A escritora Alice Ruiz já dizia: “Depois que um corpo comporta outro corpo, nenhum coração suporta o pouco.” Todo casal que deseja ter filhos sonha com o momento de ver pela primeira vez uma nova vida pulsando dentro do corpo na imagem do ultrassom, um instante que dispensa adjetivos, e que é repleto de emoções. No entanto, nem todos conseguem viver esse momento e outros demoram mais para conquistá-los. A infertilidade e a subfertilidade afetam uma parcela significativa da humanidade. Estima-se que de 10% a 20% dos casais em idade fértil, indiferentemente das origens étnicas ou sociais, vivenciem o problema. Para Geisislaine Aleixo da Silva Balestrim, 37, e Isaac Balestrim Júnior, 39, a espera demorou 18 anos, desde 2001, ano em que se casaram. Eis que no fim de maio deste ano o casal teve as gêmeas Isabelly Vitória e Stefany Vitória.

Isaac e  Geisislaine Aleixo da Silva Balestrim:  “Em todos esses anos a gente se manteve firme"
Isaac e Geisislaine Aleixo da Silva Balestrim: “Em todos esses anos a gente se manteve firme" | Foto: Acervo pessoal

TRÊS A QUATRO EXAMES POR MÊS

Para Balestrim Júnior, o nascimento das gêmeas coroou o encontro de duas pessoas que se amam desde a adolescência. “A gente se encontrou quando ela tinha 14 anos e eu 16, mas eu era muito novo para ter qualquer compromisso. Morávamos no mesmo bairro e estudávamos na mesma escola. Ficamos três anos longe um do outro e depois nos reencontramos. O tempo se encarregou de nos unir novamente”, destacou. “Eu sempre a amei..” Depois de casados, a concepção não acontecia e a cada teste de gravidez a ansiedade aumentava. “Foram muitas tentativas frustradas. Começamos a procurar especialistas e alguns foram até desumanos com a gente.”

GRAVIDEZ PSICOLÓGICA

As quase duas décadas de espera demonstram que a missão não foi fácil. Geisi, como é conhecida entre os amigos, relatou que nunca imaginou que teria problema para engravidar. O desejo era tanto que ela chegou a ter uma gravidez psicológica. O casal é de Mandaguari (Noroeste) e consultou vários médicos durante todo esse período. “Diziam que eu estava com ovário policístico, mas eu fazia o tratamento e não adiantava . Outro especialista disse que a causa da infertilidade era meu esposo e ele fez uma cirurgia de varicocele, mas também não adiantou nada”, relatou Geisi.

Esse périplo por várias clínicas sem resultados desanimou o casal. “Me sentia vazia e vivenciar tudo isso por todos esses anos não foi fácil", desabafou Geisi. Embora nunca tenha desistido, ela relatou que estava cansada. “Parecia que não ia acontecer nunca. E muita gente maldosa
dizia coisas que machucavam e doíam. Falavam que uma árvore seca tinha que ser cortada”, relatou.

Um dia ela assistiu um rapaz pregando na igreja dizendo que o inverno de Londres faz as árvores secarem. “Quem as vê - dizia ele - acha que as árvores nunca mais terão frutos. Mas quando vem a primavera começam a surgir folhas e a árvore seca fica toda florida. Eu sentia que assim seria na minha vida. Senti esperança de novo”, revelou ela.

Por ser evangélica, ela relata que tinha receio de realizar a fertilização in vitro. “Minha cabeleireira disse uma coisa que tocou muito o meu coração, que Jesus Cristo foi colocado dentro de Maria sem relação. Foi quando aceitei fazer a fertilização in vitro.”

O casal procurou o especialista em reprodução humana Vinícius Stawinksi em agosto do ano passado. “Eles conseguiram na primeira tentativa. No caso dela a chance de sucesso oscilava entre 30% e 50%, mas isso depende de vários fatores. Grande parte das pessoas não consegue na primeira tentativa. Depois dos 44 anos a chance de sucesso cai para 4%”, observou.

“O mais legal foi a reação do casal quando o teste de gravidez deu positivo. Eles gravaram um vídeo fazendo o teste e descobrindo o resultado positivo. Foi emocionante. Para mim também é uma alegria tremenda. Cada paciente tem sua história de vida e a cada resultado positivo que a gente consegue conquistar junto é uma vitória", afirmou o especialista.

'TURBILHÃO DE EMOÇÕES'

Ele explicou que todo o processo é feito em conjunto com acompanhamento psicológico. “Hoje o tratamento é mais fácil, mas ainda é um grande processo. A pessoa vai lidar com um turbilhão de emoções e quanto mais amparada vai lidar melhor em caso de resultado negativo e, ao mesmo tempo, se a pessoa for bem amparada, dá impulso para a continuidade do tratamento e pode tornar mais fácil conseguir o positivo”, detalhou o médico.

“Em todos esses anos a gente se manteve firme. O amor nos manteve fortes e nos deu condições de realizar esse grande sonho”, ressaltou Geisi.