Quando o assunto é envelhecer, o brasileiro é contraditório. Ao mesmo tempo, a maioria da população sonha em viver aproximadamente um século, mas carrega medos e dúvidas sobre a vida após os 60 anos. Na última quarta-feira, a empresa farmacêutica Pfizer divulgou uma pesquisa sobre as percepções dos brasileiros de diferentes faixas etárias sobre a velhice durante o lançamento da campanha "Envelhecer sem Vergonha", em São Paulo, para discutir a qualidade de vida após a aposentadoria.
Segundo o diretor médico da Pfizer Brasil, Eurico Correia, 989 pessoas das classes A, B e C de todo o País, com idades entre 18 e 61 anos, responderam perguntas sobre saúde e bem-estar, família e relacionamentos, amor e sexo, dinheiro e carreira, envelhecimento e sociedade e estilo de vida e viagem. De acordo com a pesquisa, apenas 9% dos entrevistados afirmaram não ter medo de envelhecer. No entanto, ao serem questionados sobre a expectativa de vida, 35% revelaram que esperam viver de 76 a 85 anos, e 46% estimam os últimos dias com idades entre 86 e 120 anos. "Apesar dos temores, o brasileiro quer viver bastante. Mas, o baixo número de pessoas sem medo da velhice mostra que existe alto grau de receio e ansiedade no processo de envelhecimento. O foco da pesquisa de opinião e até o seu ineditismo está em mostrar quais são as percepções das diferentes idades", afirma o médico. Entre a faixa etária de 18 e 25 anos, a ausência do medo de envelhecer é ainda menor. Só 4% responderam que não tem nenhum temor de ficar mais velho. Conforme o levantamento, problemas de saúde (77%), limitações físicas (72%), memória ruim (65%), solidão (57%), preocupações financeiras (52%) e menos energia (52%) são os principais temores dos brasileiros sobre o envelhecimento.
A gerontologista e coordenadora executiva do Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável (Cies), Andrea Prates, lembra que houve um "bônus de longevidade" com o aumento da expectativa de vida no Brasil em decorrência dos avanços na saúde. "Nunca é tarde para começar a inserir hábitos saudáveis. Até a pessoa que inicia uma atividade física aos 70 anos pode reduzir a chance de mortalidade em 40%", afirma. Ainda de acordo com ela, o processo de envelhecimento é individualizado, principalmente a partir dos 65 anos, e reflete as opções, os estilos e os cursos da vida. "A pessoa atinge o ápice da capacidade funcional, que representa independência e autonomia, na fase adulta, mas é possível diminuir o declínio até a velhice. A ideia é postergar doenças e incapacidades para os últimos anos de vida. Além disso, as adaptações dos ambientes também preservam a autonomia e independência do idoso", comenta. A pesquisa revela que 70% afirmam que para envelhecer bem há necessidade de planejar a velhice e entre as principais ações estão os cuidados com a saúde preventiva (39%), alimentação saudável (36%) e prática de atividade física (35%).

SAÚDE MENTAL


Além do cuidado físico, a saúde mental é outro ponto considerado fundamental para o envelhecimento com qualidade, principalmente por causa das mudanças no cotidiano como a saída dos filhos de casa e a aposentadoria, o que pode contribuir com quadros depressivos. "O corpo e a mente são indivisíveis na vida. Idosos com problemas físicos são mais suscetíveis a problemas como a depressão", acrescenta a psiquiatra Rita Cecília Ferreira, responsável pelo Programa da Terceira Idade, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
Ela aconselha que o idoso continue ativo no trabalho e no lazer em busca de atividades prazerosas nas duas áreas. Além disso, ele deve procurar aprender coisas novas e criativas relacionadas a artes, como música, teatro, dança, pintura e escultura. "Antes, a pessoa não tinha oportunidade e tempo para aprender, mas sempre teve vontade. Na velhice é possível realizar antigos sonhos, como tocar violão e pintar quadros, por exemplo."
A médica ressaltou a importância da família e o convívio social para apoio e suporte do idoso e também dos parentes. "Hoje, muitos avós ajudam na educação dos netos e financeiramente os filhos, quando passam por dificuldades, como desemprego", avalia. Rita ainda lembra que as redes sociais e a tecnologia também auxiliam no contato com a família e no resgate de antigas amizades.