As autoridades em saúde pública promovem neste mês as ações de conscientização do Janeiro Roxo, referente ao combate à hanseníase. Em Londrina, o número de casos registrados da doença teve um salto considerável de 53% em 2024 na comparação com os anos anteriores. O município registrou 39 ocorrências no ano passado, contra uma média de 26 casos entre 2021 e 2023. Para reverter este crescimento, as ações, que terão seu ápice no Dia Mundial Contra a Hanseníase, marcado para o domingo (26), apostam no diagnóstico precoce e tratamento.

A enfermeira Flávia Meneguetti Pieri, também professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UEL, conta que além de sofrer com os efeitos da doença, o paciente também precisa enfrentar o tabu em torno da doença. “O Janeiro Roxo tem o objetivo de promover informação, enfrentar o estigma e discriminação que os pacientes sofrem, além de incentivar o diagnóstico precoce e o tratamento da doença”, detalha.

Ao longo das últimas décadas, o Brasil registra avanços no combate ao estigma. O termo "lepra" e seus derivados não podem ser utilizados na linguagem conforme Lei no. 9.010, de 29 de março de 1995. No entanto, Segundo Pieri, o país não possui leis discriminatórias contra as pessoas acometidas pela hanseníase e seus familiares. “Embora destaque-se por ser o primeiro país no mundo que desenvolveu legislação que proíbe linguagem discriminatória contra as pessoas acometidas pela hanseníase, representando importante avanço para a garantia dos direitos das pessoas atingidas pela hanseníase, não existe nacionalmente penalidades impostas para quem as infringirem”, lamenta.

Pieri lista as consequências dos atos discriminatórios. “Aspectos relacionados ao estigma e à discriminação promovem a exclusão social e, ao mesmo tempo, podem produzir consequências negativas. Isso resulta em interações sociais desconfortáveis, limitando o convívio social, sofrimento psíquico e, consequentemente, pode interferir no diagnóstico e adesão ao tratamento da hanseníase, perpetuando um ciclo de exclusão social e econômica”, expõe.

TRANSMISSÃO

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae que afeta a pele, os nervos periféricos, os olhos e a mucosa nasal. A transmissão ocorre por gotículas provenientes do nariz e da boca durante o contato próximo e frequente com casos não tratados. O diagnóstico precoce e o tratamento, fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), garantem a cura da doença.

SINTOMAS

Os principais sinais e sintomas da hanseníase incluem áreas da pele com alterações de sensibilidade ao calor, dor ou tato, que podem aparecer como manchas esbranquiçadas, acastanhadas ou avermelhadas. Sensações como formigamento, choques e câimbras nos braços e pernas podem evoluir para dormência, deixando a pessoa vulnerável a queimaduras ou lesões sem que perceba.

Outros sinais frequentes são caroços (pápulas, tubérculos e nódulos), normalmente indolores, além da diminuição ou queda de pelos, especialmente nas sobrancelhas. A pele pode apresentar infiltração, tornando-se avermelhada e com redução ou ausência de suor na área afetada.

O quadro pode incluir ainda dor, choque e espessamento dos nervos periféricos, perda de sensibilidade nas áreas dos nervos atingidos (como olhos, mãos e pés) e redução da força muscular nos membros e pálpebras. Edema nas mãos e pés, associado a arroxeamento e ressecamento da pele, também pode ser observado.

Outros sintomas incluem febre, dor articular e aparecimento súbito de caroços dolorosos, manchas dormentes, dor nos nervos de cotovelos, joelhos ou tornozelos, além de sinais no nariz, como entupimento, feridas e ressecamento. Pode haver também sensação de areia nos olhos, acompanhada de ressecamento ocular.

ABORDAGEM

A enfermeira destaca que uma abordagem acolhedora por parte dos profissionais de saúde pode fazer a diferença na vida do paciente. “O profissional de saúde deve mostrar interesse genuíno pelo problema do paciente, mantendo uma abordagem cordial e livre de preconceitos. Ele deve explicar sobre a hanseníase, destacando que a doença tem cura e o tratamento é gratuito pelo SUS. Ressaltar a importância da adesão ao tratamento para evitar complicações e resistência, além de informar sobre possíveis reações medicamentosas”, orienta.

“O paciente deve ser orientado sobre a necessidade de examinar contatos próximos, como familiares e amigos, que devem ser acompanhados por pelo menos 5 anos. Informe que ele será atendido mensalmente e terá suporte em caso de complicações. Inicie o exame clínico avaliando os nervos cutâneos e confirme alterações com testes de sensibilidade, encaminhando o caso se persistirem dúvidas. Priorize o exame clínico e utilize baciloscopia ou biópsia apenas como complementos”, completa.

No mundo, em 2022, foram registrados 174.087 casos novos de hanseníase, correspondendo a uma taxa de detecção de 21,8 casos por 1 milhão de habitantes. Índia, Brasil e Indonésia reportaram mais de 10 mil casos novos de hanseníase cada. O Brasil permanece em segundo lugar no ranking mundial em número de casos novos, o que o classifica como um país prioritário para a hanseníase pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

JANEIRO ROXO

O Dia Mundial de Combate à Hanseníase é celebrado no último domingo de janeiro (26). Esta data foi escolhida em 1954 pelo humanitário Raoul Follereau em homenagem à vida de Mahatma Gandhi, que compartilhava uma profunda compaixão pelas pessoas afetadas pela doença.

Desde 2016, o Ministério da Saúde (MS) oficializou o mês de janeiro e a cor roxa para campanhas educativas em todo o país, como um alerta para a prevenção e conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce da doença.

O projeto “Ações de enfrentamento da hanseníase no estado do Paraná”, coordenado por Pieri, trabalha a formação de profissionais de saúde, capacitação com pacientes e alunos da UEL, campanhas de sensibilização, busca ativa e formação de grupos de auto apoio. “Você pode ajudar conhecendo mais e falando sobre a hanseníase, evitando o estigma e procurando atendimento na UBS mais próxima de sua residência”, recomenda.