São Paulo - Ao ser imunizada contra a Covid-19 no sábado (26) em São Paulo, a ex-jogadora de vôlei Fernanda Venturini gerou grande repercussão nas redes sociais quando afirmou ser antivacina. "Eu sou contra a vacina, mas como eu quero viajar o mundo eu vou tomar. Vou tomar a Pfizer que eu acho que é a menos pior", disse no posto de imunização em momento registrado em sua conta no Instagram.

Imagem ilustrativa da imagem Comentário de Fernanda Venturini sobre vacinas cria polêmica e não  tem sentido
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Com 50 anos, ela poderia ter se imunizado uma semana antes, no sábado (19), de acordo com o cronograma de vacinação da capital paulista. Em suas redes sociais, a medalhista olímpica, aposentada do vôlei desde 2012, diz querer ajudar as pessoas a terem uma vida mais saudável.

Há diferença entre vacinas? Faz sentido escolher qual imunizante tomar? Entenda.

Vacinas são seguras?

Sim. Mesmo que o desenvolvimento das vacinas contra Covid-19 tenha ocorrido em um espaço curto de tempo (cerca de oito meses, desde o início das pesquisas em animais até a conclusão de ensaios clínicos em humanos), todos os protocolos de segurança foram mantidos. Não há nenhum motivo para temer a segurança dos imunizantes.

Por que algumas pessoas dizem ter medo de vacinas?

Porque há muita desinformação e disseminação de fake news. A Folha faz parte do Projeto Comprova, coalizão que reúne 33 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas.

Por exemplo, o deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que as vacinas contra a Covid-19 não seguiram protocolos, gerando assim reações adversas, o que é falso. Assim como também é incorreta a informação de vídeos na internet que dizem que imunizantes contra a Covid são capazes de magnetizar a pele no local da aplicação.

Há diferença entre as vacinas contra a Covid?

Sim, mas todas as vacinas aplicadas no Brasil são seguras e capazes de oferecer ampla proteção contra o desenvolvimento de formas graves da Covid. Veja abaixo algumas características dos imunizantes aprovados no Brasil.

Coronavac (desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no país em parceria com o Instituto Butantan):

Tecnologia: utiliza a tecnologia de vírus inativado, similar à da vacina da gripe. O coronavírus Sars-CoV-2 é modificado para que se torne não infectante Intervalo entre as doses: de 21 a 28 dias

Eficácia: a vacina apresentou eficácia global de 50,38% no estudo de fase 3 conduzido no Brasil quando as duas doses foram aplicadas em um intervalo de 14 dias e de 78% para casos de Covid que necessitam de internação. Dados mais recentes desse estudo mostraram, porém, que a eficácia global subiu para 64% quando a vacina foi aplicada com mais de 21 dias de intervalo entre as doses, prazo que tem sido recomendado pelo Butantan

Covishield (desenvolvida pela Universidade de Oxford/AstraZeneca e produzida no Brasil pela Fiocruz):

Tecnologia: é produzida a partir de um adenovírus (vírus causador de resfriado) de chimpanzé modificado para carregar o código genético do Sars-CoV-2 não infectante

Intervalo entre as doses: é aplicada em duas doses com um intervalo de três meses, embora nos ensaios clínicos iniciais tenha sido avaliado um intervalo de 30 dias

Eficácia: a vacina apresentou eficácia de 70% para a proteção de Covid sintomática, mas a taxa subiu para 82% quando o intervalo entre as doses foi de três meses, segundo estudos conduzidos no Reino Unido

Vacina Cominarty, produzida pela Pfizer/BioNTech:

Tecnologia: inovadora, utiliza o RNA mensageiro para levar ao organismo o código genético da proteína S do Spike (espícula utilizada pelo vírus para infectar as células) do coronavírus. Não há nenhum vírus morto, vivo ou modificado na vacina da Pfizer

Intervalo entre as doses: durante os testes em humanos de fase 3, quando foram avaliadas mais de 44 mil pessoas no mundo, o esquema adotado para a imunização foi de duas doses aplicadas com um intervalo de 21 dias entre elas. A partir de um estudo de vida real conduzido no Reino Unido, porém, pesquisadores observaram a alta eficácia da vacina em um intervalo de três meses, e essa tem sido a recomendação de uso em diversos países, inclusive no Brasil

Eficácia: a taxa global é de de 95%

Vacina da Janssen:

Tecnologia: é produzida a partir de um adenovírus 26 causador de resfriado comum modificado para carregar a informação do Sars-CoV-2

Intervalo entre as doses: não há; é a única vacina de dose única aprovada para uso no Brasil

Eficácia: a vacina apresentou eficácia global de 66% em seu ensaio clínico conduzido nos Estados Unidos e na América Latina e de 57% na África do Sul, onde mais de 92% dos infectados tinham a variante B.1.351 (ou sul-africana) do vírus

Faz sentido escolher vacinas contra a Covid?

Não. Uma pessoa até pode se recusar a tomar a vacina, mas não é prudente fazê-lo. Não há garantia de que a pessoa conseguirá receber outro imunizante. Além disso, o trabalho nos postos de saúde é prejudicado por pessoas que entram na fila para se vacinar e desistem por causa da "grife".

Apesar de haver diferenças entre as vacinas, todas as que estão sendo aplicadas no país são capazes de reduzir o risco de desenvolver Covid-19 grave.

Postos de imunização têm enfrentado resistência dos “sommeliers de vacina”, pessoas que deixam de se proteger contra o coronavírus por causa da origem do imunizante disponível no local.

Para o infectologista pediátrico e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) Renato Kfouri, a escolha pela vacina ocorre porque parte da população olha apenas para os índices de eficácia, sem levar em consideração fatores determinantes para o enfrentamento da pandemia, como a cobertura vacinal da população.

“Se metade da população for vacinada com uma vacina de 95% de eficácia, eu não controlo uma pandemia. Mas se eu tiver 90% da população vacinada com uma vacina de 50% de eficácia, a pandemia é controlada.”

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