Imagem ilustrativa da imagem Celular ou computador prejudica a visão das crianças?


Levantamento promovido pelo Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação mostra que 70% das crianças e jovens fazem uso da internet ao menos uma vez por dia. Se o número demonstra que a tecnologia está alcançando pessoas mais novas, também serve de alerta para os riscos que as telas podem trazer, em especial ao público infantil. De acordo com o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), 20% das crianças em idade escolar apresentam algum problema de visão.

O oftalmologista Luiz Eduardo Rebouças de Carvalho, membro do CBO, aponta que as crianças são mais suscetíveis ao excesso do uso de telas, como celular, tablet e computador, por estarem em fase de formação. "A principal fase que o olho desenvolve vai do nascimento até os três anos. A partir dos três anos de idade é mais lento. O comprimento do olho passa a ter equivalência do tamanho do olho de um adulto entre os oito e nove anos. Então, as telas exercem uma influência direta na visão, pois acontece modificação da lente, muda córnea, que é a parte externa do olho, e a interna, que é o cristalino", explica.

Alguns sinais indicam que o excesso no uso desses equipamentos pode estar gerando problemas à visão. "Olhos lagrimejantes e vermelhos. Quando se está entretido em determinada situação, seja vendo filme, TV ou digitando mensagem, o número de vezes que pisca diminui e provoca o ressecamento no olho e ardência. A maioria das pessoas ainda acaba diminuindo de forma exagerada o brilho da tela para economizar bateria, abaixa o contraste e aproxima mais o celular do rosto. Isto aumenta a convergência dos olhos e certamente vai causar desconforto", destaca o profissional. "O esforço contínuo causa dor de cabeça, 'peso' nos olhos e sensação de dor no fundo dos olhos", acrescenta.

Outra questão é que celulares, tablets e computadores emitem uma taxa de luz azul, o que dificulta a produção de melatonina. "É o hormônio responsável pelo sono. A luz azul é absorvida durante o dia e faz com que se mantenha mais dinâmico e atento. Absorvida no período da noite pode induzir a produção da melatonina e inibir o sono. A recomendação é não usar aparelhos eletrônicos pelo menos uma hora antes de dormir para que tenha uma qualidade de sono", indica o oftalmologista londrinense Ivan Idalgo de Oliveira, da clínica Pakao Hoyama.

MIOPIA
Os especialistas advertem que estudos mostram que a utilização das telas está associada à miopia nos países asiáticos. "Na população oriental está muito bem definido isso. Eram cerca de 40% de míopes na década de 1960 e hoje 90%", afirma Carvalho. "Não há nada comprovado ainda, mas é um indicativo que o uso excessivo de telas pode estar favorecendo que estes indivíduos desenvolvam miopia e em níveis mais altos. Estudo nos Estados Unidos aponta para o mesmo lado", acrescenta Oliveira. No Brasil não existem resultados de levantamentos conhecidos a repeito.

Pesquisa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia mostra que o número de crianças que usam óculos de grau dobrou nos últimos dez anos, passando de 10% para 20%. Destas, quatro em cada dez apresentam miopia, distúrbio que impede a visão nítida de objetos localizados ao longe. A miopia, uma vez diagnosticada, em especial em crianças e jovens, tem a tendência de aumentar, não havendo reversão natural. Ela pode estabilizar e quando adulto existe a possibilidade de cirurgia a laser. Ao notar qualquer alteração, o indicado é procurar um médico oftalmologista para avaliação.

'Melhor caminho é sempre a prevenção'
A recomendação dos especialistas é limitar o uso das telas, o que vale para todos os públicos, independente da idade. "As atividades em espaços abertos favorecem o desenvolvimento de outras áreas, não somente a visual. Se precisar passar um tempo maior no computador, por conta de um trabalho escolar ou algo do tipo, a cada uma hora que ficar na frente da tela tenha de 10 a 20 minutos de descanso. Esse descanso não é sair do computador e ir para o tablet, porque isso não muda nada. É mudar o foco, enxergando espaços mais amplos e relaxar o músculo ciliar, que é o músculo que nos faz enxergar para perto", elenca o oftalmologista Ivan de Oliveira.

Outras dicas são piscar mais vezes quando existe o ressecamento ou usar colírios lubrificantes, dimensionar a distância do celular, em que o ideal é sempre ficar a 40 centímetros dos rosto, e alinhar a tela do computador na direção dos olhos. "O melhor caminho sempre é a prevenção. É necessário usar as telas como ferramenta de auxílio e não tentar substituir atividades naturais por artificias. Existe uma inversão. Estas ferramentas são úteis e não podem ser dispensadas, porém é preciso usar com moderação e respeitar regras", ressalta
o oftalmologista Luiz Eduardo Rebouças de Carvalho, que também é médico assistente na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Consulta ao médico confirmou miopia

Giovanna de Mello: uso constante de óculos
Giovanna de Mello: uso constante de óculos | Foto: Marcos Zanutto


Giovanna de Mello Nogueira tem 13 anos e há dois meses começou a se queixar para a família que tinha dificuldade para enxergar de longe e também dor de cabeça. Um exame feito na escola onde cursa o 8º ano constatou que ela estava com alguma alteração na visão. Uma consulta ao oftalmologista confirmou a miopia. "Ela foi no início de julho ao médico, que fez os testes e receitou o óculos para ajudá-la. É grau baixo, entre 0,5 e um, entretanto terá que utilizar", relata o pai da menina, Aquilas Nogueira.

Ele conta que a filha costuma utilizar telas com frequência, principalmente no período noturno, depois que chega da escola. O médico não relacionou a miopia à utilização do celular, entretanto o cuidado será intensificado a partir de agora pelos familiares. "O que o oftalmologista disse é que ela precisa usar óculos constantemente. Seja na escola ou em casa. Vamos ficar sempre atentos para ver se está com óculos até se acostumar, também quando estiver no celular ou tablet, para não forçar ainda mais a visão", planeja.

Segundo Nogueira, o médico deixou Giovanna ciente de que a tendência é que o grau da lente do óculos aumente com o tempo. "Terá alteração no grau por um tempo até estabilizar. Apesar dela ter o olho claro, que é mais sensível, não lagrimejava, mas ela está tendo que forçar a visão", aponta. Além da garota, o filho mais de velho, de 19 anos, e ele também usam óculos. "Tenho dificuldade para enxergar o que está longe. Comecei a utilizar óculos quando tinha 22 anos. Hoje tenho 42. Não é um uso constante, porém vou ter que utilizar sempre, pois sinto que preciso", entende.