A segurança das vacinas é o principal argumento de grupos de pessoas contrárias à imunização. Esse movimento conhecido como antivacina ganhou corpo em 1998, quando foi publicado um artigo relacionando vacinas e autismo. O texto foi retirado do ar por ser totalmente equivocado e errôneo, mas já era tarde demais. Muita gente se apropriou dessa desinformação e teorias duvidosas a respeito da segurança das vacinas começaram a circular.

Pesquisadora garante que vacinas disponibilizadas comercialmente são seguras, pois passaram por testes de segurança
Pesquisadora garante que vacinas disponibilizadas comercialmente são seguras, pois passaram por testes de segurança | Foto: iStock

Mas a professora e pesquisadora do Departamento de Patologia Básica da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Lucy Ono, garante que as vacinas disponibilizadas comercialmente são seguras, pois passaram por testes de segurança em diferentes etapas de avaliação em animais de experimentação (testes pré-clínicos) e em humanos (testes clínicos) para serem aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercialização.

“Isso não significa que elas sejam isentas de possíveis efeitos adversos, mas esses devem ser baixos se comparados com as consequências da infecção pelo microrganismo selvagem, que causa a doença. Os mais comuns e aceitáveis, dependendo da vacina, são dor no local da aplicação e febre baixa”, diz a pesquisadora, que há 15 anos se debruça em pesquisas na área de drogas antivirais (vacinas), voltadas para o tratamento de infecções virais,

LISTA DA OMS

Porém, ela reconhece que a falsa associação das vacinas com autismo tem levado uma parcela da população a se recusar a vacinar as crianças. O impacto disso é tão negativo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) listou a hesitação às vacinas como uma das dez ameaças à saúde global.

Em 2019, a Avaaz (rede para mobilização social global) e a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) realizaram o estudo “As Fake News estão nos deixando doentes?”, com o objetivo de investigar a associação entre a desinformação e a queda nas coberturas vacinais.

O trabalho apontou que aproximadamente sete a cada dez brasileiros acreditam em alguma informação falsa relacionada à vacinação. Foram entrevistadas duas mil pessoas acima de 16 anos, em todo os estados e no Distrito Federal, respeitando as características demográficas do país.

FAKE NEWS

Dos respondentes, 87% disseram nunca ter deixado de se vacinar ou de vacinar uma criança sob seus cuidados. Apesar do bom índice, quando os 13% de não vacinantes são extrapolados para toda a população com 16 anos ou mais, ele passa a representar um contingente de mais de 21 milhões de pessoas.

“O motivo que leva as pessoas a não se vacinar no Brasil nessa população geral é não acreditar na doença, não temer a doença ou não perceber o risco. Enfim, um cenário multifatorial onde a fake news tem um papel importante, porque esses 13% que deixaram de se vacinar, foram os principais impactados por essas falsas notícias”, avalia a vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai.

DISTRIBUIÇÃO

Ono, que integra a Comissão de Acompanhamento e Controle da Propagação do Novo Coronavirus na UFPR, acrescenta que as notícias falsas têm seu papel na queda das taxas de imunização na população, mas não é o principal fator responsável no Brasil.

“Devemos considerar também dificuldades de distribuição, que não são as mesmas em todas as regiões do Brasil, e menores recursos aplicados à área de Saúde ao longo dos últimos anos”, pontua.