Durante muitos anos os médicos utilizaram o termo andropausa para denominar a queda acentuada da produção de hormônio masculino pelos testículos. Esse termo não é mais aceito pelas sociedades médicas, que e decidiram pela mudança no termo para evitar o apelo comercial. “Infelizmente existe hoje um comércio muito grande de reposição de hormônio, que não é só voltado para os homens, mas também para mulheres. Nos EUA esse comércio movimenta bilhões de dólares”, aponta o urologista Sílvio Henrique de Almeida, de Londrina. “O termo é hipogonadismo, que é a diminuição da produção de hormônios. Nos homens ocorre no testículo, ocasionada pelo envelhecimento”, detalha.

Imagem ilustrativa da imagem Como lidar com a queda da testosterona?
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Almeida explica que essa queda de produção de testosterona faz parte do envelhecimento. “Aos 40 anos, 5% dos homens têm uma dosagem menor de testosterona. Aos 50 anos esse número aumenta para 10%. Aos 60 anos, esse índice chega a 20% dos homens. Aos 70 anos essa queda de produção atinge 30%. Metade dos homens acima dos 80 anos irá ter esse problema”, relata o médico.

“Diferentemente das mulheres, cuja produção de hormônio cessa de uma vez, nos homens ocorre de maneira gradual e com isso não necessariamente irão sentir sintomas ocasionados por isso. E não quer dizer que o homem precisa de tratamento”, destaca.

Ele explica que a forma como isso afeta a vida do homem é relativa. “A queda de produção gradual é individual. Tem homem com testosterona baixa e não tem sintoma, mas há aqueles com uma pequena oscilação e sentem isso como muito importante. Não tem como dizer a partir de qual nível vai ter sintoma. Não tem um pico ou um ponto específico. É uma faixa larga de dosagem, pois todos os nossos hormônios têm produção conforme o ciclo do nosso dia, regulado por uma série de outras glândulas. Existe ondulação na produção ao longo dos dias e ao longo dos meses. Isso varia muito”, detalha o especialista.

SINTOMAS SÃO GERAIS

O urologista Sílvio Henrique de Almeida explica que os sintomas do hipogonadismo são gerais e inespecíficos, o que torna difícil diagnosticar com base somente neles. “Entre os sintomas estão a diminuição do desejo sexual, a diminuição da rigidez da ereção, a perda de massa muscular, a dificuldade de concentração, o ganho de peso em determinadas regiões do corpo e a irritabilidade”, aponta.

Para um diagnóstico mais preciso ele explica que o médico faz associação desses possíveis sintomas com a dosagem baixa do hormônio. “Deve-se fazer exame de sangue para verificar a dose de testosterona geral total. Havendo alteração são realizados outros exames, como o de testosterona livre biodisponível, o de medição da dosagem do hormônio estimulador do testículo e, eventualmente, a verificação dos níveis de outros hormônios necessários. Havendo a dosagem baixa dos hormônios se faz a reposição do hormônio.”

ATIVIDADE FÍSICA E BOA ALIMENTAÇÃO

Segundo o médico Sílvio Henrique de Almeida, o exercício físico pode retardar o surgimento de sintomas do hipogonadismo. “Vários trabalhos mostram que após o exercício físico a testosterona aumenta. É uma resposta do organismo ao exercício físico, já que o organismo precisa repor as fibras musculares lesionadas. E isso significa ter níveis mais altos de testosterona, pois o organismo, para nutrir esses músculos, precisa ter mais glóbulos vermelhos. A chave para evitar essa queda de hormônio de modo assintomático é o exercício físico associado à boa alimentação”, aponta.

Questionado sobre qual o nível de exercício físico indicado para retardar esse processo, o urologista explica que seriam necessários 300 minutos por semana de exercício moderado. “São cinco horas por semana de caminhada acelerada. É mais do que o que recomendam os cardiologistas para manter um coração bom”, aponta.

REPOSIÇÃO HORMONAL

Segundo o urologista Sílvio Henrique de Almeida, a reposição hormonal tem que ser bem indicada. “Quando isso ocorre traz benefícios, mas quando mal indicada pode trazer riscos. A aplicação de testosterona muito alta aumenta a produção de glóbulos vermelhos do sangue”, observa.

Segundo ele, nos níveis terapêuticos normais a reposição não traz risco, mas em excesso torna o sangue mais viscoso, porque aumenta a quantidade de células vermelhas do sangue. “Isso pode provocar a formação de tromboses (coagulação de sangue no interior do vaso sanguíneo) e êmbolos (elementos que obstruem vasos sanguíneos) e, consequente, acidentes trombo-vasculares”, destaca o especialista.

O urologista também desaconselha a reposição hormonal em homens que fizeram cirurgias e procedimentos cardiovasculares. “Porque é uma fase para evitar a formação de trombos, para que o local operado cicatrize adequadamente”, justifica.

Quem quer ter filhos, diz Almeida, também não deve fazer reposição hormonal com testosterona. “A reposição hormonal faz o testículo trabalhar menos e não só as células que produzem hormônio, como as que produzem espermatozoides também. Nesse caso é indicado usar outro medicamento, o acetato de clomifeno”, explica.

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GANHO DE MASSA MUSCULAR

Sobre os atletas que usam reposição hormonal para ganhar massa muscular, o médico Sílvio Henrique de Almeida afirma que esse procedimento é comum. “Infelizmente, porque um dos efeitos é o ganho de massa muscular rapidamente, mas isso é proibido e considerado doping na maioria dos esportes. E se detectarem substâncias que possam ser usadas para ajudar na eliminação mais rápida desse hormônio também é considerado doping”, aponta.

Segundo ele, o esporte de alto rendimento não significa saúde. “Muitos atletas se submetem a uma série de riscos para obter esse alto desempenho”, aponta.

Questionado se a reposição fisiológica a níveis normais aumentaria o risco de o homem ter algumas doenças, Almeida explica que aparentemente não, inclusive em relação ao câncer de próstata. “Repor testosterona não aumenta, por exemplo, o risco de câncer de próstata. Mas não se sabe se um homem que tem câncer de próstata não detectável e vá fazer reposição de testosterona aumentaria risco de crescer mais rápido. Provavelmente sim”, afirma.

Ele orienta aqueles que forem fazer reposição de testosterona a passar por avaliação da próstata para ter certeza que ele não tem um câncer de próstata assintomático.

FATORES DE RISCO

Alguns tratamentos para câncer e algumas doenças crônicas como o diabetes contribuem para o hipogonadismo precoce. “A diabetes mal controlada a longo prazo pode levar o testículo a produzir mal os espermatozoides e também menos testosterona”, explica o urologista Sílvio Henrique de Almeida. “Então vira um círculo vicioso, pois menos testosterona significa menos massa muscular, que é substituída por gordura. Essa gordura favorece o acúmulo de peso e favorece o aumento de colesterol, triglicerídeos e pressão alta. Esse paciente precisa fazer exercício para perder peso e não consegue”, destaca.

Ele aponta que, muitas vezes, se o paciente tem diabetes descompensado, com orientação do endocrinologista uma forma de tratamento é repor testosterona.

“Outras doenças autoimunes também podem provocar o hipogonadismo precoce, mas é muito raro. A grande massa dos homens que têm baixa de testosterona é por envelhecimento ou por questões ligadas ao metabolismo que chamamos de síndrome metabólica”, relata. “Lógico que ela pode ocorrer se a pessoa teve doenças testiculares, infecção nos dois testículos, ou má formação, mas são casos mais raros e geralmente são acompanhadas por urologistas.