Pensar na fase da adolescência leva Angela Bley, coordenadora do serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, a destacar três características: a imaturidade da estrutura neurológica, o sentimento de invulnerabilidade e a impulsividade. "Dependendo do indivíduo, ele ainda não consegue ter uma análise de consequência. Então, é muito importante que o adolescente tenha uma liberdade supervisionada porque ele, por enquanto, não dá conta de lidar com todas as questões", aponta.

A psicóloga Keylla Garbuio observa que o adolescente não adoece sozinho, mas por diversos fatores que falham. "O adolescente é como se fosse sintoma do adoecimento familiar e social", diz. Ela afirma que grande parte dos adolescentes tem a sensação de não serem compreendidos e, muitas vezes, quando se abrem com os pais o ponto de vista dos adultos é o que prevalece. "E também quando se ouve, muitas vezes há negligência até mesmo pelo fato de não saber o que fazer."

No dia a dia do Centro de Atendimento Psicossocial à Criança e Adolescente (Caps) em Londrina, Keylla comenta alguns pontos em comum nos atendimentos, como dificuldades de diálogo em casa e a sensação de não compreensão e percepção dos pais. "A série (13 Reasons Why) foi então, para muitos, um fator de identificação. Eu mesmo só tive contato com o seriado após dois pacientes relatarem que não estavam se sentindo bem após terem assistido. Enquanto um apontou uma identificação com a solidão e o sofrimento da garota, outro foi na responsabilidade de praticar o bullying", diz.

Keylla diz que os pais podem, diante do desejo dos filhos, até assistirem juntos e aproveitar alguns momentos para conversar. A psiquiatra Carmita Abdo afirma que é impraticável evitar o acesso a esse tipo de conteúdo e por isso defende que uma contrapartida por meio de uma conversa. "É uma proximidade real com a criança ou adolescente para que eles possam fazer essa distinção entre o que é ficção e até onde ela pode ir sem colocar em risco sua vida", finaliza. (M.O.)