"Quando cai a temperatura eu sinto bem mais. Nesse período as juntas travam; é terrível", afirma Adimir Rodrigues dos Santos, diagnosticado com a doença há 30 anos
"Quando cai a temperatura eu sinto bem mais. Nesse período as juntas travam; é terrível", afirma Adimir Rodrigues dos Santos, diagnosticado com a doença há 30 anos | Foto: Roberto Custódio


A artrite reumatoide é uma doença sem causa conhecida e estima-se que 1% da população mundial seja atingida – no Brasil são cerca de 2 milhões de pessoas.
A doença surge principalmente entre pessoas com idade entre 40 e 60 anos, e incide duas vezes mais em mulheres do que homens, especialmente aquelas que estão saindo da menopausa.

No entanto, existem casos que fogem desse perfil. O analista contábil Adimir Rodrigues dos Santos, 57, conta que aos 26 anos, quando residia em São Paulo, sentiu muitas dores no quadril enquanto caminhava. "Fui diagnosticado com artrite reumatoide em 1986. O médico achou melhor eu sair de lá, porque as condições climáticas eram muito ruins. Ele recomendou que eu me mudasse para uma cidade mais tranquila e com condições de cuidar melhor de minha saúde", relembra Santos.

Em 1987 ele veio para Londrina, aproveitando que seus pais residiam na cidade, e começou a fazer o tratamento no Hospital Universitário. "Na época fiquei abatido, entrei em depressão. Ninguém na minha família tinha essa doença", conta. Mesmo realizando o tratamento, começou a sentir muitas dores nas juntas, principalmente nas mãos. "Acabei me aposentando por invalidez em 1989. Deixei de realizar atividade física, como caminhar e correr. Os passeios se tornaram mais irregulares. Hoje faço isso bem pouco", relata.

Uma pesquisa global com pacientes com artrite reumatoide ("RA: Join The Fight") - uma iniciativa da indústria farmacêutica AbbVie- apontou que 65% das pessoas com artrite reumatoide participam de organizações de pacientes ou grupos de apoio, incluindo os informais e comunidades online; e nove em cada dez aprenderam com a experiência de outros pacientes. No caso de Santos não foi diferente. Sua vida foi transformada subitamente e pairavam muitas dúvidas sobre a doença. Para tentar trocar informações com outros pacientes ele fundou um grupo de apoio para quem sofria do mesmo mal.

"Fui o fundador do Grupalon (Grupo de Portadores de Artrite Reumatoide de Londrina) com a reumatologista Margarida de Fátima Fernandes, em 1998. Criei por necessidade de trocar informações médicas, sobre fisioterapia, nutrição e psicologia. Infelizmente não deu para continuar e o grupo durou apenas dois anos, porque todos querem ser ajudados, mas ninguém quer ajudar o grupo e isso começou a me sobrecarregar", lamenta Santos. Atualmente ele participa de grupos de uma rede social para poder trocar essas informações.

ATACAR CÉLULAS
Segundo o reumatologista Dawton Torigoe, de São Paulo, a artrite é uma doença autoimune em que o próprio sistema imunológico da pessoa começa a "atacar" as células e tecidos do próprio organismo.

"Não está bem estabelecida a causa, mas sabe-se que fatores genéticos tornam mais frequentes a incidência da doença e ela pode ser desencadeada também por fatores ambientais externos. O tabagista, por exemplo, tem mais chance de ter artrite reumatoide. Se tem algum caso na família, não fume. A exposição a alguns vírus e bactérias também pode desencadear a doença em algumas pessoas", aponta o especialista.

Santos, por exemplo, era fumante e abandonou o cigarro em função da doença. "Não acho que no meu caso isso tenha sido o fator determinante para desencadear a doença, mas parei de fumar para que os sintomas não evoluíssem ainda mais", observa.

Santos relata ainda que no frio sente mais dores. "Quando cai a temperatura eu sinto bem mais. Nesse período as juntas travam. É terrível", explica. Segundo o especialista, o aumento dos sintomas no frio não é uma regra. "Alguns pacientes acham que pioram, alguns melhoram no frio."

O reumatologista aponta ser importante procurar o tratamento com um especialista o mais rápido possível, assim que sentir os primeiros sintomas. "Quanto mais rapidamente você trata, melhor a resposta no futuro. Se dividirmos as pessoas com a doença em dois grupos, um que começou a tratar em duas semanas depois dos primeiros sintomas e outro que começou a tratar dois meses depois disso, mesmo que os dois recebam os mesmos remédios, o que iniciou o tratamento mais cedo vai evoluir melhor ao longo dos anos", observa.

Segundo ele, o tratamento hoje consiste fundamentalmente no uso de quimioterápicos, imunossupressores, como os utilizados no tratamento de alguns tipos de câncer, mas em doses mais baixas. "Também se usa muitos corticoides, em doses bastante baixas. Já os anti-inflamatórios são usados por períodos curtos de tempo, pois a doença é crônica e eles geram muitos efeitos colaterais, pois atingem o fígado, o rim e o estômago, que pode apresentar sangramento. Além disso, o uso de anti-inflamatórios aumenta o risco de infarto", alerta.

