Foram 16 anos convivendo com a obesidade. “Tinha muita dificuldade de interagir com outras pessoas, passando a evitar a socialização devido a própria obesidade”, relembra a analista administrativa Jerlane De Morais Correa. Foi pensando em renovar a vida e na saúde que decidiu fazer a cirurgia bariátrica. “Segui à risca as orientações do médico cirurgião e fui em busca de todos os laudos necessários para a realização da cirurgia, sem desistir”, destaca.

O procedimento aconteceu em fevereiro de 2022 no hospital Mater Dei. Desde então já eliminou quase 50 quilos. “Tive que me adaptar com o novo, encarar a primeira alimentação (após a cirurgia), a temida dieta líquida durante 15 dias. Mas fui vencendo meus medos, sem dores e arrependimentos. Hoje estou saudável, vivendo meu sonho e com a qualidade de vida que só consegui com a bariátrica”, destaca.

A cirurgia bariátrica, também conhecida como redução de estômago, é o procedimento que visa auxiliar no processo de emagrecimento, combatendo a obesidade, que é considerada uma doença. O número de cirurgias no Brasil em pouco mais de dez anos aumentou 115%, segundo dados compilados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

Mas para passar pelo procedimento são necessários alguns requisitos básicos, ou seja, não é indicado para todas as pessoas acima do peso. “Tem que ter o diagnóstico de obesidade grave, ou seja, IMC (Índice de Massa Corporal) maior que 35, associado a doenças, como diabetes, pressão alta, colesterol, doenças do quadril, nas articulações. Além disso, tem que ter um tratamento clínico nos últimos dois anos, seja medicamentoso, orientação nutricional, prática esportiva regular”, explica o cirurgião bariátrico Mariano Menezes, que é uma das referências no País sobre o assunto.

A convicção pela cirurgia ainda demanda de uma avaliação multidisciplinar. “Essa avaliação integra o médico cirurgião bariátrico, um médico endocrinologista. Também precisa de uma avaliação psicológica e do nutricionista. O objetivo é para que deixemos esse paciente preparado para as modificações que virão no futuro e fazer com que ele tenha um melhor cuidado e resultado no longo prazo”, detalha.

VIDA PÓS-OPERATÓRIO

O pós-operatório também exige cuidados e é dividido de duas maneiras. “Temos o imediato, que é aquele que acontece até 30 dias depois da cirurgia, e o pós-operatório tardio, que é o depois de um mês. Até 30 dias da cirurgia é a fase de cicatrização do estômago. O paciente passa por um período de uma dieta bem restrita, que vai progredindo desde os líquidos, pastosos e, por fim, a dieta normal. Com mais ou menos 30 a 40 dias esse paciente já está comendo normalmente”, afirma.

Após este período não existe restrição alimentar para o paciente. O que muda é a forma de se alimentar, com uma dieta mais saudável aliada a exercícios físicos. “O volume alimentar será menor. Se, por exemplo, um paciente obeso tem uma refeição em torno de 500 gramas, ele vai passar a ter uma refeição em torno de 200 gramas. Já a atividade física deve ser praticada, pelo menos, quatro vezes por semana. Deve ser uma atividade de esforço não para perder de peso, mas sim ganhar massa magra”, pontua.

PERDAS

O especialista destaca que, em geral, a perda de peso nos 18 meses seguintes à cirurgia chega a cerca de 40%. “É normal o paciente perder 35%, 40% do peso e depois recuperar um pouco desse peso perdido. Por exemplo, se uma pessoa pesava 150 quilos, chega na casa dos 90 e é comum recidivar em torno de 10%, no máximo 20% do peso que perdeu, ou seja, estabiliza em torno de 95 a 100 quilos. Cerca de 85% dos pacientes evoluem desta maneira a longo prazo, que são cinco, dez anos após a cirurgia. Aproximadamente 15% podem recidivar o peso em mais de 20%”, elenca.

CONSCIENTIZAÇÃO

Nesta segunda-feira (4) é celebrado o Dia Mundial da Obesidade, data que tem como propósito conscientizar a população a respeito da doença e melhorar as políticas de combate a este problema de saúde. A principal orientação para quem está obeso, frisa Menezes, é se reconhecer como uma pessoa acima do peso e entender que é uma doença que precisa de tratamento.

“A obesidade é uma doença crônica e progressiva, de difícil tratamento. É uma doença extremamente mórbida, porque existem mais de 90 doenças associadas. Quanto mais tempo esse paciente permanece obeso, maiores são as chances dessas doenças associadas irem aparecendo. Então, quanto antes tratar esse paciente, seja de forma clínica ou cirúrgica, melhor vai ser o resultado no futuro”, alerta. “O ideal é prevenir a obesidade por meio de hábitos saudáveis de vida: prática esportiva regular, padrão alimentar, fazer acompanhamento médico”, pondera.

Procedimento é ofertado pelo SUS

A cirurgia bariátrica é realizada pela rede particular, mas também está disponível por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). Em Londrina, a Santa Casa é a referência para este tipo de procedimento, representando um dos maiores serviços públicos no Brasil. “A Santa Casa faz cerca de 400 a 600 cirurgias bariátricas no ano, o que é um número bastante expressivo”, frisa Mariano Menezes, cirurgião bariátrico e professor universitário.

O encaminhamento do paciente começa pelo médico da UBS (Unidade Básica de Saúde) para o ambulatório de cirurgia bariátrica da Santa Casa, onde vai ser avaliado com exame de sangue, ultrassom, endoscopia, cardiologista, nutricionista e psicólogo. “Esse processo pelo SUS demora, em média, um ano, um ano e meio. Feita essa avaliação esse paciente vai ser liberado para cirurgia no hospital. A cirurgia é feita tanto da forma ‘aberta’, como por vídeo. Estamos passando por um processo de transição em que o objetivo é realizar 100% das cirurgias por videolaparoscopia”, cita.

O médico garante que a operação é segura. “A taxa de complicação da cirurgia é de 1% e de mortalidade é menor que 0,1%. A cirurgia evoluiu. Existem técnicas anestésicas próprias para um paciente bariátrico. O cirurgião também melhorou, antigamente as cirurgias eram mais demoradas, hoje dura em torno de uma hora e meia. O tempo de internação médio hoje é de 36 horas, raramente os pacientes vão para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Os pacientes retornam ao trabalho em torno de 15 dias depois da cirurgia”, elenca.

Sobre a falta de nutrientes e vitaminas que a pessoa pode enfrentar, o especialista diz que depende mais de como a pessoa vai se cuidar no pós-cirúrgico do que o procedimento em si. “Quanto melhor é a adaptação do paciente no que se refere a prática esportiva regular e orientação nutricional, menores são os índices de deficiência nutricional. Já quanto pior for o acompanhamento, a alimentação, menor a prática esportiva, maior vai ser a chance do paciente desenvolver algum tipo de distúrbio nutricional futuro.”