Quando a ansiedade se torna um transtorno que impede a realização de tarefas e compromissos é sinal de que essa emoção passou do ponto de equilíbrio. Mas é possível manter o autocontrole e reagir contra esse transtorno? No último dia 19 de janeiro, o jogador do Milan Lucas Paquetá sentiu dor no peito. No entanto, os exames não detectaram problemas cardíacos, mas um quadro de ansiedade e estresse. Ele, que era titular do clube italiano com o técnico Gattuso, não tem sido escalado desde que o treinador saiu do time e, aparentemente, não tem lidado bem com isso. O psicoterapeuta Sylvio do Amaral Schreiner destaca que o corpo e a mente são muito conectados. Embora não aponte para esse caso em especial, ele afirma que a ansiedade pode se manifestar no corpo. “Tem a ver com a aceitação de um sentimento que não é compreendido. Se não é assimilado, a pessoa sente como desconforto físico. Tudo aquilo que a mente não dá conta, o corpo acaba recebendo”, ressalta.

Segundo o psicoterapeuta, a ansiedade se manifesta de várias maneiras. “Não tem um único tipo. Trata-se de uma maneira ineficiente que a pessoa lida com um transtorno psíquico. Têm pessoas que ficam imaginando as piores tragédias e outras têm sintomas físicos. O pânico, por exemplo, é um tipo de ansiedade que causa um mal-estar terrível. A ansiedade se manifesta de acordo com a história de cada um e cada um lida de maneira diferente. ”

Ele explica que a ansiedade faz parte da vida, pois as preocupações fazem parte do cotidiano. “A grande questão é a diferença entre uma pessoa que sofre de ansiedade e outra que não passa por isso diante da mesma situação. Tem a ver com o desenvolvimento mental. Na natureza existem as tempestades e as pessoas não conseguem controlá-las, mas podem construir casas e abrigos que as suportem. Da mesma forma, a vida nos traz dificuldades e adversidades. Embora não seja possível evitar esses problemas, se a pessoa tiver uma mente preparada, consegue lidar melhor com elas”, aponta. Schreiner explica que quando não se tem essa capacidade desenvolvida, fica sujeito a enfrentar os desafios de maneira mais custosa.

O psicoterapeuta discorda do ponto de vista de que é possível se treinar para desenvolver os recursos mentais. “O corpo se treina. A pessoa pode ir a uma academia para se fortalecer e ganhar saúde. Mas na mente não é questão de treinar, mas de se conhecer. À medida que isso ocorre, a pessoa consegue identificar nos seus desejos o que se pode realizar e o que não pode. Assim, ela saberá como lidar com suas frustrações e como reagir impulsivamente”, destaca.

Se a pessoa tiver um bom desenvolvimento mental, aponta ele, muitas vezes consegue sair sozinha da adversidade que causou a ansiedade. “Para cada um, as situações provocam diferentes reações, conforme sua história de vida, cuja característica foi se criando ao longo dos anos. Para uma pessoa, ao ver uma borboleta, pode gerar pânico porque pode representar uma tragédia que ela viveu. Para outra, essa mesma borboleta provoca admiração. Não significa que a borboleta representa uma tragédia, mas é um gatilho”, explica.

Segundo ele, é preciso saber separar como duas pessoas reagem à mesma situação. “Uma pode reagir de determinada forma e a outra tem o tempo dela para descobrir como reagir e como ser eficiente diante desse quadro”, destaca Schreiner.

Caminho para a superação está dentro, não fora, diz psicólogo

Técnicas de relaxamento, como respiração e meditação, não são a forma mais eficaz para superar os momentos de tensão que desencadeiam a ansiedade, segundo o psicoterapeuta Sylvio do Amaral Schreiner. A solução a essa questão, explica, não se busca fora. “Ele precisa identificar o que é esta coisa. Mais do que qualquer técnica de relaxamento, esse sentimento se originou de algum lugar e é preciso entender isso, seu significado”, aponta. “Pode ser utilizado, mas é só um alívio. É uma gota d’água em um oceano perto do que a pessoa precisa. Não adianta nada ficar só na gota d’água. É preciso buscar na sua estrutura interna o entendimento do que está acontecendo”, argumenta.

O mesmo se aplica à alimentação e atividade física. “Mais do que ficar procurando comer isso, comer aquilo, se exercitar de tal forma, a pessoa precisa cuidar de sua mente. Aquela que fica procurando só boa alimentação e assistir determinado programa de tv para relaxar, não percebe que o negócio é dentro dela”, aponta Schreiner.

Para isso, ele ressalta que existem várias possibilidades. “Pode fazer atividade prazerosa que permita esse autoconhecimento, que podem ser desde artes até hobbies. Mas esse autocuidado deve ir até o momento em que a ansiedade se tornar patológica. “A própria pessoa sabe quando isso ocorre. Não tem meio termo. Ela vai sentir que está pagando alto, pois não estará mais vivendo. Ela não sentirá mais prazer pela vida. Tudo demanda muito e não há mais qualidade de vida”, destaca.

Sobre as pessoas que buscam respostas em livros de auto-ajuda, ele afirma que as respostas para o problema não estão nas páginas dos livros. “ É de cada um. Cada um reage de um jeito, mas os livros não trazem uma solução mágica. A pessoa pode ficar inspirada com o que leu e isso pode permitir que ela tenha a sua própria experiência, talvez com inspiração através do livro, se souber lidar de maneira boa”, aponta.

Mas ele ressalta que a melhor alternativa para sair do problema é a análise, que pode tornar mais fácil domar a mente, afastando pensamentos ansiosos. “A análise permite que a pessoa identifique qual a melhor ação para se defender.” Para aqueles que vivenciaram uma situação traumática, como um assalto ou estupro, e sentem pânico ao se depararem com situações ou ambientes semelhantes ao do episódio, o psicoterapeuta destaca que é preciso entender que agora é outro tempo. “O problema da pessoa ansiosa é que ela vive constantemente a tragédia. O episódio deixou uma marca negativa e gerou uma tristeza, mas é preciso perceber que ficou no passado.” Ele ressalta que é preciso entender o que se passa para conseguir superar o problema.