Imagem ilustrativa da imagem Artrite reumatoide atinge 1% da população



30% não respondem ao tratamento inicial

A reumatologista Adriana Maria Kakehasi, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista em Reumatologia pela Sociedade Brasileira de Reumatologia, destaca que existem medicamentos com o mesmo mecanismo de ação e outros que agem de forma diferente. "Há um fluxograma de tratamento e cerca de 30% dos pacientes não respondem ao tratamento inicial. Eles precisam fazer uma progressão do tratamento e a disponibilidade de medicamentos que agem de forma diferente facilita o tratamento. Isso porque caso o paciente não responda a um medicamento, pode haver resposta com outro. Além disso, existem pacientes com contraindicações a um determinado tratamento", explica.

O analista contábil Adenir Rodrigues dos Santos, que está aposentado por invalidez em função da artrite reumatoide, confirma que muitas vezes o paciente não se adapta a determinado medicamento. "Eu, por exemplo, tenho alergia a um medicamente e preciso usar outro. Se tivesse que comprar na farmácia teria de pagar R$ 7 mil a ampola e eu tomo quatro delas a cada seis semanas. Eu não teria condições de comprar se eles não fossem fornecidos pelo governo. Eu travaria na cama", aponta.

Santos pede que o governo autorize com mais agilidade e em mais vezes os tratamentos alternativos, como a acupuntura. "Para mim a acupuntura ajuda muito, mas no SUS (Sistema Único de Saúde) a espera é imensa. Eu acabo fazendo uma vez por semana por conta própria", expõe.

Dúvidas mais frequentes sobre a artrite reumatoide

Artrite reumatoide é uma doença de gente velha
MITO. A artrite reumatoide é uma doença autoimune, ou seja, causada por nosso próprio organismo, e pode acometer pessoas de qualquer idade. "Na forma adulta o pico de incidência é entre os 35 e 50 anos, mas existe também uma forma chamada artrite reumatoide juvenil, que ocorre abaixo dos 16 anos de idade", explica o reumatologista Cristiano Zerbini.

Ela não tem cura
VERDADE. Ainda não se conhece uma cura, por isso os médicos têm como objetivo, no tratamento da AR, a remissão da doença – eles procuram tratar o paciente de forma que conviva bem com a artrite reumatoide. "O médico não pode oferecer a cura, mas sim o controle. É como o diabetes, há que se ter um cuidado durante a vida toda para manter a doença sob controle", compara o médico reumatologista Roger Levy. Seguindo à risca o tratamento e as orientações médicas, é possível ter uma vida comum, sem dores, inchaços e limitações.

AR não é uma doença grave
MITO. Se não for tratada devidamente, pode causar muita dor, deformidades nas articulações, fadiga, fraqueza e incapacidade física. "Além disso, quem tem artrite reumatoide tem uma mortalidade maior do que a população em geral. Isso em virtude principalmente de complicações cardiovasculares. Os pacientes têm mais infarto que as outras pessoas", afirma o médico reumatologista Dawton Torigoe. Por isso é fundamental tratar da AR com a seriedade necessária, e sempre fazer acompanhamento médico.

Quem tem artrite reumatoide não deve se exercitar
MITO. Ao contrário do que muita gente pensa, atividades físicas são recomendadas. "Costumo indicar para meus pacientes que se exercitem, façam hidroginástica por exemplo", conta a médica reumatologista Anna Ney. "Ele deve usar calçados adequados, pode usar uma bengala como apoio para caminhar, mas deve fazer atividade física", completa. A atividade física ajuda a fortalecer a musculatura e lubrificar as articulações. "Fortalecendo a musculatura, você fica com menos carga nas articulações, e, assim, sente menos dor", explica. O paciente deve evitar, porém, as atividades físicas de alto impacto.

Todo mundo que tem AR fica inválido
MITO. A doença se manifesta e se desenvolve de maneira diferente em cada indivíduo. Em alguns, a doença é mais agressiva, e em outros, mais branda. "Estimamos que cerca de 70% dos pacientes tenham a forma mais agressiva da doença, e 30% a forma mais branda", explica Dawton. Com tratamento adequado, a doença é controlada e o paciente pode viver uma vida normal por muitos anos.

Quem tem a doença não pode trabalhar
Mito. Muitas pessoas que não tratam direito da AR acabam ficando inválidas, como já dissemos, e por isso não podem trabalhar. Mas o simples fato de ter artrite reumatoide não é um fator incapacitante. Com os cuidados necessários e acompanhamento médico, o paciente pode sim viver uma vida produtiva.

É uma doença mais comum em mulheres
VERDADE. Embora a artrite reumatoide possa acometer também homens e crianças, ela é mais comum entre mulheres adultas, entre 35 e 50 anos. "A cada 3 mulheres que tem Artrite Reumatoide, apenas 1 homem é acometido pela doença", explica o médico Cristiano Zerbini.

Artrite reumatoide, artrose, reumatismo é tudo a mesma coisa.
MITO. A artrose e a artrite reumatoide são doenças reumatológicas que atingem as articulações. A artrose é um desgaste das articulações, que acontece com o avançar da idade e tem como agravante a obesidade. "A artrite reumatoide é uma doença autoimune, ou seja os anticorpos são os responsáveis por agredir constantemente as articulações, provocando deformidades", explica a reumatologista Patricia Barinotti. As doenças são diferentes e devem ser tratadas de forma diferente, com constante acompanhamento médico.

Fonte: Movimento Despertar/ AbbVie