores, ventos, assim por diante”, explica.

A prática foi paralisada durante a pandemia, mas neste Setembro Amarelo de 2020, voltou para um ciclo de quatro encontros como um momento de descompressão das atividades cotidianas. “A gente vê crescer a intensidade, a entrega das pessoas, elas relatam capacidade de melhoria de sono, de foco, de aprendizagem, mais consciência e auto presença dos movimentos vitais, respiração, comer, deitar, então, tivemos experiências lindas”, menciona.

A professora conta que uma participante em estágio avançado de depressão, acompanhada por profissionais de saúde, passou a sentir melhoras no tratamento após a prática. “O psiquiatra passou a reduzir a medicação, ela começou a emagrecer por recomendação médica e a gente começou a ver resultados. É lindo ver isso, um fluxo de vida e amor que ocorre ali”, anima-se.

O novo ciclo de encontros é feito de forma on-line e simultânea para os colaboradores. “Me convidaram para fazer esse trabalho de descompressão dos colaboradores, porque ele é um cuidador e precisamos cuidar dos cuidadores”, defende.